Capítulo 7

1.2K 64 22
                                    


Estou na aula de ciência política, revisando as anotações da aula anterior, quando o professor entra na sala e anuncia que vai fazer a chamada oral para conhecer melhor os alunos.

Continuo lendo minhas anotações quando ele chama um nome conhecido.

- Kenny Donati.

Ouço a voz grave e masculina respondendo, como se o som viesse de alguém que estivesse mais ao fundo da sala. Olho para trás e vejo aquele belo garoto, na verdade aquele belo homem, com a mão estendida. Seus cabelos eram castanho claros e curtos e ele parecia mais alto do que as demais pessoas que estavam sentadas ao seu lado. De repente ele olha na minha direção e viro para frente constrangida.

Era Kenny, do acampamento. Era o garoto para quem eu havia escrito a minha primeira carta de amor, quando eu tinha 12 anos de idade. Que mundo pequeno, penso comigo. Não nos víamos há anos e agora estávamos aqui sentados na mesma sala de aula.

O restante da aula transcorreu sem que eu conseguisse prestar muita atenção no conteúdo. Em minha mente eu recordava daquele acampamento de verão da igreja, quando conheci Kenny.

Lembro que tinha sido por causa de Kenny que eu havia conseguido ficar até o último dia do acampamento. Lembro-me que ele havia salvado um garoto que havia caído no lago. Mas me lembro também que ele havia beijado Blaire H na fogueira no último dia.

No decorrer da aula tenho que me conter para não me virar para trás para espiá-lo mais um pouco. A aula então acaba e permaneço no meu lugar por mais alguns minutos. Quando me levanto para ir embora, olho na direção onde Kenny estava sentado, mas ele não está mais lá.

..........................................................................................................................................................

Estou tomando um café na lanchonete da universidade, revisando os próximos horários do dia, quando vejo aqueles braços longos se escorarem sobre a cadeira do outro lado da mesa.

- Lara Jean Covey!

Olho para a frente e vejo Kenny, inclinado sobre a mesa, sorrindo. Ele veste o casaco da equipe de natação da universidade. Por um momento fico sem reação.

- Lembra de mim, não é? – ele pergunta.

- C-claro! – eu respondo, sem jeito. – Claro, Kenny.

Claro que lembro de você, Kenny Donati, inclusive tenho uma carta endereçada ao seu nome em minha caixa de tesouros, penso.

- Então você está estudando na UNC! Uau! Faz muito tempo, não é, que a gente não se vê?

- É! Desde o acampamento. – respondo.

- Nossa! Fazem o quê, uns 5 anos?

- 6. – eu corrijo.

- Isso mesmo, 6 anos. Você era uma menininha na época. E agora, bem... – ele olha para mim, como se me avaliasse. - Agora não é mais!

Eu não respondo nada, constrangida, constrangida e confusa com aquele encontro inesperado.

- Posso me sentar com você? Está esperando alguém? – ele pergunta, apontando para a cadeira vazia.

Por um momento eu reflito sobre os prós e contras de uma proximidade com Kenny Donati.

- Na verdade... – Não, Lara Jean. Você tem namorado. - Na verdade eu já estava de saída...

Ele parece um pouco decepcionado.

- Oh! Ok. A gente se vê por aí então...

- A gente se vê por aí.

Então ele vira de costas e vai embora. Eu respiro aliviada.

Aquelas cartas de amor que escrevi pareciam uma maldição. Ou uma benção, se paramos para pensar em meu namoro com Peter. Mas a verdade é que na época que escrevi as cartas nunca imaginei que estaria criando um elo, ainda que imaginário, entre mim e aqueles garotos. Lucas havia se tornado um dos meus melhores amigos. Josh seria para sempre o Josh das irmãs Song's. John havia bagunçado a minha vida amorosa no ano passado. Peter ao que tudo indicava era o amor da minha vida. E Kenny?

Pelo menos eu tinha certeza de que Kenny Donati nunca receberia minha carta de amor.

..................................................................................................................

Mais tarde estou no alojamento conversando com Peter por vídeo-chamada antes de dormir.

- Você está um pouco aérea hoje. – ele comenta.

Peter está deitado com o laptop sobre o peito, e consigo ver apenas o seu rosto na tela, e seu braço cruzado atrás da sua cabeça.

- Estou? – eu pergunto, sem jeito. – Deve ser o cansaço, só isso. – disfarço.

Eu não havia dito a ele que descobrira que Kenny do acampamento cursava uma das matérias comigo. Isso poderia não ser nada demais, então não queria colocar besteiras em sua cabeça.

- Ouça, tenho uma novidade boa e uma novidade ruim para contar. – ele diz, parecendo animado.

- Quero saber a novidade boa. – eu peço.

- Eu fui escalado para jogar no time titular no próximo sábado.

- Parabéns! – digo animada. – Parabéns, Peter!

- Pois é! O treinador disse que essa semana eu estava... estava inspirado. – ele fala com aquele meio sorriso insinuante.

Sinto meu rosto enrubescer lembrando do momento quente que tivemos no domingo passado.

- E a novidade ruim é que...

- Não vou poder lhe visitar no próximo sábado. – ele completa, com o ar tristonho.

- Sem problemas, Peter. O importante é que você está evoluindo! Estou orgulhosa de você! – eu digo animada, mas um pouco triste por dentro.

- Obrigada! – ele sorri.

- E não vão faltar fins de semana para você me visitar. – eu concluo.

- Verdade.

Após nos despedirmos, eu me deito na cama e fico pensando em como seria o meu fim de semana sem Peter. Desde que ele viera me visitar eu havia percebido que me sentia mais solitária do que imaginava. Eu e Ambry quase não nos víamos, e as suas companhias não pareciam ser do tipo com quem eu gostava de me relacionar. Lembrei-me então de Hollis e dos seus amigos, e do quanto foi legal estar com eles no sábado. Quem sabe não seria uma boa opção para eu tentar me enturmar?

Toda sua, Lara JeanOnde histórias criam vida. Descubra agora