Mais algumas mentiras

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Peter nunca imaginou o quão difícil poderia ser abrir os olhos, e, de fato, o que mais queria naquele momento era não precisar abri-los. Porém sabia que as coisas não eram assim. Precisava abri-los, lembrar de tudo o que havia acontecido e enfrentar a situação. Sua cabeça doía, sentia ela pesada e queimando, assim como se sentia tonto e desmotivado.

Reuniu coragem para abri-los, apesar de terem se fechado em seguida. Resmungou, movendo a cabeça para o lado, sentindo desconforto. Tentou abri-los de novo, mas a dor de cabeça fez com que os fechasse novamente. Respirou fundo e abriu-os novamente, enxergando um teto com um buraco enorme. E, mesmo naquela situação, achou algo agradável de se ver.

O céu pintado de negro com alguns pontos brancos espalhados fez com que sorrisse de leve. Conseguir ver estrelas em Nova Iorque deixava-o contente, já que era tão quase impossível devido a luminosidade e poluição.

Peter levantou-se vagarosamente, apertando os olhos numa tentativa falha de dissipar a dor, permanecendo sentado por algum tempo. Tentando recuperar um pouco do seu equilíbrio, pôs a mão sobre a máscara, sentindo-a molhada. Esticando a mão para vê-la, suspirou, não se surpreendendo ao ver sangue.

Olhou em volta tentando reconhecer o local, mas era um cômodo desconhecido com cheiro de mofo, com apenas uma pequena caixeta como móvel. Percebeu que estava deitado em cima de um monte de lençóis limpos e amassados, e se perguntou quem havia arrumado aquilo para si.

Forçou suas pernas a obedecê-lo, firmando seus pés no chão, mas quando sentiu um deles jogar uma corrente forte de dor ao seu cérebro, cerrou os dentes, arfando. Buscou respirar fundo para ignorar aquele desconforto, e se levantou, sentindo fraqueza. O aranha até passaria direto pela janela, se um papel branco meio rabiscado em cima da caixa não tivesse atraído sua atenção. Peter utilizou sua teia para puxar o papel e ler seu conteúdo.

Querido, Spidey,

Você dormiu bem? Eu queria muito ter visto o rostinho que você faz quando está dormindo, mas como um bom amigão, eu respeitei a sua identidade secreta. E acredite ou não, eu estou falando a verdade.

Vamos conversar depois sobre o episódio anterior, tá bom?

Na caixa tem comida, e pode confiar, não tem nenhum tipo de viagra! Ou talvez tenha… Mas se tiver, não fui eu que coloquei!

Seu amigo, Deadpool.


Peter teve que fazer um esforço descomunal para ler pelo menos duas vogais de cada palavra para pressupor o que seriam, além de ler e reler umas quatro vezes até tudo ter coerência. Aquela letra era horrorosa. No final do papel, tinha um desenho infantil muito mal feito do herói e o mercenário de mãos dadas. Eram tão cabeçudos e magricelos que o Aranha se perguntou se todos os órgãos foram para cabeça.

Se aquele “episódio anterior” não tivesse acontecido, Peter sentiria seu peito palpitar forte, sorriria, dobraria a folha e a guardaria. Mas, como havia acontecido, sentiu uma fúria que queimou o seu peito e fez com que amassasse o papel e o jogasse no chão.

Ignorou a comida como em qualquer universo faria e olhou para fora da janela, vendo que ainda estava perto do local do “episódio”.

Suspirou pesado e abriu a janela, passando dela com dificuldade. Grudou sua teia no prédio em frente, locomovendo-se até ele. O processo que fez para chegar em sua mochila nos escombros foi difícil devido ao excesso de tontura e dor, mas conseguiu, e ainda teve persistência o suficiente para aproximar-se do local do “episódio”, sentindo o seu peito gritar.

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