Capítulo 14. O Fim

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Após o retorno do acampamento e os acontecimentos que nele se concretizaram, Léo estava sem falar com Esther há dois dias. A relação estava abalada. Nete, que agora voltava a ficar sempre ao lado de seu amigo, insistia para que ele passasse a acreditar na história de que a namorada de Léo se encontra, na verdade, morta.

- Estou dizendo a verdade, Léo. – diz Nete, com insistência.

- Nete, eu não consigo acreditar em uma história, como a que você insiste em dizer. – falou Léo, ainda desacreditado. Conversavam no seu quarto. O mesmo onde tivera sua primeira noite de amor com Esther. Passou o final de semana inteiro trancado, aceitou apenas a visita de Nete e Douglas.

- Digamos que seja verdade e que eles estão realmente mortos. O que os levaria a se envolver com Léo e comigo? – perguntou Douglas, sentado na cadeira da mesa de computador.

- Eu acredito que eles são uma espécie de vampiros, que sugam a energia vital de seus companheiros. – falou Nete, enquanto socava a palma da mão como uma afirmação do que dizia. Ela estava sentada na beirada da cama de Léo. – Veja como o Léo está mais fraco. – disse Nete, apontado para Léo que se estendia na cama, com o capuz de seu moletom preto, escondendo o rosto.

- Para mim, ele estar do jeito que sempre foi. – assegurou Douglas.

- Mas é verdade. Olha ele, ficou até mais magro. – falou Nete, enquanto pegava em umas das pernas de Léo, que se entendia na cama. Léo puxou a perna em resposta.

- Não é bem assim. – reforçou Léo. – Eu estou, sim, cansado, mas nada que seja fora do normal.

- De qualquer forma, vocês estão avisados. Esses três não prestam. – disse Nete, em resposta a objeção de Léo.

- Eu vou conversar com ela amanhã, na aula. Serei o mais breve possível, não quero vê-la. – avisou Léo, aos dois amigos.

- Léo, você mesmo me disse para perdoar as pessoas. Perdoa ela também. – pediu Douglas, com voz de clemência.

- Eu não vou fazer isso, a sua situação era diferente. A minha envolve uma traição. – refutou Léo, ao pedido de Douglas.

- Não é diferente. A única diferença é que você é extremamente rancoroso, um coração duro que apenas a Esther conseguiu quebrar. Tenho pena dela agora, porque eu sei que você vai guardar isso para sempre. – Douglas se levanta com leve irritação. – Apenas vou dizer uma coisa: não se esqueça que ela te fez feliz.

- Eu quero apenas ficar em paz, Douglas. Você mesmo precisou de tempo para voltar com o Victor, não vai ser de uma hora pra outra que vou voltar com Esther.

- Eu sei e vou te dar esse tempo. Mas eu te conheço muito bem para lembrar que você sempre teve um coração de pedra e nunca foi capaz de perdoar alguém.

Douglas falava enquanto lembrava-se de uma das poucas brigas que tivera com Léo. Essa, a mais marcante para ele. Léo sempre explosivo e reativo, teve um surto quando criança, devido ao fato de Douglas ter emprestado um de seus brinquedos a um de seus amigos. Léo não gostou nada desse compartilhamento e, bravo, ficou meses sem falar com Douglas. A relação apenas voltou ao normal devido Suzane, mãe do Léo, que percebeu a falta do único amigo que Léo tinha na época. Nunca foi fácil a relação entre os dois, mas apesar de tudo, tiveram poucas discussões e brigas e, até ali, a afinidade era boa.

No início da semana de aula, o almoço voltava a ser diferente. Léo, Nete, Felipe e Douglas sentavam-se distantes da mesa de Esther, Beatriz e Victor. Mesmos a distância, Esther mantinha seus olhos fixos no seu namorado, seu amor ainda era forte por ele. Deu tempo ao tempo e permitiu que ele engolisse tudo pelo que passaram. Porém hoje era o dia de voltar, ela não aguentava mais a distância.

Durante a tarde, enquanto todos entravam para as salas, Léo e Esther furaram a aula para conversar. O local escolhido era o pátio da escola. Um local aberto e rodeado de árvores. Alguns bancos eram encontrados por todos os lados, escolheram um que ficava escondido entre duas árvores, assim, não poderiam ser vistos por nenhum professor ou diretor que passassem pelo local naquele horário.

Esther sentou a direita de Léo. Vestia o uniforme escolar. Enquanto Léo sentava-se a esquerda, de cabeça baixa e com as mãos cruzadas na altura do joelho.

- Eu espero que tenha passado o sentimento de tudo aquilo que aconteceu, eu não quis te humilhar ou qualquer coisa do tipo, eu apenas não me lembro de nada. – explicou Esther, enquanto olhava as costas de Léo, a única coisa que era possível de ser visto naquele momento.

- Não passou, eu ainda não digerir o que aconteceu. Como você pode simplesmente ter dormido enquanto um troglodita estava em cima de você? Isso não me desce. – falou Léo, enquanto remexia a cabeça. Sua voz era baixa e dramática, Esther conseguia ouvir com dificuldades.

- Eu sei, eu sei. Porém, eu não me lembro de nada que aconteceu. – novamente Esther explicava sua versão para Léo. – Eu acho que fui dopada.

- Isso não é o pior, Esther. – disse Léo, enquanto estendia o celular para Esther, uma foto estava na tela.

- Quem viu isso? Quem tirou foto disso? – reagiu Esther, assustada. Passava as fotos do sótão de sua casa onde estavam os caixões.

- Nete. – respondeu Léo em tom seco. – Ela ainda encontrou uma fotografia de um acidente, em que três jovens faleceram. Você e seus amigos. – comentava Léo de forma direta e sem qualquer temor. 

– Seus pais até hoje não voltaram da viagem, que você disse que faziam e, agora, vocês moram naquela mansão. – Léo falava enquanto Esther nada emitia. – Quando beijei você e, sem querer, eu cortei um dos seus lábios, eu não vi sangue. A ferida, por mais profunda que fosse, não sangrava.

- Léo, tenha paciência, isso não é verdade. São apenas coincidências. Em breve, meus pais estarão aqui, você vai ver. – explicou Esther, assustada.

– Confessa para mim Esther. Você aparece do nada; uma moça bonita, rica, popular, e do nada, escolhe a mim para namorar? Não é estranho demais?

- Porque eu amei você desde o primeiro dia que eu te vir. – revelou Esther, com lágrimas nos olhos. – Olhe para mim Léo. Eu te amo! – disse Esther. Desde do começo da conversa, Léo ainda não tinha olhado ela nos olhos. Apenas escondia o rosto.

- Eu não posso olhar para você. – afirma Léo.

- Por que não? – pergunta Esther.

- Porque se eu olhar, eu vou te querer novamente... Eu não quero isso agora.

- Léo... Por favor. – clamou Esther, agora em prantos. Ela abraçou as costas de Léo que permanecia sem mudar sua posição.

- Esther... – suspirou Léo.

Esther apertou ainda mais forte Léo quando sentiu que ele queria se levantar, depositou suas lágrimas sobre suas costas, deixando o moletom preto do garoto com uma leve marca de claridade onde as gotas caíam. Mesmo assim, após um tempo, Léo conseguiu se livrar de seu abraço apertado e, agora, estava de pé, ainda de cabeça baixa, sem olhá-la.

- Eu quero dar um tempo, até que eu possa entender tudo isso pelo que estou passando. Eu preciso de tempo e, quando estiver preparado, quero ouvir de você, a verdade. – demandou Léo, enquanto virava as costas para Esther.

- Léo... – Esther erguia a mão direita em direção a Léo, que partiu sem olhar para trás. 

 

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