Capítulo Dez: Decisões precipitadas causam grandes conflitos.

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Zayn mandou preparar um banquete com várias comidas deliciosas. Consegui sentir o aroma de muitas dessas comidas do meu quarto. Zuleika, sentada folheando uma revista de modas, disse:
- O senhor Zayn está mesmo inspirado hoje. Não me lembro que dia comemora-se hoje.
- Por quê diz isto?!
- O banquete no salão rosado só é servido quando há uma grande festividade. Estão comemorando alguma coisa, senhorita?
- Não. Pelo menos não que eu saiba.
- Mandou que comprasse roupa, cuidasse da beleza e comprasse jóias...
- Jóias eu nem sabia, foi você quem falou lá na hora para comprar.
- Pois bem, se ele te fez envelopar-te toda é por que tem planos.
- Planos? Não entendi.
- Planos. Não me pergunta mais nada por que eu não sei. Senhorita, me permite fazer uma pergunta?
- Claro que sim, Zuleika. Fale.
- O que a senhorita sente pelo senhor Zayn?
- Como assim, o que sinto?
- Em seu coração. Qual sentimento tem por ele em seu coração?
- Sentimento? Hum, não sei se devemos nutrir sentimentos por quem mal conhecemos. E eu o conheci há muito pouco tempo.
- A senhorita não respondeu a minha pergunta. Mas, tudo bem. Vamos terminar de arrumar a senhorita.
Fiquei com aquela pergunta rondando em minha cabeça e não sabia o que responder para mim mesma. Não sei o que tenho sentido por Zayn. Às vezes tenho certo medo inexplicável dele, às vezes sinto ternura, carinho... São sensações completamente diferentes e em momentos diferentes.
Quando estava se aproximando das 20 horas eu já estava praticamente pronta. Quase dormi na banheira cheia de pétalas de rosas e sais aromáticos. Ainda bem que Zuleika me despertou, senão estaria lá até agora de tão relaxante.
- Está linda, senhorita! E muito perfumada!
- Acho que estou bem apresentável, não é? Seu patrão deve gostar.
- Ele vai amar, senhorita! Amar! Já posso imaginar o semblante que fará quando te ver.
Fui caminhando até o tal salão rosado lentamente. Fiquei pensando em muitas coisas, inclusive em tudo que está acontecendo em minha vida ultimamente. Será mesmo que devo estar ali, naquele lugar?
No final do corredor, em uma porta escura, vi um homem de pé sem se mover. Seria Zayn?
- Olá! - Tentei me comunicar. Nada. Se fosse Zayn teria respondido. Me aproximei ainda mais, um tanto apreensiva. A pessoa chegou para frente onde pude vê-lo. Era um homem. - Oi! Me chamo Maryanna! - Nenhuma resposta. Como sou burra! Ele não deve falar português. -Você não deve falar a minha língua, não é mesmo? Hum... Temos um problema por que também não falo a sua. -Estendi a mão mesmo assim, sorrindo. Ele olhou minha mão estendida e olhou para mim, novamente. Fiquei me sentindo uma idiota e baixei a mão, com um sorriso sem graça. Ele era lindo, assim como Zayn. -Bom, não adianta, então, eu perguntar onde fica o salão rosado, não é mesmo? Você não vai saber me dizer. Tô perdida!
- O salão rosado fica no final do corredor, virando a direita. -Ele fala a minha língua. Com um certo sotaque, mas fala.
- Ah, sim. Muito obrigada! -Sorri para ele, que continuou sério, me olhando como se me observasse. - Bom, estou indo. Até logo! -Fui saindo de perto dele, lentamente. Olhei para trás e ele estava parado do mesmo jeito, apenas me olhando. Aquele homem me fez sentir calafrios como os que senti quando conheci Zayn pela primeira vez. Meu Deus! Seus olhos eram tão fulminantes e penetrantes quanto os de Zayn. Seria outro irmão dele?
Cheguei até o tal salão rosado e uma mesa enorme estava toda arrumada, lindamente. O salão não era rosado, como o nome, mas em tons de salmão. Zayn não estava lá ainda, apenas uns empregados, que me olharam, desconfiados.
- Acho que cheguei cedo demais. -Falei, olhando meu relógio.
- Lhe faço companhia! -Era o mesmo homem misterioso do corredor. Puxou uma cadeira para mim, olhando-a. Em nenhum momento me encarou nos olhos mais.
- Obrigada! Me diz... Você é irmão de Zayn?
- Sim. Sou. Sou o terceiro irmão. Meu outro irmão faleceu em um acidente. Agora sou eu, Zayn e Said. Me chamo...
- Amin! O que faz aqui?! -Perguntou Zayn, entrando no salão, seguido por mulheres que deveriam ser suas esposas.
- Ei, irmão! Apenas estava fazendo uma gentileza acompanhando a senhorita até sua chegada. Com licença, senhorita Maryanna! - Ele sabia meu nome e eu não sabia quem ele era? Ele se levantou, olhando em meus olhos, fez uma pequena reverência com o corpo e saiu, sem dizer mais nenhuma palavra. Me pus de pé, olhando para Zayn com olhar confuso.
- Está linda, princesa! -Ele se aproximou de mim, beijando minha mão carinhosamente. Percebi que as mulheres pareciam treinadas, como robôs, sentaram-se caladas e nem sequer me cumprimentaram. Me olhavam, mas não falavam nada.
- Zayn, posso saber o que significa tudo isso?!
- Sim, claro. Vem! -Ele pegou minha mão, me conduzindo até a ponta da mesa, lugar que estava vago pois nenhuma delas havia sentado lá. -Sente-se, princesa! - Me sentei e todas voltaram seus olhares em minha direção. Percebi que algumas me olhavam com olhar de ira, outras mais naturalmente. - nisa' (mulheres)... -Elas olharam para ele, algumas sorrindo, outras sérias. -Mary, vou falar em árabe por que algumas delas não entendem outra língua. Mas Zuleika, que está aqui do seu lado, irá traduzir tudo que eu disser a você. hadhih hi maryana. hi biraziliat , altaqayt biha hunaka. salam ealayha. (Essa é a Maryanna. Ela é brasileira, eu a conheci lá. Digam oi para ela.)
- mrhbana maryana! (Olá, Maryanna!)
- tahadatht maeaha waiqtarahat 'an naqum bifatrat altadrib lilkhutubati. 'ana fi aintizar qubuliha. (Falei com ela e sugeri que fizéssemos o período de noivado. Estou aguardando a aceitação dela.)
- aedharni ya sayidi zawji. (Com licença, senhor, meu marido.) - Uma das esposas pediu.
- tastatie 'an taqul. (Pode dizer.)
- fahal satakun alssabieat min bayn al'akhawat? (Ela será a sétima entre as irmãs?)
- 'iinaha 'ajnabiatu! 'iinaha laysat wahidat mina! la yumkinuk 'an takun alzawjat alsaabieat. (Ela é estrangeira! Ela não é uma de nós! Você não pode ser a sétima esposa.) -Falou uma das mulheres, me encarando sério e apontando o dedo para mim.
- hadha hu alsuwaal... daeuna nastamtie bialeisha' thuma natahadath eanhu. (Esta é a questão... Vamos apreciar o jantar e depois falar sobre isso.)
- Zayn, por favor, não quero tudo isso. Já havia lhe dito.
- Do que está falando, minha princesa?
- Pare de me chamar assim! Meu nome é Maryanna! - Fechei meus olhos e respirei, profundamente, lembrando-me com quem falava isso seguidas vezes. Um aperto forte envolveu meu coração. Saudades de um passado que não pode retornar? Ou pode? -Olha, eu estou bem confusa com tudo que está acontecendo. Zuleika, avise a sua patroa que não tenho a menor intenção de tomar o lugar de ninguém aqui, que ela pode ficar tranquila a respeito disso.
- Não diga nada disso, Zuleika! A proíbo! -Falou ele, bem sério. Mas uma das esposas falou, baixinho, para a outra, que sorriu em sinal de vitória.  -O que há com você?
- O que há comigo?! Você. Isso que há comigo! Planeja as coisas, as põe em prática e não fala nada comigo. Uma surpresa dessas eu dispenso! O que planejava fazer hoje? Me apresentar como sua única esposa? -Algumas delas, que entendiam português, se entreolharam, assustadas pelo que compreenderam sobre o que eu disse.
- Sim, esse é o meu objetivo.
- Sem que eu tivesse dito que aceitava?! O seu objetivo pode ser diferente do meu. Já parou para pensar nisto?
- Maryanna, ouça...
- Zayn, você não pode fazer as coisas no impulso! Não sou assim. Não sou submissa como essas aí. Não sou árabe, como ela mesmo disse. -Apontei para a mulher que havia apontado para mim e ela franziu a testa, bem séria.
- Maryanna, eu amo você!
- Mas eu não! Me perdoe, mas não te amo! E não sei se um dia possa amá-lo! Sabe bem que meu coração está machucado demais para isso.
- Podemos conversar a sós?
- la, la, zuj! kl ma ealayk qawlah , tahadath huna 'amamana jmyeana. ladayna alhaqu fy 'an nakun maeak!
(Não, não, marido! Tudo o que você tem a dizer, fale aqui na frente de todos nós. Temos o direito de estar com você!) - Uma das esposas bradou.
- Ela tem razão, hubun (amor). Não pode nos ocultar nada. -Uma outra retrucou, com sotaque. - Mesmo por que precisamos saber das suas verdadeiras intenções para podermos decidir logo com nossos pais.
- Não me pressione com meus sogros, Yanth! Sabe bem que já tomei minha decisão e não vou voltar com a minha palavra. Maryanna, aonde vai? -Perguntou-me, bem sério.
- Me deixe em paz! Não quero ser motivo de discórdia! Não sou assim!
- Eu sei. Espere! -Ele veio atrás de mim, segurando em meu braço devagar. E aquela palavra "espere!" que me persegue.
- Pare de falar assim! Você não vê que me deixa ainda mais confusa? Me solte! -Ele me soltou e eu continuei, olhando em seus olhos e apontando em sua direção: -E ouça. Se continuar insistindo neste assunto eu te digo que peço demissão a seu pai e vou embora amanhã mesmo! -Me virei e saí, sem dizer mais nada.
- Mas que ultraje! Se fosse uma de nós que fizéssemos isto com certeza estaríamos indo para os aposentos do Sheik para uma sentença. - A tal Yanth falou. Zayn nada respondeu, simplesmente a olhou, sério, passou perto da mesa pegando sua taça de vinho e saiu andando em direção a varanda, deixando suas esposas ali, com Zuleika.
- Não abusa da paciência do senhor Zayn, Yanth! Sabe bem que ele não ama nenhuma de vocês! E, agora, vão ter que se conformar em serem levadas a contrato novo.
- O que pensa, serva? Acha isso certo? Somos as esposas dele! Ele não pode fazer isto conosco.
- Alguma de vocês tem filhos com ele? Me diz, senhora?
- Sabes que não.
- Pois então pronto! Se até hoje não conseguiram ter filhos ele pode, sim, pedir contrato novo e vocês passam a ser esposas de parentes dele. Vocês sabem disso tanto quanto eu.
- Se não tivemos filhos até hoje talvez seja por que ele não possa ter. -Uma outra esposa falou.
- Isso não é verdade. Todas vocês, assim como o senhor, fizeram exames de fertilidade antes do contrato. Pois bem, aceitem o destino de vocês, por que se a estrangeira quiser ela o tem nas mãos. Ele é capaz até de ir embora com ela para o Brasil se assim ela quiser. Vão se recolher! Cada uma de vocês receberá seus banquetes em suas casas. adhhb! adhhb! (Vão! Vão!)

Não sabia o que pensar. Fui andar um pouco, tentar respirar ar fresco do jardim enorme do palácio. Meu Deus, o que vim fazer aqui neste lugar completamente estranho para mim? Sempre tive medo do desconhecido e, agora, estou eu aqui.
Olhei as estrelas e logo Rodrigo veio em minha mente. Seu sorriso, seus trejeitos, sua fala, tudo nele veio em minha mente como uma flecha me acertando. O baque foi tão forte que meus olhos se encheram d'água.
Percebi que estava sendo observada por alguém. Olhei em volta e não vi nem sinal de ninguém ali. Ia saindo e esbarrei, bruscamente, em Amin e quase caí. Só não caí por que me equilibrei e ele me segurou nos braços. Mãos fortes novamente. Corpo trêmulo ao extremo.
- Me perdoe! Não quis assustá-la!
- Não me... ...assustou. Eu que... ...não vi você aí.
- Está triste? Posso te ajudar?
- Queria sair daqui um pouco!
- Do palácio?
- Sim. Pode me levar para algum lugar longe daqui? Por favor! - Minhas lágrimas começaram a rolar por meu rosto e ele, olhando, passou as costas da mão para enxugá-las, me fazendo fechar os olhos. Por que o toque dele me causou tranquilidade?
- Vem comigo! Sei de um lugar!-Ele estendeu a mão, me levando dali. Pela varanda Zayn observava tudo, com uma ira enorme tomando-lhe, a ponto de quebrar a taça que segurava em suas próprias mãos. Said se aproximou dele, por trás, viu toda a cena e, sorrindo um sorriso sarcástico, falou:
- Não vá pensar em matá-lo, irmão. Lembre-se que se tentar contra a vida de um irmão pagará com a própria vida, esse é o decreto de bába (papai). Acalme-se! Ele não gosta muito de mulheres e você sabe disso.
- Said, vá se danar! -Zayn saiu de perto dele com muito mais raiva ainda, fazendo-o gargalhar, ainda mais sarcástico.
- Bába (papai) precisa saber que esta mulher não pode ficar aqui no palácio. Ela será como uma doença em nosso meio, que causa a morte entre nós. Eu mesmo cuidarei para que ela seja despachada como uma mala velha de volta para aquele país de onde ela nunca devia ter saído!
- Se precisar de ajuda, é só me falar shaqiq alzawj (cunhado)! Não quero nada ameaçando nosso casamento, meu e das minhas irmãs. -Falou Yanth, se aproximando dele.
- Você sabia que está ainda mais linda hoje, Yan? Posso te acompanhar para dormir? Sua cama deve estar perigosa para você chegar até ela sozinha. -Said passou o braço em volta da cintura dela, que sorriu sem dizer nenhuma palavra contrária.

▪Maryanna está muito confusa com tudo o que está acontecendo em sua vida. Ainda mais agora, com esses pensamentos em Rodrigo voltando com força em sua cabeça. E esse novo príncipe? Será que é mais um para complicar tudo?
O que me dizer disso tudo?▪

A cada capítulo uma nova emoção!

a Cissinha.

A história de amor mais linda que já ouvi!Onde histórias criam vida. Descubra agora