Onde definimos magia, mago, Deus, religião, explicamos as forças que sustentam os universos e ensinamos como dar um uma soco na cara da realidade sem ser incriminado por lesão corporal
Talvez esta seja a questão mais dispensável deste livro. Se você o esta lendo, é porque já tem seu próprio conceito de magia e está apenas em busca de conhecimentos práticos. Os livros a respeito são cheios de teoria e descrição de experiências místicas para engrandecer seus autores, mas poucos colocam ensinamentos práticos no foco principal. Criar um séquito de admiradores pode ser mais tentador do que dar a tais possíveis admiradores ferramentas que possam fazê-los inclusive superar os autores dos livros no caminho da magia.
Porque então nos propomos a responder a uma questão aparentemente tão irrelevante? Por um motivo simples: nem sempre as pessoas tem uma visão clara da magia quando pretendem estudá-la ou praticá-la.
Quando algo extraordinário acontece muita gente tem o costume de dizer que “parece magia”. Magia no senso comum é aquilo que vai contra o que é esperado da realidade prática, aquilo que dá um coice na realidade instituída.
Podemos dizer que três forças diferentes conjugam-se para equilibrar a realidade: as forças exteriores de manutenção do universo, que é Deus, os deuses, os padrões eternos, o grande arquiteto, ou seja lá qual nome você deseje dar. A força da realidade consensual, ou seja, o chamado inconsciente coletivo, que é uma espécie de fusão da noção de realidade de todos os seres e os paradigmas de realidade individual. Colocando de forma simplificada: A mente suprema, o conjunto dos seres sencientes e as mentes de cada indivíduo.
Entender estas três forças é essencial para você não se confundir e fazer um samba do crioulo doido e prejudicar-se ao invés de evoluir na senda mágica. Existem tradições que desprezam alguma das três forças: algumas religiões procuram suprimir, ou até mesmo oprimir os paradigmas individuais, elas pregam que apenas as forças supremas, ou seja, Deus, importam. Nós somos seres miseráveis sem qualquer poder cuja única possibilidade de salvação é nos religarmos com tal força suprema, fora disso, estamos ferrados.
A revolta contra tal paradigma criou uma linha oposta, e igualmente maléfica, aquela que prega que apenas o paradigma individual conta, sua mente é tudo, o que está fora dela não interessa. Alguns usam o velho bordão do Caos “nada é verdadeiro. Tudo é permitido” como forma de impor tal linha de pensamento. É uma distorção do brocardo caótico, que será analisado mais à frente em detalhes. O que interessa neste ponto é deixar claro que negar uma força externa à nossa mente que contribui para a sustentação da realidade gera inúmeros prejuízos ao caminho do magista, uma vez que lhe tira alguns referenciais indispensáveis e nega inclusive o caráter ascensional da magia.
Pensemos, se não existe nada exterior à nossa mente que sustenta a realidade, como a realidade era sustentada antes de existirmos? Que mente a sustentava? Se nada, absolutamente nada é verdadeiro, se eu decidir que a lei da gravidade não existe os planetas se chocarão uns com os outros ou cairão no espaço infinito? Como vemos, é uma posição tão frágil que não resiste a um único argumento. Claro, você pode decidir ignorar tais forças exteriores em suas práticas mágicas e se limitar apenas à sua mente, mas a despeito disto os planetas continuaram belos e majestosos em suas respectivas órbitas até a ordem dos tempos decida o contrário, e não sua mente limitada.
Existem ainda quem use o mesmo bordão caotista para negar até mesmo a força do inconsciente coletivo. “Nada é verdadeiro, minha mente tudo pode moldar” alegam estes. Ora, considerando que existem mais de sete bilhões de pessoas vivem sobre este planeta, querer que sua mente mande em absolutamente tudo é subestimar todos os outros inquilinos de Gaia. Será que as mentes dos outros sete bilhões vão simplesmente ficar estáticas enquanto eu moldo o universo inteiro à minha vontade? Seria até legal que o fizessem, mas é mais sensato não contar com isto.
Enfim, existe uma realidade instituída, e ela se constrói a partir da interação das três forças relatadas. Destas, a primeira absorve tudo, para a energia suprema nada é impossível. A segunda é limitada, sendo o inconsciente coletivo uma espécie de soma das realidades individuais, ele se altera de acordo com o tempo, o lugar e a cultura, sendo maleável e inconstante. A última força, nossa mente, também é ilimitada, pois é feita à imagem e semelhança da fonte suprema, somos os deuses de nosso próprio universo, podemos moldar nossa realidade individual à nossa vontade, sim “nada é verdadeiro. Tudo é permitido” na medida em que minha mente pode voar para onde eu deseje, nada é capaz de aprisioná-la ou suprimi-la se os instrumentos corretos para o seu despertar forem utilizados. Deixando claro que o princípio caótico é sábio e correto, sendo desprovida de sentido apenas a interpretação que alguns praticantes dão a ele.
Como vivemos em grupos, a realidade consensual de nossa sociedade nos diz o que é possível e o que é impossível. A força suprema não se prende a ela, nem a nossa mente. Quando nossa mente se choca com a realidade consensual ela pode se dobrar e aceitar a verdade de todo mundo ou dar um tapa na cara da mesma e fazer algo que ela diz que é impossível. Isto se chama magia. Quando a praticamos, chegamos mais próximos da força suprema ilimitada.
Então qualquer um pode ser magista, é só fazer algo que as pessoas acham impossível? A questão é mais profunda do que isto. Um milagre, uma cura espiritual, um servidor ou um sigilo, tudo se enquadra no conceito de magia, mas não é porque realizamos tais efeitos que nos tornamos magistas. O mago é aquele que faz isso sabendo que está fazendo, sabendo quais mecanismos estão sendo movimentados. O que não significa que alguém que o faz sem saber não possa ascender, tal critério é estabelecido apenas como uma forma didática de classificar magistas e não magistas, sem desmerecer o caminho de nenhum dos grupos.
Se você realiza um milagre, mas sua mente é condicionada a achar que só a força suprema pode realizar aquilo através de você e que sua mente sozinha não tem poder nenhum para realizar nada, você é apenas religioso. Se você não é religioso mas consegue lançar um mal olhado ou curar alguém por imposição de mãos mas não conhece que mecanismos levam a isto, você é um leigo.
É neste ponto que entra o ocultismo. Ocultismo é o estudo das leis ocultas do universo, seus mecanismos e funções. Então todo mago precisa ser um ocultista. Ou seja, além de dar tapinhas na cara da realidade consensual, ele precisa conhecer as leis que regem estes tapas. Se você estuda estas leis mais não pratica, você é apenas ocultista, ou estudioso da magia e do oculto. Se você estuda, pratica e consegue efeitos práticos, você é um mago. Então, venha para o barco e ajude a remar, que a viagem é longa.
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Vias Ocultas - Um Manual de Iniciação à Magia
SpiritualVias Ocultas é um guia para iniciantes em magia. Escrito em linguagem leve e utilizando toques de humor o livro procura fornecer ao ingressante no mundo mágico e ocultista um conjunto de ferramentas que o possibilite desvendar esse novo mundo com se...