Magia e Religião: Conciliáveis ou Inconciliáveis?

234 12 0
                                    

Onde levantamos uma questão tão importante que merecia um livro inteiro para abordá-la, porém vamos resumir ao máximo senão o jovem iniciante não lê nem os primeiros parágrafos

Muitas das pessoas que adentram o ocultismo passam antes por um processo de desilusão com as religiões. Em verdade, alguns ocultistas tem praticamente uma fobia das palavras religião e fé. Há os que consideram a fé uma forma de aprisionar a mente e a magia uma forma de libertá-la, sendo, portanto, fatores inconciliáveis. Será mesmo? 
Este é um ponto tão espinhoso do estudo do magista, que provavelmente alguns leitores torceram o nariz só por notar que iremos abordá-lo. Entretanto, por ser exatamente uma fator de libertação mental, a magia não pode se furtar a tratar de todo e qualquer elemento de formação da mente do indivíduo.
Se fuçarmos o trem da história é possível perceber que muitas religiões contém elementos e práticas mágicas. Do xamanismo ancestral ao hinduísmo, budismo, cristianismo, xintoísmo e todas as outras religiões, dificilmente você entra uma que não contenha alguns princípios magísticos inseridos em seus postulados e até mesmo práticas comuns aos magistas que se originaram nas mesmas, como as curas energéticas, a meditação, os estados alterados de consciência e muitas outras.
Porque então é comum no meio ocultista ocidental moderno uma aversão à religião? Porque alguns ocultistas tem a mesma fobia de religião que alguns religiosos fanáticos tem do ocultismo? Uma simples análise histórica nos fornece uma resposta. O renascimento do ocultismo ocidental ganhou muita força na passagem da idade moderna para contemporânea. Ao sabor dos suspiros finais da idade das trevas e do poderio da Igreja Católica sobre toda a vida ocidental, os novos expoentes do ocultismo queriam se distanciar o máximo possível da influência religiosa, uma vez que por ser exatamente uma busca pela valorização do homem como ser autônomo e responsável por sua evolução, as doutrinas ocultistas não podiam compactuar de forma alguma com a ordem vigente.
Mesmo nos seguimentos mais universalistas, a crítica à Igreja e seu poder era algo comum. Crítica esta muito bem fundamentada, uma vez que a religião funcionava como um poderoso veículo de opressão da vontade e autonomia do ser humano, mitigando severamente suas possibilidades de evolução. 
Acontece, que na reação à opressão religiosa, os ocultistas cometeram um erro: confudir religião com instituição religiosa. Sabemos que várias das grandes religiões, ao crescerem e se espalharem pelo mundo, deixaram de lado alguns ensinamentos básicos de seus próprios fundadores. Os ensinamentos sobre igualdade entre os seres, fraternidade universal e necessidade de evolução através do amor ao próximo e do cultivo das virtudes se perdeu em emaranhados de burocracia e relações de poder altamente duvidosas.
Sabemos que seres como Yeshua (Jesus), Krishna, Gautama e vários outros legaram à humanidade ensinamentos muito importantes, inclusive muitos destes ensinamentos também propagados nas doutrinas ocultistas. Se criarmos aversão às religiões juntando no mesmo saco os dogmas criados para dominar as massas e as inúmeras regras burocráticas das mesmas com os ensinamentos dos grandes mestres e avatares da humanidade, estamos incorrendo exatamente no mesmo erro que as religiões cometeram: tornar o culto ao mensageiro mais importante que a mensagem. 
É possível ser magista e religioso. A magia não está de forma alguma em posição oposta à religião. Muito pelo contrário, como veremos mais à frente, a fé é uma importante fonte de energia que pode ser invocada para os mais diversos fins mágicos e não deve ser ignorada pelo atento praticante de magia. 
O que não está em acordo com os princípios básicos da magia e do ocultismo é a subserviência às instituições religiosas. Achar que uma instituição é a proprietária máxima da verdade sobre Deus e o universo e segui-la cegamente está na contramão do papel libertador da magia. Porém, não deve o magista esquecer que fundadores de religiões foram grandes iniciados e tem bastante coisa para nos ensinar. Ignorar tais ensinamentos é como ter um baú do tesouro e guardar embaixo da cama sem nunca abrir. 
Para que palavras mais ocultistas como frases de Yeshua como “Vós sois deuses” e de Krishna como “O sábio nunca se lamenta nem pelos vivos e nem pelos mortos.”? Curiosamente, quando separamos as instituições religiosas das religiões e passamos a absorver o que há de engrandecedor nas mensagens dos grandes mestres, estamos sendo mais fiéis aos objetivos deles que os que se dizem seus seguidores. Isto é muito irônico quando sabemos que tantas religiões apontam o ocultismo como algo maligno. Provavelmente o ocultismo é algo maligno para elas sim, pois a mente dos fiéis que se abre aos princípios ocultistas plenamente, não consegue mais ser aprisionada pelos grilhões destas instituições. 
O ocultista sábio também entende que não é seu papel querer libertar todos das religiões. Sabemos que cada coisa ocupa uma função na ordem universal. Se as insituições religiosas existem, é porque devem existir. É porque possuem um papel na ordem das coisas e estão a desempenhá-lo. Então, não devemos julgar os que vivem dentro das instituições. Cada um sabe o que é melhor para si, cada ser sente qual o caminho que deve seguir. 
Inclusive, há religiões que não implicam em nenhum grilhão mental para o ocultista. Que não negam a natureza livre do ser humano. São as chamadas religiões universalistas, aquelas que não se dizem portadoras do único e exclusivo canal para a salvação. Inclusive nas chamadas salvacionistas, também há pessoas sem condicionamentos mentais excludentes. Pessoas que entendem o conceito de salvação como algo pessoal, a minha salvação é diferente da do próximo. Minha salvação pode ser me tornar evangélico e a do próximo pode ser se tornar umbandista. Enfim, o moral da história é que não importa se você é religioso ou ocultista, o que importa é que respeitar o caminho dos outros deve estar sempre acima de qualquer crítica ou prejulgamento. 
O ocultista iniciante deve estar muito atento para a questão do preconceito com as religiões. Todo preconceito é uma forma de aprisionamento mental, uma forma de autolimitação. E quem se prende a limitações um dia paga o preço, pois se torna alguém de mente fraca. Para ilustrar isto gostaria de dar um exemplo verídico que alguns já devem ter visto igual. Na época do colégio no ensino médio havia um garoto ocultista, ele se dizia adepto de projeção astral, manipulação energética e também afirmava particular de um círculo de prática mágica. Ele era bastante apegado ao caminho ocultista e tinha uma profunda aversão de religião. Odiava qualquer menção à religiões e dizia que as mesmas só serviam para atrasar as pessoas e que todo religioso era idiota. Como eu não era adepto de tais ideias, evitei até me tornar amigo do referido garoto, apesar de já ser praticamente de magia à época. Tínhamos apenas amigos em comuns, também interessados em ocultismo.
O aluno era o ocultista chato, aquele que acha todos os não ocultistas seres inferiores na escala da evolução da humanidade. Apesar disto, eu realmente me admirava com alguns resultados que me contavam que ele obtinha com suas práticas. 
Dois anos após a conclusão do ensino médio, tomo conhecimento de uma notícia que me impressionou muito. O famoso ocultista do colégio havia de convertido. Era agora um evangélico super fanático. 
Qual o moral da história: fanatismo chama fanatismo. Se você não libertar sua mente para não ser preconceituoso com outras doutrinas ou filosofias de vida, um dia será vítima de si mesmo. Liberdade não é apenas fazer tudo que quisermos, é termos a capacidade de não julgar as pessoas pelo que quer que elas façam. 

Vias Ocultas - Um Manual de Iniciação à MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora