Capítulo 42

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A noite na minha casa estava longe de acabar. Os convidados já tinham ido embora, mas Trina, Kitty, papai e Margot estavam jogando uma partida de pôquer.

Talvez se Peter tivesse ficado, pudesse se divertir e se distrair um pouco afinal. Mas eu estava aqui e ele já deveria ter chegado na sua casa.

- O Peter não vem dormir aqui? – Trina pergunta casualmente.

- Não. Ele preferiu ir para casa.

- Vocês brigaram? – Margot pergunta.

Queria não ter sentido um pouco de esperança na sua voz.

- Não. Nós não brigamos. – respondo, de forma firme. Ela dá de ombros e volta sua atenção para o jogo.

Eu me deito no sofá enquanto penso em tudo o que havia acontecido durante a noite. Eu mesma estava me sentindo muito triste, imagina como Peter não deveria estar. Eu não queria que ele estivesse sozinho nesse momento, mas ele agia assim quando ocorria algo doloroso. Ele simplesmente se fechava. Isso acontecera das duas vezes em que havíamos terminado.

Continuo deitada no sofá quando meu pai se aproxima, se senta ao meu lado e põe os meus pés sobre o seu colo.

- A Margot me falou sobre um curso de confeitaria que você queria muito fazer...

Eu olho para ele sem acreditar. Parecia que o objetivo da viagem de Margot era que eu fizesse esse curso, e não passar o feriado conosco.

- É ela quem quer que eu faça, não eu. – eu explico.

- Mas se você quiser muito, Lara Jean, saiba que não tem problema... eu sei o quanto você gosta de fazer os seus doces, então pode contar com o meu apoio! Agora que você já terminou o ensino médio, é o momento de se arriscar...

Enquanto ele fala, eu me lembro de Chris, que neste momento estaria em algum lugar na Costa Rica curtindo a sua vida pós-escola. Mas eu não era como a Chris...

- Não se preocupe, papai. Quando eu quiser e se eu quiser fazer alguma coisa desse tipo, o senhor vai ser o primeiro a saber.

- Só se lembre que esta é a melhor forma de você tentar descobrir o que quer para o seu futuro... vivendo, se arriscando, tendo novas experiências...

Neste momento é impossível não o comparar aos outros pais que eu conhecia.

O pai de Kenny, por exemplo, queria obrigá-lo a seguir uma carreira que ele não queria. O pai de Ambry não tinha o respeito da filha, assim como o pai de Peter e o pai de Genevieve, que haviam jogado na lata do lixo toda a admiração que os filhos sentiam por eles.

E aqui estava o Dr. Covey, apoiando sua filha de 18 anos de idade se ela quisesse trancar a faculdade para passar um ano na França para fazer um curso de confeitaria.

Talvez por isso eu e minhas irmãs não havíamos sofrido tanto com a morte da nossa mãe. A vida havia nos presenteado com um pai de verdade para nos compensar.


Estou deitada na minha cama, viro de um lado para o outro, mas não consigo dormir. Penso a todo instante como Peter estaria, sozinho na sua casa, depois de uma noite tão difícil para ele. Olho o relógio e vejo que já passa das duas da manhã.

Pego o celular e mando uma mensagem para ele.

Já está dormindo?

Alguns segundos depois ele responde.

Não.

Depois manda outra mensagem.

Estou morrendo de fome.

Sem pensar bem no que estou fazendo, me levanto, visto um casaco por cima do pijama e vou até a cozinha. A casa já está totalmente silenciosa. Preparo uns sanduíches com o peru e as cebolas cremosas que haviam sobrado do jantar e separo em uma sacola. Ponho na sacola o resto da torta de nozes. Pego as chaves do carro de Margot e saio.

Dirigir de madrugada foi bem mais fácil do que eu imaginava. Não havia tantos carros na rua, o que facilitava consideravelmente a minha vida. Mas a neve que havia caído na noite anterior ainda estava acumulada em algumas ruas, então redobrei os cuidados.

Em vinte minutos eu estava estacionando na frente da casa de Peter. O carro da sua mãe não estava na garagem.

Antes que eu toque a campainha, Peter abre a porta. Ele está com sua calça de moletom e um casaco de frio.

- Encomenda para o Sr. Peter Kavinsky. – eu digo, enquanto estendo a sacola com as comidas.

Ele me puxa pela lapela do casaco e me beija.

- Você é louca, Lara Jean! – ele diz e vejo seu sorriso, então me sinto aliviada. Todo aquele sacrifício teria valido a pena afinal.


Estamos sentados no sofá enquanto Peter come um pedaço de torta. Ele já havia devorado dois sanduíches.

Eu estou de pijama e ele com sua calça de moletom e uma camiseta.

- Você perdeu o pôquer... – eu digo.

- Melhor. – ele diz. – Eu iria acabar com a sua irmã e ela iria me odiar pelo resto da vida.

- Com a Kitty?

- Não. Com a Margot. É impossível ganhar da Kitty.

De fato, ninguém blefava tão bem quanto ela.

- O que seu pai disse sobre você dirigir até aqui de madrugada? – ele pergunta.

- Não disse nada. Ninguém sabe que estou aqui.

Ele sorri de um jeito insinuante.

- Você fugiu de casa, Covey?

- Fugi. – respondo, enquanto me sento em seu colo.

Era tão bom sentir aquele clima leve entre a gente. Nem parecia que havíamos passado meia hora dentro do seu carro em silêncio durante o trajeto da casa do seu pai até a minha casa.

Ele põe o resto do pedaço de torta de lado e me beija. Seus lábios beijam o meu pescoço enquanto ele tira a blusa do meu pijama, depois descem até os meus seios.

- Sua mãe não vem para casa? – eu pergunto.

- Não. – ele responde, sem parar um segundo o que estava fazendo.

Então em poucos minutos estávamos completamente nus fazendo amor no sofá da sua sala.


Já estamos deitados na cama de Peter, abraçados em silêncio.

- Ele joga videogame com os filhos dele, sabia? – Peter diz de repente. Sei que ele está falando sobre o seu pai. Fico triste por ele se referir aos seus meio-irmãos daquela maneira. – E nem sequer conhece a gente... não sabe que o Owen prefere jogos de tiro ao invés de jogos de luta. Não sabia nem a universidade onde você estuda! – eu escuto em silencio, esperando que ele desabafe. – Eu me sinto um estranho naquela casa. Você percebeu, não percebeu?

- Percebi. – eu digo de forma tranquila, enquanto acaricio o seu braço que está em volta de mim.

- E agora o Owen está lá, todo iludido com ele...

Então entendo a preocupação de Peter. Ele só não queria que o irmão se machucasse, assim como havia acontecido com ele mesmo. Eu sempre questionava a relação de Peter com Owen, por não parecerem tão próximos, mas a verdade é que ele amava muito o irmão.

- Acho que... acho que seu pai realmente está arrependido, Peter... só não sabe o que fazer...

Ele não fala nada e percebo que o assunto havia sido encerrado ali, naquele momento.

Toda sua, Lara JeanOnde histórias criam vida. Descubra agora