Ocultismo e Niilismo

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O

nde explicamos algumas coisas que você já deveria saber se as escolas ensinassem Filosofia ao invés de cálculos intermináveis que você nunca irá utilizar na vida e instruímos o leitor sobre como não levar uma surra de vara da realidade 

Uma coisa irônica de discutir com as pessoas os mais diversos assuntos é quando percebemos que há ainda quem defenda posições filosóficas sobre as coisas que foram refutadas antes do homem andar para frente. 
A última vez que fui ler um livro que pregava o niilismo em âmbito ocultista, fechei na primeira página por simples vergonha alheia de uma frase. A negação de sentido a tudo costuma ser algo tão aprisionante que ser tão difundida entre ocultista deve ser o maior paradoxo da realidade depois do fato de o quadro negro ser verde. 
Alguns brocarmos ocultistas como “faz o que tu queres” e “nada é verdadeiro,tudo é permitido” são usualmente utilizados por alguns ocultistas que utilizam apenas uma interpretação grosseira dos mesmos para defender uma posição que nega a existência de sentidos universais a algunas coisas. É a defesa da supremacia da verdade individual, ou seja, o pressuposto de que não existe nenhum valor ou fato que funcione da mesma forma para todas as pessoas, sendo possível encontrar a verdade apenas de forma interna. Existe a minha verdade, a sua verdade, mas não a nossa verdade. 
Essa posição tira do ocultista seu caráter de buscador e o transforma em um garoto birrento que só aceita brincar com os coleguinhas se ele ditar as regras do jogo. Afirmar que tudo está subordinado aos paradigmas individuais é tornar inócuo o próprio papel libertador da magia, do que afinal você precisa libertar sua mente, se seja lá o que for que ela acreditar vai estar certo e ponto final? 
Reflitamos sobre as situações estranhas que esta posição gera. Um jovem ocultista que abraça com entusiasmo o niilismo agora acha que nada é verdadeiro, tudo que ele acreditar se torna verdade e tudo que ele não acreditar se torna falso. Ele está ignorando as outras duas forças de sustentação da realidade, a mente suprema e a mente coletiva e acha que a terceira força, sua mente individual, é a única que existe. Ele deixa de crer no mundo espiritual, retira o mundo espiritual dos seus paradigmas. Pronto, o mundo espiritual não existe mais. Amanhã ele resolve novamente recolocar o mundo espiritual em seus paradigmas, pronto, o mundo espiritual tornou a existir.
Para onde foram todos os habitantes do mundo espiritual quando o jovem niilista não estava acreditando neles? Evaporou? E todas as pessoas que acreditavam no mundo espiritual? Cada uma criava um mundo na sua própria mente e o mundo espiritual real não existe? 
O ocultista é um buscador, ele sabe que no âmbito de sua mente, muita coisa pode ser moldada. Sua mente pode torcer a realidade consensual criada pela mente coletiva, em busca da onipotência da mente suprema, mas ela ainda está presa a esta realidade e às leis que a regem. 
Sua posição correta como ocultista é estudar e verificar se o mundo espiritual existe, não simplesmente decidir negá-lo e alimentar a ilusão de que isto fará com que ele não exista. A posição de negar as coisas sem investigar se elas existem é apenas mais uma velha forma de aprisionar a mente, tão nefasta quanto os fanatismos religiosos. 
Se você leu até agora e está pensando “ah, eu não acredito em mundo espiritual, prove que ele existe”, minha resposta é que minha função não é dizer o que existe ou não: é instigá-lo a investigar e descobrir a verdade. Ele pode existir ou não, arregaçe as mangas e verifique. É bem mais difícil do que continuar com a bunda sentada na cadeira e dizer que simplesmente decidiu não acreditar, mas você não leu até agora neste livro que ser ocultista é algo fácil e pode estar certo que de não irá ler daqui para frente. 
Para reforçar o argumento apresentado, um exemplo mais estapafúrdio. Digamos que você decida retirar maçãs dos seus paradigmas, isto fará todas as maçãs do mundo desaparecerem? Ou as maçãs continuarão todas em seus pés quer você acredite ou não? Ao invés de decidir que maças não existem, porque não resolve visitar uma plantação de macieiras e verificar com seus próprios olhos. Além de ter a oportunidade de comer frutas frescas direto do pé, você terá deixado de se comportar como um completo idiota. 
Outro desdobramento da questão niilista é a negação de valores universais. Se a visão niislista do ocultismo está correta, então nenhum valor é universal, todos são relativos. Por tal ponto de vista, nenhum crime deve ser censurado. Tirar uma vida deixa de ser algo errado, pois é apenas a aplicação da verdade individual do criminoso. O pedófilo também não será censurado, pois estuprar crianças é apenas o paradigma dele. Como não existem sentidos coletivos, apenas individuais, não podemos censurar qualquer atitude nem qualquer posição filosófica de ninguém. 
O exagero nos exemplos tem a função de deixar claro o perigo que certos conceitos representam para o desenvolvimento do ocultista e do magista. Alegar que todo e qualquer valor é relativo, é defender que a vida não deve ser respeitada, que a dignidade da pessoa humana é apenas um ponto de vista e não um direito de todos. É pregar que não temos quaisquer obrigações em decorrência da vida em sociedade, que devemos respeitar apenas as regras criadas em nossa própria mente. 
Enfim, o conceito que parece uma libertação da mente, uma quebra das algemas dos valores impostos pela sociedade, tem o grande potencial para nos tornar em verdadeiro sociopatas, pessoas presas dentro de seus próprios conceitos e valores sobre as coisas. Ou seja, apenas um tipo diferente de prisoneiro mental. Liberte-se. Investigue. Descubra. Negar tudo é apenas uma forma de se poupar da árdua tarefa de descobrir o que é real e o que é irreal. O que pode ser mudado e o que não pode ser mudado. Repito mais uma vez, é difícil, não é uma moleza. 
Quando você resolve dizer que tudo está subordinado à sua vontade, irá necessariamente se deparar com situações em que a própria realidade irá te provar que está errado. Você nega a existência do mundo espiritual e um dia simplesmente é transportado para lá. Nega a existência de maças e seu carro simplesmente bate em uma macieira. Curiosamente, o niilismo leva o ocultista ao extremo oposto do que um mago deve se tornar. Ao invés de dar tapas na cara da realidade, você estará fadado a um dia se deparar com a dona realidade e levar umas boas varadas dela nas costas. 

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