28 - I need you

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-- Essa é a última caixa - Ben disse, colocando-a dentro do porta malas do meu carro. Ele respirou fundo em alívio por finalmente ter terminado, fechando o bagageiro do automóvel.

Nós passamos uma boa parte da manhã desse sábado colocando todo o vestuário de Steve nas caixas. Mesmo após dois anos de sua morte, nunca tive coragem de doar as suas roupas. Não sei dizer qual o motivo exato, mas o que importa é que eu tomei essa decisão e estou me sentindo bem por doar elas para uma instituição que ajudará pessoas que não tem condições de comprar roupas.

Ben tem uma boa participação na minha decisão de começar a deixar de viver o meu luto. Eu me apaixonei por ele e então comecei pelos presentes, que estão guardados em um lugar que eu pretendo não mexer tão cedo, logo depois as fotos do celular. E agora, as roupas.

O próximo passo é a casa. Mas não sei quando terei a coragem de sair dali, pois nós compramos aquele lugar juntos e foi toda construída da maneira que eu e Steve sonhamos. E é um dos maiores motivos de eu ter que me mudar. E eu tenho que fazer isso um dia, querendo ou não.

-- Está tudo bem? - Ben pergunta, me tirando do transe. Percebi que ele havia parado num sinal vermelho.

-- Está. Estou feliz por estar fazendo isso - Esboço um sorriso sem mostrar os dentes, vislumbrando o dia bonito que estava fazendo hoje.

O dia estava ensolarado, um pouco mais quente do que o habitual de Londres, isso fez os britânicos vestirem roupas mais leves e com menos pano. Eu particularmente gosto desse clima. E gosto de usar as roupas que ele me faz usar.

-- Fico feliz por isso, babe - Meu namorado indaga com um sorriso no rosto, arrancando com o carro assim que o sinal fica verde.

Chegamos na ONG mais rápido do que imaginava. Ela era voltada exclusivamente para distribuir vestimentas e alimentação de pessoas em situações miseráveis e em situação de rua. Sempre que tenho a oportunidade, trago roupas que não uso mais para cá.

Ben foi até uma moça que estava do lado de fora, e não foi nem um minuto de papo. Ele se virou para mim e enquanto caminhava em direção ao carro, pediu para abrir o porta-malas. Abri-o e peguei uma das caixas, levando-as para dentro da instituição.

Fiquei feliz quando reparei na quantidade de comida não perecível e roupas que elas tinham arrecadado. Parece que todas essas toneladas de coisas só duram apenas por um mês, e me entristece o fato desse país praticamente fingir que essas pessoas que vivem em condições sub humanas não existem e precisam de ajuda.

Se a sociedade civil soubesse do seu direito, o governo comeria na palma da nossa mão e não ao contrário. Nós temos um poder de voz sem limites, poderíamos mudar o mundo se tivéssemos conhecimento suficiente dele.

Fui tirada do meu transe quando ouvi uma voz familiar me chamando por um apelido que apenas nós entendíamos, e eu não pude deixar de sorrir ao ouvir sua voz.

-- Pretinha! - Margareth, uma das mais velhas da ONG que me conhece há anos me deu um abraço apertado. Ela foi em minha casa quando soube da morte de Steve e ficou comigo por um dia todo tentando me deixar um pouco melhor, nós nos damos muito bem.

Ela é brasileira, e quando soube que eu sou de descendência brasileira e que sei falar português, ela passou a me chamar assim. É uma maneira carinhosa de falar com alguém e eu amo quando ela me chama assim.

-- Aquele é o seu namorado? - Ela pergunta, ao desvencilhar do abraço. Ben trazia mais uma caixa para dentro, ele parecia ainda mais lindo sob os raios de sol que iluminam a sua pele pálida.

-- É, sim - Eu digo entre um suspiro que tenho certeza que soou apaixonado. Sinto ela me cutucar com o cotovelo, me fazendo rir.

Fui pegar a última caixa que restou e fecho o bagageiro. Ben pousou a caixa que estava levando dentro da instituição e correu até mim para pegar a que eu estava levando.

UNEXPECTED | Ben HardyOnde histórias criam vida. Descubra agora