Just a Habit

Um pequeno começo

Peter continuou pressionando os olhos como se fosse resolver seu problema emocional. Não queria chorar na frente de Demolidor, ainda mais depois de perceber que ele conseguia ler sentimentos através dos sons.

Suspirou sôfrego, se lembrando de Deadpool, daquele olhar, daquelas palavras. Nunca esteve tão arrependido quanto estava naquele momento.

― O que houve aqui? ― o justiceiro perguntou sereno, depois de alguns minutos, fazendo Peter respirar fundo, soltando os seus olhos.

― Nada. ― respondeu tentando soar o mais neutro possível, mas sentir sua mão tremer como estava apenas o deixou mais desesperado.

Não estava bem, essa era a sua única certeza.

Sentia que estava prestes a ruir.

Demolidor continuou em silêncio e virou em sua direção. E, tentando fugir do desespero que cultivava mentalmente, o Aranha observou o justiceiro. Por um segundo se distraiu o observando abrir e fechar a boca diversas vezes, como se não soubesse o que dizer.

― E... ― Demolidor pronunciou, desviando o rosto da direção do herói. ― Quer encerrar hoje por aqui?

― O quê? ― o herói indagou surpreso.

― Você... ― deu outra pausa. ― não me parece bem, é melhor ir pra casa descansar.

Peter desviou o olhar, incomodado em deixar seus sentimentos tão transparentes. Não queria incomodar ou preocupar, muito menos atrapalhar.

Porém, ao raciocinar melhor, o incômodo se transformou em surpresa maior que a anterior. Levantou o troco, e, atento, passou a observar melhor o homem ao seu lado, a feição, na verdade, ou o que a máscara permitia observar.

Os lábios finos e largos prensavam-se enquanto esperava por alguma resposta. Eles eram rosados, mais rosados do que imaginava. Notou também que o canto do seu inferior carregava um corte que cicatrizava e parecia ser presente de um soco forte, já que a extremidade se encontrava roxeada. Tinha também uma leve marca sobre a bochecha que era quase imperceptível por causa da barba mal feita que decorava o rosto.

Distraído, as palavras pularam da sua boca:

― Parece que seu capacete vai esmagar sua cabeça.

Ai, que vergonha. Peter sentiu suas bochechas queimarem de constrangimento por ter deixado sua língua solta, mas quando viu os lábios curvarem lentamente em um sorriso, se sentiu surpreso, e até orgulhoso quando o ouviu rir.

― Como é? ― perguntou num tom risonho.

Peter não deixou de reparar o quanto aquele riso era charmoso.

― Então você ri? ― sua língua escapou de novo, fazendo Peter se repreender mentalmente.

Porém, ao contrário do que esperava, Demolidor fechou os lábios ainda curvados.

― Eu não deveria? ― perguntou divertido.

― Claro que não! ― respondeu alto. ― Espera, sim! ― pausou. ― Ou não...? ― franziu o cenho. ― Como é a resposta certa pra isso? ― perguntou pra si mesmo, divertindo o outro. ― Ahnm, hm, você deveria! É difícil socializar com um Batman da vida, apesar de ser foda.

O justiceiro riu descontraído, mesmo parecendo ser alguém sem senso de humor. E Peter não podia negar, aquilo o orgulhou muito. Se sentou em posição borboleta e segurou os tornozelos, assistindo o riso do homem diminuir gradualmente, e finalizando, ainda com um sorriso discreto, Demolidor movimentou minimamente o rosto em sinal negativo, agradando o herói.