Quando os primeiros raios solares entraram em contato com a face de Eklesia, ela pode constatar com imensa alegria que sua fuga do casarão de apostasia não fora um sonho, sim, ela estava livre, pensou enquanto segurava em seu colar com força. A jovem então se levantou e passou a olhar em sua volta, temia ter invadido a propriedade de alguém, e principalmente que esse alguém fosse um tirano assim como Lucius. Ignorando seu temor se pois a explorar o lugar que descobriu se tratar de uma grande e farta Seara, porém constatou com tristeza que apesar de bela, existiam alguns grãos de trigo que já passara do tempo de ser colhido, e outros se encontravam secos pela praga.
— Desde o solo ao plantio, tudo aqui é feito da melhor forma e cuidado, porém a Seara é grande demais e infelizmente os trabalhadores pouco dispostos... — Um senhor de meia idade e aparência gentil aparece assustando a jovem, que responde no impulso.
— Rogai pois ao Senhor desta vasta terra para que mande trabalhadores para a seara...Oh me perdoe! Não era minha intenção invadir suas terras, nem sei porque disse isso... — Se apressa em se desculpar mais é interrompida com um simples aceno de mão.
— Não se desculpe, te digo que essas palavras lhe foram reveladas! Essas terras afinal nem minhas são! — Diz enquanto contempla o vasto horizonte, mais se volta para ela rapidamente estendendo as mãos em um gesto amigável. — A propósito me chamo Evangelho, e a senhorita como se chama?
— Sou Eklesia. — Responde enquanto faz uma careta de dor que não passa desapercebida para os olhos atentos de Evangelho. — Mais... desculpe perguntar senhor, a quem pertence essas terras?
— Ao Rei Theo é claro! — Suas resposta é direta, fazendo a dor no peito de Eklesia se intensificar, de saudades e culpa. — Afinal tudo aqui pertence a ele! Mais a senhorita não me parece bem... ande, vamos para dentro, minha esposa cuidara de você!
Ela então caminhou com dificuldade até uma casa humilde porém com o interior impecavelmente limpo, onde uma senhora muito distinta se apressou em acomoda-la em um dos quartos de hospedes, trazendo compressas e balsamo para aliviar sua dor, a senhora em questão se chamava Graça e era esposa de Evangelho, os dois não fizeram perguntas apenas trataram de servi-la com o melhor que tinham em casa, era assim que costumavam agir com todos que vinham até eles.
— Como vocês podem tratar tão bem alguém que provavelmente está infectada com a praga Iníquos?— Por conhecer a praga Eklesia sabia muito bem quais eram seus sintomas, ela a pegara assim que caiu no atoleiro semanas atrás enquanto fugia pela noite do castelo. — Não sentem medo de se contaminarem?
— Nosso maior exemplo foi do próprio Rei Theo que anos atrás adotou uma linda criança que havia contraído a praga. — Quem respondeu foi Graça com os olhos brilhando. — Lembra-se como como o Rei costumava falar sobre ela todos os dias com você Evangelho ?
— Costumava não... - Evangelho bate com as mãos na coxa enquanto ri de forma divertida. — Não há um dia que ele e Paráclito não falem dela, principalmente agora...
Sua expressão muda de repente e Eklesia se sente desconfortável com esse assunto, uma hora ou outra teria que contar toda a verdade para aquele casal amável que a acolheu tão bem. Ela então se pois de pé com dificuldade e foi até a janela pensando em uma maneira de abordar o assunto, temia ser rejeitada por eles, julgada por suas ações que lhe trouxeram tantas consequências, tanto a doença que carregava no corpo, como a humilhação que carregava em seu peito.
— Preciso confessar algo... — Diz de maneira quase inaudível com as lágrimas já embaçando sua visão. — Eu... eu...
— Filha, não te julgaremos de maneira nenhuma pelo que tem de nos contar! — Graça vai até a jovem enquanto a mesma se permiti cair em seus braços de tanto chorar, chorar por uma dor diferente de tudo que já sentiu até ali, nem os castigos de Lúcius conseguira fazer com que a jovem sentisse o que estava sentindo nesse momento. — Conte, limpe sua alma!
A jovem então se pois a contar tudo, desde como sempre desejou sair do palácio, como encontrou Lucius pela primeira vez na feira do deleites, Graça e Evangelho apenas escutavam, mais quando o relato chegou na hora em que ela se recusou a abrir sua porta para Paráclito e fugiu do palácio caindo no atoleiro, ela pode ver lágrimas brotando em seus olhos. Ela contou então como foi aprisionada após descobrir que Lucius na verdade era Helel, o grande inimigo e traidor de seu Pai Theo, contou também sobre seus açoites, castigos, e como foi privada de se alimentar durante semanas, quase caindo morta.
— Eu... eu Trai Emanuel! Como me arrependo por isso, não acho jamais que serei perdoada, Helel sempre fez questão de jogar isso em minha cara e temo ser verdade! — Terminou seu relato limpando as lágrimas que caíram livremente pelo seu rosto.
— Não mais se lembres de seu passado minha querida, nem mais consideres seus antigos feitos, eis que seu Pai pode fazer tudo novo de agora em diante, apenas se aproxime confiantemente ante o trono, ele vai te aceitar! — Evangelho diz sabiamente. — Helel não faz outra coisa a não ser mentir, sua natureza caída e orgulhosa se recusa a entender que Theo é o Rei mais misericordioso que Terreno poderia ter, temo em dizer que ele apenas a usou para atingir seu pai!
— Agora entendo o porquê de sempre ouvir sobre não estar preparada para sair do castelo! Vocês acham que ele vira atrás de mim novamente? — Pergunta temerosa por saber que não saberia se defender de suas investidas sozinha.
— Com certeza minha querida! - Evangelho responde enquanto se levanta do lugar onde estava. — Por isso precisa voltar para casa o quanto antes...Mais agora vamos nos preparar para dormir, já está tarde e á noite foi feita para descansar.
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Eclesia
SpiritualEklesia foi achada suja e coberta por uma praga chamada Iniquos, Rei Theo a adotou e a colocou sobre os cuidados de Paráclito. Agora já limpa e com todas as regalias de uma princesa, teria Eklesia coragem de jogar tudo isso para o alto em busca de s...