Capítulo 1

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Querida Lara Jean,

Enquanto está lendo essa carta, minha primeira carta de verdade (uau!) espero que esteja deitada em sua cama no alojamento, ou na biblioteca da UNC, ou em algum outro lugar onde você esteja sozinha ou rodeada de garotas. G-A-R-O-T-A-S.

Sabe, estou pensando em acrescentar algumas regras ao nosso contrato: Nada de festas. Nada de bebidas. Nada de festas com bebidas. E nada de amizade com garotos. Brincadeira! Talvez não...

De verdade, Covey, espero que sua primeira semana de aula tenha sido demais. Que você tenha gostado das aulas (como se não fosse gostar, minha garota CDF), que você tenha conhecido pessoas legais, e que tenha se divertido. Mas nem tanto!

As pessoas dizem que os primeiros dias são os mais difíceis, e, bem, essa semana sem você foi uma droga, mas estou pensando que é menos uma semana até que a gente se veja de novo, então se torna menos difícil.

Estou escrevendo numa quarta-feira para que essa carta chegue a você até o sábado, no máximo, então não tenho muitas novidades para contar. Sou um homem de palavra, Lara Jean, por isso você vai receber sua carta toda semana!

Meu colega de quarto é nerd igual a você. Acho que vocês dois vão se dar bem quando se conhecerem. Não me lembro se você se inscreveu na cadeira de introdução à economia – nunca vi ninguém se inscrever em tantas cadeiras quanto você – mas se não se inscreveu, esqueça. A matéria é uma droga! Os treinos estão puxados, então já quero pedir desculpas se dormi no meio de alguma ligação que fizemos durante essa semana.

Não esqueça de ligar para mim hoje, de preferência antes de dormir, como combinamos. Não vejo a hora de ouvir a sua voz novamente, Covey.

Eu amo você!

Peter Kavinsky


Um sorriso abre-se em meus lábios enquanto releio a carta de Peter pela centésima vez. Passo os dedos sobre a sua caligrafia, que eu bem conhecia desde o tempo que recebia seus bilhetes durante o nosso namoro de mentira. Nossa! Parecia que havia se passado uma vida desde então.

Imagino o esforço que ele havia feito ao escrever aquela carta. Como ele mesmo dizia, eu era a escritora do casal. E sabe de uma coisa: eu havia amado! Cada palavra, cada frase, podia imaginar suas feições ao escrever cada trecho.

Assim como ele previra, eu estava deitada em minha cama, no alojamento, relendo sua carta em pleno sábado à noite, sozinha em meu quarto.

Não era à toa que Peter se preocupava com as festas. Desde que as aulas começaram todos os dias havia uma festa em um dormitório ou em uma fraternidade diferente, e eu me perguntava como os estudantes tinham disposição para assistir às aulas no outro dia. Então não era de se estranhar que um estranho silêncio pairasse nos corredores do dormitório às 22:00 hs de uma noite de sábado.

Mas Peter não tinha com o que se preocupar. Eu não era uma garota festeira, e assim como em muitos aspectos, provavelmente neste eu não iria mudar.

Sinto o telefone vibrar e dou um sorriso ao ver o nome de Peter na tela.

- Oi, Covey! – ao ouvir sua voz sinto meu coração amolecer como chocolate derretido.

- Oi. Como foi o jogo?

- Bem, substituí um dos caras nos últimos minutos, o que já é um bom sinal.

Posso sentir a frustração em sua voz. Em nosso colégio ele era Peter Kavinsky, o principal jogador do time de lacrosse. Na UVA ele não passava de um calouro magro e meio fora de forma, como ele dizia.

- Recebi a sua carta. – falo, tentando mudar de assunto.

- Foi? Quando? – ele para e depois continua com a voz vacilante. – Eh... o que achou?

- Bem, para quem nunca havia escrito uma carta antes você foi surpreendente, Peter Kavinsky!

- É mesmo?! – posso sentir o divertimento em sua voz. – Mais uma qualidade que o Peter aqui está descobrindo.

Não posso deixar de sorrir com a sua resposta. Parece que sua auto-confiança havia sido reconquistada. Esse era o meu Peter Kavinsky, não um garoto inseguro em ser o reserva do time de lacrosse da universidade.

- Recebi hoje à tarde. – continuo.

Na verdade eu ficara surpresa ao checar a caixa de correio e encontrar a carta endereçada para Lara Jean Covey, do quarto 23, alojamento Whaus, afinal havíamos nos visto no domingo, quando ele, meu pai e Kitty vieram me deixar na faculdade.

Como havia sido difícil me despedir deles! Kitty disfarçou muito bem qualquer sinal de tristeza com a minha partida, entretida em descrever seus planos em se apossar do meu quarto ou dos pertences que eu havia deixado em nossa casa. Eu a proibi de se mudar para o meu quarto, mas dei passe livre quanto às minhas coisas, desde que fossem usadas com o devido cuidado. Papai parecia muito mais orgulhoso do que triste ao se despedir da sua garotinha, que agora ingressara em uma das melhores faculdades da região.

Mas Peter não. A cada caixa que descarregava da minivan da sua mãe, a cada mala que deixava em meu quarto, o conhecimento de que a partir de agora estaríamos fisicamente distantes transparecia em seu semblante. O céu já escurecia quando ele me deu um último beijo antes de entrar no carro e ir embora com papai e Kitty, que esperavam dentro do carro há alguns minutos enquanto nos despedíamos.

Passo os dedos sobre os lábios pensando em quando nos beijaríamos de novo...

- Ouça, eh... próximo sábado o time vai jogar novamente, mas não sei se vou ser escalado, então... quem sabe... – ele fala, parecendo inseguro. – Quem sabe eu possa dar um pulo aí.

Sinto meu coração dar um sobressalto.

- Oh! Seria... seria muito bom! – Respondo, sentindo minhas bochechas corarem.

- Mas... mas se você tiver algum compromisso...

- Não! Quer dizer... não tenho nenhum compromisso. Pode vir. Seria... seria ótimo!

Em minha mente eu só pensava: Oh, meu Deus! Meu namorado vai passar a noite comigo no próximo sábado. Meu namorado! Vai passar a noite comigo! Não surte, Lara Jean!

- Tudo bem. Então...- ele dá um longo bocejo antes de continuar. – Nos falamos amanhã? É domingo então pode ligar a hora que quiser.

- Tudo bem! – respondo sorrindo, com a pulsação ainda acelerada.

- Boa noite, Lara Jean.

- Boa noite, Peter Kavinsky.


Toda sua, Lara JeanOnde histórias criam vida. Descubra agora