capítulo 38

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Maratona 4/5

— Pra onde você vai ? - Belinha para na porta do meu quarto, braços cruzados e um olhar ameaçador que não me dá medo nenhum, qual moral a pirralha acha que tem?

— Pra cas... Pra Los Angeles. - Jogo algumas roupas dentro da mala por cima dos calçados que já havia posto ali.

— Vou ligar pra mamãe.

— Não, ela só vai atrasar tudo, quando eu chegar lá ligo pra ela.

— Mas Any...

— Belinha daqui a pouco eu tô de volta, só vou ver uma amiga e volto okay? Não vou ficar lá definitivamente. - Ela abre a boca pra me contrariar. — Você não liga pra mamãe e eu não conto que você matou aula, satisfeita ?

— Isso. - Belinha comemora e sai do meu quarto parando de encher meu saco, mas logo outra pessoa aparece na porta.

— Ele é muito mais gato pessoalmente. - Raissa diz sem entrar completamente e se escora na porta aberta.

— Sabia que ele tava vindo né?

— Sabia, e nem adianta brigar comigo ele já está aqui mesmo.

— Você não tinha o direito de contar. - Fecho a mala por fim e a encaro.

— Tinha Any, tinha o direito de te salvar daquela melancolia toda, de te tirar de toda essa culpa e pelo menos um pouco da dor e da angústia. Mas mesmo assim não fiz okay? Não fui eu quem contei.

— Quem foi ? - Raissa me segue até o banheiro onde eu vou tomar um banho rápido antes de ir pro aeroporto com Josh.

— Sua mãe e o Noah. Odeio ter que entregar eles assim.

— Eu odeio eles.

— Que seja Any, odeie eles por te amarem, odeie eles por se preocuparem com você, odeie eles que fizeram de tudo pra te ver bem, pode odiar mas a errada desse merda toda é você. - Raissa sai me deixando sozinha, diferente de Belinha, ela não está nada satisfeita com o final da nossa conversa. Termino meu banho coloco um conjunto de moletom e desço as escadas com dificuldade por conta da mala em meus braços. Encontro Raissa e Josh conversando, quando notam minha presença o assunto acaba repentinamente e eles não fazem nem o esforço de disfarçar. Era sobre mim que dúvida.

— Vamos ? - Josh pergunta sem me olhar diretamente.

— Eu me resolvo com sua mãe. - Raissa diz como se soubesse qual seria minha próxima fala. Ela anda até mim e me abraça sussurrando algumas palavras em meu ouvido. — Parece que você tá tendo uma nova chance de consertar tudo, se resolva com ele e volta pro seu lugar amiga.

— Nem tudo pode ser consertado.

— Você precisa superar isso. - É sua última fala antes de me soltar. Me despeço de Belinha e saio atrás de Josh que leva minha mala junto com ele.

No aeroporto tento falar alguma coisa qualquer pra quebrar o silêncio, mas Josh simplesmete sorri fraco e volta a olhar o movimento de pessoas ao nosso redor. Dobro minhas pernas no banco e apoio a cabeça nos joelhos encarando a grande parede se vidro onde era possível ver um avião pronto pra decolar. Sinto o movimento de Josh ao meu lado e parecebo que ele saiu dali mas nem me dou o trabalho de me mover pra ver pra onde foi, ele está bravo demais, não deve querer nem me encarar, prometo facilitar pra ele.

Depois de minutos ali sozinha pensando em literalmente nada, sinto um toque no meu ombro esquerdo e assustada me viro rapidamente.

— Não queria te assutar, desculpe. - Josh afasta sua mão. — Pra você. - Ele estica a outra mão pro meu lado, me ofercendo um copo de café, o qual eu aceito e agradeço com um misero sorriso. — Noah está com medo de que você esteja brava com ele. - Jura que ele quer entrar nesse assunto bem agora?

— E eu estou, melhor ele ficar bem longe de mim.

— Any agora não é o momento de brigar com ele, a situação dele não é das melhores e além do mais ele só fez o que você deveria ter feito.

— Eu já entendi Josh, já entendi que está bravo por não ter te contado, se for pra ficar jogando isso na minha cara é melhor voltar pro silêncio.

— É você adora o silêncio né? Fugir também não é mesmo?

— Tá bom, vai Josh, joga tudo, fala tudo que você tem pra falar, vamos, eu aguento. - O loiro apenas balança a cabeça negativamente e se senta as duas cadeiras de distância de mim, e o silêncio entre nós retorna. Cerca de meia hora se passou e nosso vôo que atrasou é finalmente chamado.

Deixo Josh sentar na janela e eu me acomodo no banco do meio torcendo pra que o assento da beira não seja ocupado e eu possa me mudar pra ele antes de decolarmos, ficar tão perto assim de Josh na situação que estamos não me faz nada bem e acredito que pra ele também. Mas eu esqueci que o destino ultimamente está brincando com a minha cara, e bem ao meu lado se senta uma mulher de barriga enorme, estava grávida sem sombra de dúvidas alguma.

Caio na gargalhada involuntariamente e seguro as lágrimas que se formaram tão rapidamente em baixo dos meus olhos, Josh percebe meu incômodo e seu olhar bravo muda por um segundo, agora ele me olha com dó, o que é dez vezes pior que o anterior.

— Quer trocar de lugar ? - Seus dedos tocam levemente meu braço e um arrepio percorre toda minha coluna, será que ele tem noção do efeito que me causa?

— Não, estou bem. - Olho pra cima tentando me livrar das lágrimas e só consigo me controlar depois de deixar algumas escaperem discretamentes.

Olho pra barriga da mulher e é impossível não imaginar como eu estaria agora, se já teria alguma barriga ou se sentiria o bebê mexer, se eu saberia o sexo se estaria pensando num nome. Nunca fui a menina que sonha em ser mãe que pensa em nome ou que imagina o parto, nunca foi parte dos meus planos, mas também nunca foi algo que eu fosse contra e não quisesse de jeito nenhum. Depois que tudo aconteceu, saber que eu perdi um filho dói de uma maneira que não consigo explicar, sei que estava no começo da gestação e que nem daria tempo de eu me apegar. Mas eu gostaria de ter continuado, gostaria de ter passado por tudo e no final ter ele ou ela em meus braços, apesar de nova e de não estar nada preparada tenho certeza que isso me faria feliz, mas eu tinha que estragar tudo.

— Noah me explicou meio por cima. - Josh diz com a voz mansa chamando minha atenção. — Que você não precisou fazer nenhum processo de coletagem...

— O feto era bem novinho, saiu sozinho.

— Tudo bem falar sobre isso? - Dou os ombros, nunca tinha falado com ninguém a fundo, nunca me permiti. — Você sentiu dor?

— Senti. Muita. - Josh acarecia meu braço de forma solidária e me olha como quem quisesse me proteger disso tudo. — Mas eu tava passando por muita coisa, não sei te dizer se tudo que eu senti foi por conta do aborto. - Apesar de estarmos falando baixo, a grávida ao nosso lado escuta e leva a mão acariciando a barriga.

— Eu sinto muito que tenha passado por isso Any, de verdade.

— Eu também. Eu também.

Give me a reason to stay - REESCREVENDO.Onde histórias criam vida. Descubra agora