Capítulo 5

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O frio e a falta de ar, novamente invadiram seus sonhos, trazendo junto à imagem impotente de si mesma vendo a mãe se afogar. Queria gritar, queria ser mover, chamar por alguém ou fazer qualquer coisa, mas não conseguia. Todo seu corpo estava petrificado vendo a mãe se debater na água.

Queria, mas não podia se mover.

De repente sentiu água nos pés, mas quando olhou para baixo, não era mais uma criança, agora era ela adulta que estava sendo coberta, de forma rápida, pela água, e como quando era uma criança, não pode se mover.

Estava sem ar.

Sufocada, juntou toda força que tinha e gritou pela mãe, mas a mulher não se movia.

— MÃE! — O grito rasgou o quarto e seu coração acelerado lhe indicou que estava acordada.

Lena abriu os olhos tentando rapidamente sair daquela nuvem de sonho, e como nas últimas noites, estava com o corpo suado e respirando com dificuldade.

Levou a mão ao peito e tentou se acalmar, exatamente como fazia quando era criança e tinha pesadelos com a mãe, desde muito pequena aprendeu a não contar com um abraço quando se sentia com medo.

E agora, não era diferente.

Apenas uma pessoa tinha estado lá para ela quando aqueles sonhos vinham na adolescência, mas não queria pensar nisso, não queria pensar nela.

Enxugou a lágrima com raiva do pesadelo, raiva da situação em que estava e raiva de si mesma por não saber como tinha parado ali.

Tinha que ter um jeito de saber.

Tinha de ter respostas, afinal, estava naquele avião.

Buscou a garrafa de vidro com água ainda fresca, derramou o líquido no copo e, enquanto a água caia, viu novamente o lago, viu novamente a mãe.

Estremeceu, com o coração cheio de culpa, medo e saudade.

Com raiva estilhaçou o copo na parede e, como queria ter feito em seu sonho, gritou em desespero por estar sem controle da própria vida.

Cobriu o rosto com as mãos, e vendo que não conseguiria voltar a dormir, jogou os lençóis para lado e saiu da cama. Quando passou pela porta, os cacos de vidro, do copo que quebrou, estavam espalhados pelo chão. Depois de catar o caco de vidro, o levou até a cozinha e voltou para limpar o resto, fez tudo em modo tão automático, que não notou o corte na mão.

— Droga! — Grunhiu vendo o sangue se espalhar com rapidez.

No banheiro, deixou a água corrente cair sobre o corte, e nem sequer pestanejou quando começou a arder, pelo menos estava viva, diferente da mãe que não poderia nunca mais sentir nada.

Sorriu pela ironia, às vezes queria não sentir nada também.

Olhou o reflexo no espelho e encarou a mulher que tinha se tornado, e que agora, não passava de um passado na vida de quem amava. Era uma mulher que precisava se encaixar outra vez.

Precisava descobrir quem era agora.

Estava exausta psicologicamente, os dias na cobertura tinham sido maçantes, exatamente como Kara achou que seriam. Repórteres na porta do condomínio, telefonemas constantes, e ainda tinha que lidar com a empresa, e tudo que tinha acontecido com ela. Sam vinha sendo ótima em lhe informar a situação atual, e por mais cansativo que fosse, preferia lidar com todos os papéis informativos que com pessoas a entrevistando querendo saber o que aconteceu.

Suspirou sentindo o coração pesado, e aquilo tinha uma razão, não ligou ou falou com Kara aqueles dias. Queria falar com ela desesperadamente, queria um conselho ou um afago de sua melhor amiga, mas Kara já estava envolvida com tanto que se sentia mal em procura-la e sobrecarrega-la ainda mais.

Time After Time - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora