Reino Celestial - Hora terceira
A sala do trono permanecia em silêncio enquanto todos ali presente assistiam a jovem Eklesia padecer nas mãos de Lúcius, esperando uma intervenção de seu Rei. Porém Ele nada fez, apesar de que em seus olhos podia se ver lágrimas expressando claramente o quanto estava sofrendo.
As grandes portas são abertas e Miguel adentra o lugar com um expressão solene de quem entendia muito bem o que se passava no coração de seu soberano, ele mesmo se encontrava em grande pesar, afeiçoara-se aquela jovem, e quando a viu fugindo e caindo nas artimanhas do inimigo quis ele mesmo intervir, porém sabia que sem a ordem do grande regente nada poderia fazer.
— Meu Rei... — Faz a devida reverência ainda que suas mãos continuaram na bainha de sua espada, um hábito que adquirira na batalha. — O Príncipe Emanuel deseja falar-lhe, assim como Paráclito que acaba de chegar.
— Mande que entrem! — Gritou em voz potente para os guardas da porta.
Theo então se levanta de seu trono e vai ao encontro dos dois. Pai, filho e Paráclito no mesmo ambiente, compartilhando da mesma dor, mais foi Emanuel que se manisfestou primeiro.
— Meu Pai! Eu a perdôo, perdôo aquela que escolhi como noiva! Haveria ainda uma chance?
— Sempre há meu filho, enquanto houver verdadeiro arrependimento!
— Ela se arrependeu! — Paráclito enfim se manifesta. — Eu vi e senti como foi verdadeiro! Confie em meu julgamento meu irmão!
— Eu confio!
Um burburinho então se é ouvido do lado de fora da porta e dessa vez é Lúcius Helel que adentra ao lugar sem sua costumeira pose, pois não ousava sentir nada que temor e tremor ante as figuras a sua frente.
— O assunto que me fez subir a Celestial é de suma importância! — É direto em suas palavras, não gostava de ficar no mesmo ambiente do grande Rei e seu filho. — Eklesia sua filha me pertence por direito!
— O único direito que tens Helel é de voltar para Geena, de onde nunca deveria ter saído! — É Emanuel que se pronuncia, fazendo-o recuar. — Eklesia é minha noiva e nosso compromisso é irremediável!
— Com todo respeito meu príncipe, mais a sua noiva se portou como uma meretriz! Não foi ela que vestiste com roupas bordadas, calçando-a com a couro da melhor qualidade, cingindo com linho e cobrindo-a de seda. Não foi ela também que decorreste a fama por tamanha beleza, enquanto seu coração voltava-se contra ti, traindo-o com o primeiro que encontrou pelo caminho agindo assim levianamente? Devo lembrar-lhe sobre sua irmã maior Samaria e a menor Sodoma!?
— Sobre suas irmãs, eu mesmo terei com elas e as perdoarei! Permiti e deixei que sobre meus olhos, minha noiva cometesse toda sorte de imundícia que estava sobre seu coração. Mais me lembrei da aliança que estabeleci nos dias de sua mocidade, aliança eterna e inquebrável, nesse dia ela também se lembrou de seus caminhos e em vergonha e humilhação voltou arrependida. Posso eu com todo o amor que guardo em meu peito abandona-lá ou pensar mesmo que secretamente em deixá-la para ti, um ser vil e enganador!?
— Devo lembrar-lhe novamente meu Príncipe e a ti também Rei dos reis, o que a tua própria lei diz no livro do profeta Ezequiel artigo 18° parágrafo 4° “A alma que pecar certamente morrerá” Se Theo não poupou nem mesmo os anjos quando pecaram, lançando-nos em Geena na escuridão do abismo. — Sorriu ao encarar o Rei, imerso em lembranças de sua queda. — Porque pouparia Eklesia, a filha que nem filha realmente é, se não uma bastarda que tem como pai um Amorreu e como mãe uma Heteia, povos de corações duros descendentes de Cananeus!
Paráclito então se aproximou de seu irmão com o propósito de interceder com lágrimas e gemidos pela vida daquela que tanto amou e cuidou.
— Oh irmão meu, o acusador lança palavras de ofensas contra aquela que acolhestes! Não foi por ela também que Emanuel pagou o preço, o preço da liberdade!
— Sim, eu paguei! — Emanuel responde encarando Helel. — E você, criatura vil, insiste em aprisionar aquela que nunca te pertenceu, nem mesmo antes da fundação! Mais se desejas usar a lei, também a usarei, a mais absoluta e irrevogável lei. No livro de Romanos, ditado pelo meu Pai e Rei e escrito por seu servo Paulo, no artigo 5° parágrafo 18° “ O ato de justiça de um só homem resulta na justificação que traz vida a todos” TODOS! Eu já a justifiquei, mais voltemos então ao parágrafo 20° “Mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça” Pois de graça me doei, paguei o devido preço, já não existe nenhuma condenação!
Nesse momento O Rei e juíz se colocou em pé, pronto para dar o veredito.
— Sim meu Filho amado, como um Pastor que dá a vida pela suas ovelhas você procedeu, um pastor cuida e as conhece cada uma, assim é com minha amada Eklesia, ela me pertence com filha, e a ti como noiva! Ela nunca te pertenceu Lúcius e nada que você faça vai impedir meus cuidados e amor para com aquela que achei, você a enganou, e merece o devido castigo por isso, porém será no devido tempo!
— Eu vou! Mais voltarei a investir contra ela, é bom que esteja preparada!
— Tem minha permissão para isso, mais saiba que seu fim já foi estabelecido desde a fundação independente do que possa fazer!
Lúcius Helel então desceu para Terreno em toda a sua fúria, lá ele escravizou todos que encontrou pelo caminho, declarando guerra contra o castelo e seus moradores.
— Miguel! — O Rei chama. — Desça para Terreno juntamente com Paráclito…
— Mais e você meu Rei!? — Pergunta o general. — Quando acordar a princesa perguntara de seu Pai!
— Irei, mais não agora. Enquanto isso a treine, Paráclito a levará até o Arsenal, Lucius pretende contra-atacar e ela precisa estar preparada!
Ele então olhou para Emanuel que em resposta sorriu entendendo que o tempo estava se aproximando.
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Eclesia
SpiritualEklesia foi achada suja e coberta por uma praga chamada Iniquos, Rei Theo a adotou e a colocou sobre os cuidados de Paráclito. Agora já limpa e com todas as regalias de uma princesa, teria Eklesia coragem de jogar tudo isso para o alto em busca de s...