Capítulo Onze: Unidos pelo acaso.

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Amin me levou para um lugar bem distante. Dirigia seu carro calado e eu não me atrevi a abrir a boca em nenhum instante sequer. A brisa da noite entrava pela janela, gelando meu rosto e meu coração. Não sabia mais nem em que pensar. Tudo parecia mais uma espécie de roda gigante, só que dentro de mim.
Ele parou o carro em um lugar deserto. Fiquei cismada por não conhecê-lo e estarmos em um lugar assim.
- Pronto! Chegamos!
- Aqui?! Onde estamos?! -Ele abriu o teto de seu carro conversível. Senti o banco onde estava sentada começar a reclinar. O que ele ia fazer comigo?!
- Toda vez que preciso relaxar e tirar pensamentos ruins de dentro de mim venho aqui. Olhe para cima, respire fundo e relaxe. Vai se sentir muito melhor. -Fiz o que ele pediu e ele fez o mesmo. As estrelas pareciam estar ao nosso alcance, era como se estendéssemos as mãos para pegá-las e conseguiríamos muito fácil.
- Nossa! Que lugar lindo! Essas estrelas parecem pintadas a mão!
- Concordo. E tenho umas em casa que eu mesmo pintei. Venho buscar muita inspiração aqui.
- Meus problemas são enormes, sabe! Nem sei como resolvê-los.
- Zayn quer o que com você? Que seja a sétima esposa do harém dele?
- Não. Que eu seja a única!
- A única?! Vai jogar as outras no vento?!
- O que significa essa expressão jogar ao vento?
- Jogar ao vento ou em árabe 'iilaa alriyh que significa ao vento é quando uma esposa ou esposas são largadas a própria sorte ou em contrato novo. Contrato novo é quando um casal que não tem filhos decide romper o contrato. O esposo tem o direito de passar aquela mulher a outro parente próximo, um irmão ou primo. Mas isto é aplicado somente as esposas, ou seja, os maridos fazerem com elas. Nunca ao contrário.
- Por que esse costume todo de vocês árabes com as mulheres? Só com as mulheres?
- Não é só com as mulheres. Os homens também tem que seguir a risca a tradição. Há pena de morte aqui, sabia?
- Ouvi falar... Mas, e você? Tem quantas esposas?
- Nenhuma. Ainda. Apenas uma prometida, mas que não sei muito se vai se tornar minha esposa.
- Por quê?
- Tem muita coisa envolvida. Você não entenderia.
- Tudo bem. Não precisa me contar não.
- Um dia te conto. Mas... E você? Como veio parar aqui?
Conversamos muito por longas horas e nem sequer vimos a madrugada chegar. Senti frio e ele percebeu que estava cansada. Perguntou:
- Já está melhor?
- Sim, muito. Agradeço.
- Imagina... Podemos voltar para o palácio, então?
- Sim, podemos sim. Amanhã tenho muito trabalho bem cedo e nem percebi a hora passar.
- Amanhã começo a trabalhar com meu bába (pai).
- Sério? Ele é um tanto... sério.
- Sempre foi assim. Desde que perdemos a minha mãe ele se tornou um homem muito amargurado e, até, vingativo.
- Nossa!
- Mas ele não é assim com todos. Ainda bem.
- Sim, ainda bem. Chegamos!
Havia um dos seguranças do Sheik a nossa espera.
- Senhor Amin, seu pai está a espera de vocês na sala sul.
- Sim. Obrigado Suyan. Vamos? Provavelmente alguém nos viu saindo e contou a ele.
- Ih! Será que teremos problemas?

- Problema algum. -Respondeu o Sheik a Amin. -Porém, senhorita, quando desejar sair para espairecer e quiser companhia fale comigo que mando um dos seguranças acompanharem a senhorita, juntamente com Zuleika, que passará a ser sua dama de companhia.
- Pai, não foi ela quem me pediu...
- Não, senhor Amin, tudo bem. Eu entendo que o senhor seu pai não quer que vocês tenham contato comigo e aceito isto com agradecimento, pois sei que ele está fazendo isso para o meu bem e para o bem de sua família. Posso me retirar?
- Fico feliz que não tenha se ofendido com minhas palavras e que tenha entendido tudo que expliquei, senhorita. Queria comunicar, também, que farei como me pediu inicialmente. Você ficará, junto com Zuleika, em um dos meus apartamentos, mais próximos ao escritório. Será melhor assim. Tudo bem para a senhorita?
- Sim, com certeza! Vou amar ter a Zuleika comigo! Agradeço muito novamente. Com licença!- Ia saindo, passei perto de Amin, pegando em sua mão, olhando em seus olhos e sussurrei: - Obrigada pelo que fez! Boa noite! - E sai.
- O que está acontecendo?
- Do que está falando, bába(pai)?
- Esta mulher. Primeiro vira a cabeça do seu irmão, Zayn. Mexeu com Said também por que não sou idiota e pude perceber. Agora você? O que há? Será um surto de safadeza em minha casa, onde meus três filhos estão desejando a mesma mulher? Ou é um fetiche de vocês?
- Pai, só por que saí com a senhorita não significa que estou interessado nela.
- Isso é o que você diz. Quem garante que isto é verdade?-Falou Said, entrando na sala sem ser chamado.
- Ora, quantas insinuações, não é mesmo, meu irmão? Por que não diz a papai que é você que tem o costume de laçar suas presas para levá-las para cama e, depois, descartá-las? -Afirmou Amin, de braços cruzados.
- Não sei do que você está falando.
- Você não sabe mesmo, Said? Conte mais a papai. Eu também quero escutar! -Pediu Zayn, entrando na sala e sentando-se ao lado do Sheik.
- A questão aqui não sou eu e, sim, essa mulher que está virando a cabeça de vocês!
- O quê?! A minha cabeça ninguém está virando!
- Isso eu espero, Amin, para o seu próprio bem! - Respondeu Zayn, sério.
- Não me ameace, Zayn.
- Hum... Vejam como ele ficou bravo! Será que a bela adormecida acordou?-Zombou Said.
- A questão é, não quero nenhum de vocês se envolvendo com esta moça!
- Para mim será difícil, bába(pai), sendo que estou ajudando ela.
- Por isso que irei, amanhã mesmo, contratar uma pessoa para ajudá-la. Assim você será dispensado desta função. - Said riu, disfarçadamente, sendo observado por Amin.
- Mas pai, ela não irá aceitar! Ela mesmo disse que a condição dela era que eu a ajudasse.
- Ela é uma empregada, Zayn! Por tanto as exigências dela, para mim, não valem de nada, tendo em vista que sou eu quem mando em tudo!
- Pai, isso é faltar com a sua palavra!
- O que está insinuando?! Minha decisão já está tomada! E pronto! E agora vão dormir! Me deixem com meus pensamentos!
Os três saíram da sala e, em meio ao corredor, Zayn falou:
- Isso é coisa sua, não é mesmo Said?
- Claro. Vi esse aí saindo com sua adorável ex princesa e decidi que não era nada justo com papai enganá-lo desta forma. Dois dos filhos dele, apaixonados pela mesma mulher... Isso acabaria em uma guerra entre irmãos e uma tristeza, além de uma vergonha para bába(papai).
- Larga a mão de ser imbecil, Said! Eu não estou apaixonado por ela! A conheci hoje, como posso estar apaixonado por ela?
- Com o louco aí foi assim, por que com você deveria ser diferente?
- Said, a vontade que tenho é quebrar você em pedacinhos, mas não vou fazer. Sei que, com o tempo, bába (papai) irá entender que eu amo mesmo a Maryanna e me deixará ficar em paz com ela. Se para isso preciso evitar encontrá-la, tudo bem. É até um modo dela sentir minha falta.
- Basta saber se ela sentirá sua falta ou a falta do bestão aí! Deu, pelo menos, uns beijinhos nela? -Zayn ia partir para cima de Said, sendo contido por Amin. Said saiu, rindo muito, dizendo: - Se não deu é mesmo um frouxo que não gosta de mulher! Por que eu, ah, teria levado ela à lua! -Ele saiu rindo muito mais.
- Calma, Zayn! had' min ruweuk!(Acalme-se!) Não vale a pena brigar com este aí.
- Tá, tá! Já estou mais calmo! Mas, me diz, o que você tinha que levá-la para fora dos muros do palácio? Que intimidade toda era aquela que vi entre vocês?
- Está vendo coisas, irmão! Apenas levei ela por que percebi que ela estava triste e precisava conversar. Foi isto! E apenas isto!
- Lembre-se de uma coisa, você tem a Tishla, sua noiva, com quem irá se casar.
- Noiva não. Prometida.
- Noiva! Prometida, aos olhos do senhor seu pai é noiva. Eu tenho minhas esposas mas já estou tratando de arrumar tudo para o contrato novo e, assim, também poderá ficar com uma ou duas das minhas. Mas a Maryanna não! Ela é meu amor! Me apaixonei sim por ela e o que sinto por ela aumentou tanto que se tornou amor. Não quero que se apaixone por ela! Não pode se apaixonar por ela. Entendeu bem?
- Não é essa a minha intenção! Agora, se me der licença! -Ele foi para seu quarto, dormir.

A história de amor mais linda que já ouvi!Onde histórias criam vida. Descubra agora