Capítulo Final. Até Logo

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Léo acordou e percebeu que Esther não estava mais lá. O local onde ela dormia estava vazio. Direcionou-se à porta que estava aberta para fecha-la. Um vento frio entrava e preenchia o quanto. Antes de fechar vislumbrou a mensagem fixada nela, eram as palavras finais de Esther.

Ler aquelas palavras fazia seu coração apertar, porém, foi corajoso e leu até o final. Quando terminou, soltou um sorriso, precisava sorrir, por ela.

Começou a se arrumar para mais um dia de aula, o ano letivo estava perto de finalizar. Desceu as escadas e tomou seu café. Sua mãe o cobriu de carinhos e o seu pai deu uma carona a ele, por mais que ele estivesse atrasado aquele dia. No caminho, deram uma carona ao seu melhor amigo, Douglas.

- Como você está? – perguntou Douglas após descer do carro. Já estavam na porta da escola Monsaber.

- Não tão bem como poderia estar, se ela ainda estivesse aqui, contudo, vou viver, por ela. – respondeu Léo, referindo-se a Esther.

- Digo o mesmo que você, por ele. – disse Douglas, se referindo a Victor.

Nete, Felipe e William acompanharam os garotos na caminhada de entrada na escola, seria um novo começo para cada um deles. Uma releitura do que passou, para avançar para o futuro. Na sala, as cadeiras que eram de Esther, Beatriz e Victor, estavam vazias. Ninguém sentou nelas aquele dia e assim seria, até o final do ano letivo.

Na chamada oral dos alunos, o professor chamou o nome de Esther. Seria a segunda falta dela. A primeira, quando ela saiu para conversar com o Léo, tempos atrás.

Léo fixou o seu olhar para a cadeira vazia. Sentia a presença dela ali, sorrindo. Podia sentir o perfume, a graça, a luz que Esther emanava.

Quando chegou ao final da aula, os cincos amigos se dirigiram até onde os túmulos de Esther, Beatriz e Victor se encontravam. Cada um carregava uma flor, que seria depositada no túmulo.

Chegaram rápido à cidade onde os corpos se encontravam. Léo segurava uma rosa vermelha que depositou sobre o túmulo. Neste, se lia escrito na lápide: Aqui jaz uma estrela, 12/01/2019. Ele ficou parado olhando a imagem que repousava em uma moldura fixada abaixo do texto na lápide. A foto de Esther, sorrindo com seus cabelos loiros espalhados pelos ombros.

Léo percebeu o longo choro de Douglas ao seu lado. William e Nete tentavam o consolar. Ele precisou ser aparado por eles e saíram em direção ao carro.

Léo ficou ali, parado, apenas observando. Não chorou, porque não queria mais chorar. Apenas queria admirar o local de descanso de sua amada.

- Oh, garoto! Oh, garoto! O que você está fazendo aí? – perguntou um velho senhor que se vestia como o coveiro.

- Estou me despendido. – respondeu Léo.

- Se despedindo de quê? Não tem mais ninguém enterrado nesse local. – falou o velho. Léo sorriu com a possibilidade. Saiu dali com aquela frase em sua mente:

"Não tem mais ninguém enterrado nesse local"

A vida de Léo continuou, assim como a de todos os seus amigos. O término do ensino médio foi uma conquista para eles. Todos se formaram naquele mesmo ano.

Léo seguiu a carreira que pretendia, ingressou no curso de Ciências Náuticas na CIAGA (Centro de Instrução Almirante Graça Aranha) do Rio de Janeiro, sem se esquecer de sua paixão pelas estrelas, que se tornou seu trabalho de verão, ajudando diversos astrônomos em suas pesquisas.

Douglas seguiu a carreira de dançarino e dois anos após sua formação no ensino médio, já se apresentava em grandes espetáculos do teatro de São Paulo. Ele também montou uma instituição que ajuda as pessoas lgbtqia+ a superarem traumas de infância e adolescência.

Nete seguiu a sua vocação em investigação, prestou um concurso para a polícia civil e entrou para o cargo de investigadora da polícia de sua cidade. Anos depois, ela se casaria com Felipe que, agora, trabalhava como professor na mesma escola em que estudou.

William conseguiu comprar uma casa própria e umas de suas paixões virou realidade: comprou o bar em que tinha indo com Esther anos atrás. O bar virou o ponto oficial de encontro das pessoas que fazem mobilizações contra ideias racistas. Quanto a Guilherme, não teve muito sucesso, foi reprovado no terceiro ano do ensino médio, perdeu sua bolsa de esportes e acabou se envolvendo ainda mais com as drogas. Foi obrigado a se internar para um tratamento, porém, venceu. Virou pastor e saiu em caravana realizando palestra contra as drogas.

Meses antes de ir para o Rio de Janeiro para cursar a Universidade, Léo escrevia as palavras do livro intitulado "Maneiras de Viver Depois De Morrer". Um vento forte o suficiente fechou a porta de seu quarto. Talvez, meses atrás, aquela porta nunca estivesse aberta. Ele odiava a luz, pessoas, seus pais. Queria estar sempre sozinho, trancado, todavia, agora era diferente. Léo levantou-se e se encaminhou para a porta e a abriu, e assim ficou, para sempre. 

O jaguar rumava firme pela estrada, o monitor do carro simbolizava a necessidade de reabastecer

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O jaguar rumava firme pela estrada, o monitor do carro simbolizava a necessidade de reabastecer. Por sorte, um posto se encontrava nas proximidades. Victor parou o carro no local onde poderia abastecer. Beatriz desceu correndo para fazer xixi. Esther foi à lojinha do posto para comprar doces. Os frentistas admiravam de longe a sua beleza, não havia nada de estranho nela.

Ao voltarem, Victor ao volante terminava de efetuar o pagamento do combustível, Beatriz mostrava entusiasmo e animação:

- Para onde vamos agora, Esther? – perguntou Beatriz, sorrindo.

- Agora? Bem, vamos viver. – respondeu Esther enquanto bebia cerveja em uma garrafa.

Fim!

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⏰ Última atualização: Jun 09, 2023 ⏰

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Maneiras de Viver Depois de Morrer (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora