Companhia agradável

516 79 5
                                    

O despertador já não era algo que o incomodava tanto quanto deveria, nem mesmo se mostrava tão útil em sua função. Tocava, sim, normalmente no seu horário de sempre, mas já não era mais útil para Peter que sempre estava acordado antes de escutar a melodia. Apesar de seus olhos pesarem, o jovem universitário não se mostrava bom quanto ao assunto de descansar.

Seus olhos que ardiam captaram alguns minutos para descanso no seu relógio, que estavam mais para horas. Cobriu as pálpebras agora com o antebraço enquanto permitiu um suspiro escapar. 

Estava cansado... mas seu sono não parecia suficiente para derrotar a insônia. Insônia esta que tinha nome e sobrenome: Gwen Stacy.

Talvez o moreno tivesse dormido, ou simplesmente cochilado, mas seus pequenos minutos de descanso se foram assim que aqueles olhos inocentes azulados machucaram sua consciência.

Mesmo sabendo que era o Homem Aranha, e que era seu dever e sua responsabilidade sê-lo, às vezes se pegava perguntando se era bom o suficiente para este cargo. Afinal, foi o próprio Peter Parker que não conseguiu salvar a própria namorada.

Que tipo de herói era esse?

Mordeu os lábios pela vigésima vez naquela madrugada. Esse costume de maltratá-los já podia ser considerado um problema, visto que sempre que roçava os dentes neles os sentia salpicar junto ao gosto metálico. Sabia que já estavam cortados, meio sem pele e trincados, mas não conseguia se controlar. Era como se esse novo vício o dissesse que alguma hora a dor se concentraria ali, e Peter se permitia acreditar, ou pelo menos fingir, visto que parecia uma boa opção.

Revirou-se sobre a cama até seus ombros doerem, assim como seu quadril.

Olhou o relógio. Ainda tinha tanto tempo até o dia começar...

Rolou os olhos pelo quarto, pousando-os em uma peça específica de roupa. Suspirou, reunindo forças para se sentar, estalando as costas.

Sentia como se sua máscara de herói estivesse o chamando para um consolo.

Ser o Homem Aranha era como uma droga que o fazia fugir da realidade, mas não sabia afirmar se aquela droga era, de fato, nociva. Ao mesmo tempo em que o ajudava, podia destruir. Psicologica e fisicamente falando.

Era uma droga perigosa e viciante. Uma droga que Parker já não se imaginava sem.

Levantou-se cuidadosamente da cama, no intuito de evitar qualquer barulho que pudesse atrapalhar o sono da sua tia, e caminhou silenciosamente até a máscara, pegando-a entre os dedos. Sentou-se novamente sobre o colchão, ainda apoiando os pés sobre o chão, e encarou profundamente aquele vermelho que parecia olhá-lo de volta.

Analisou-a, descobrindo alguns pequenos rasgos e sujos, nada comprometedor. Olhou as lentes, meio embaçadas por conta do frio da madrugada, e deslizou o polegar sobre cada uma delas para limpá-las.

Olhar todo aquele vermelho com desenhos de teias pretas o fez pensar em vermelho e preto, mais do que o necessário. O fez pensar num vermelho e preto específico. Num mercenário específico. Numa piscina morta, na verdade.

No Deadpool.

― Qual seria o motivo desse nome? ― o jovem arqueou uma sobrancelha, dando um curto sorriso. Mas esse morreu quando se lembrou do episódio anterior onde o mercenário provocou-lhe reações sensíveis.

Suspirou, fechando os olhos, tentando não se lembrar daquilo. Não se lembrar, principalmente, que muito provavelmente seu corpo queria mais daquilo...

― Que bosta, sério... ― apertou os cantos dos olhos fechados, num constrangimento momentâneo. ― Que bosta, bosta, bosta... ― apertou mais os dedos. ― Como faz pra esquecer dessas esquisitices da vida...?

Just a HabitOnde histórias criam vida. Descubra agora