DIX-SEPT.

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Bianca.

Havia se passado o resto daquela tarde. Anoiteceu, eu fui deitar.

Não adiantou nada. Eu só pensei, pensei e pensei. Vi o dia amanhecer.

Eu não entendo os motivos de Mariana ter saído pela porta num súbito que mal a permitiu olhar para trás uma última vez. Nem para se despedir.

Questionei ela. Questionei eu. Questionei o beijo.

Havia sido só um beijo. Mas havia sido, também, uma explosão de sentimentalismo, de desejo e de realização.

A física explica a gravidade como uma força exercida entre dois objetos. A força que paira entre a distância de um ao outro. Quanto mais massa um objeto tem, mais perto e maior a força de atração entre esses mesmos objetos.

Gravidade. O corpo de Mariana exercia uma força de atração contra o meu. E eu circundava ao redor dela. Marina era atrativa demais. Seu corpo era um objeto, e o meu, outro. Era impossível escapar daquela força.

Acontece que, entre querer e fazer, existia uma distância maior do que a de nossas bocas segundos antes de nos beijarmos. E eu não sabia lidar com as dificuldades que um simples ato poderia trazer. E eu deveria ter responsabilidade afetiva com ela.

Mas como em tudo, até nisso eu sou dividida por dois extremos. Um diz para eu ser responsável, que eu estou aqui temporariamente e que ela é modelo da minha campanha. E o outro diz para que me arriscar, afinal, só se vive uma vez, e tudo bem tentar, testar e arriscar. Mas, sou sempre pega pelo questionamento de que para ser o segundo extremo, eu tenho que envolver apenas: eu. O outro e os sentimentos do outro não devem ser tratado como eu trato os meus.

Mas e se estiver realmente tudo bem tentar? Mesmo que não esteja tudo bem agora entre eu e Mariana, caso contrário, ela estaria aqui, certo?

Eu preciso resolver isso.

O dia amanheceu, eu cochilei um pouco. Acordei com os mesmos questionamentos.

O dia se arrastou. Primeiro sai para tomar café numa padaria perto de casa, estava sem ânimo para preparar nada. O café foi silencioso e quieto, não levei o celular. Queria apenas a minha companhia. Queria apenas os meus pensamentos e o meu café.

Percebi que relutei demais. Fiz rodeio demais. Apenas para constatar o óbvio: eu queria Mariana. E eu não estou entrando no mérito de sentimento. Apenas atração. Eu sentia atração e por enquanto, era só. E tudo bem, não?

Além de tudo, nossa relação se estabelecia pela dedução. Nós tínhamos conseguido estreitar a amizade em alguns aspectos, no enquanto, ficávamos apenas na margem. E para entender Mariana, eu precisava entrar no mar. Eu precisava, além de molhar o pés, mergulhar. Mariana não me diria nada se eu não me aproximasse, se eu não me fizesse presente ou se não estivesse, simplesmente, lá.

Eu gostava de sua amizade, e constatar que a relação precisava de mais, me animou. Eu quero conhecê-la. E isso vai além de querer beija-la.

Enfim, desde ontem eu só pensava. Logo após o almoço, fiquei sem muito o que fazer. Encarreguei o Miguel de ver todas as pendências e me encaminhar no final da noite para que no dia seguinte eu resolvesse.

Fiquei sem nada pra fazer e ao mesmo tempo, sem cabeça para trabalhar.

Peguei o celular e disquei o número que começava com o código +33. O código da França.

— Boa tarde, Bia. Esta tudo bem? — A ligação começou com Mariana.

— Oi, Mari. É... — respirei. Não sabia ao certo o que pretendia com a ligação. — tudo sim, e com você?

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