18

355 39 10
                                    

27 de junho de 1996

Enquanto Clara entrava em trabalho de parto, no andar de baixo Michael preparava a grande mesa para receber seus convidados. Colocava com extremo cuidado todos os talheres e taças de ouro, se dedicava a manter a atenção nos mais pequenos detalhes, mesmo os que deveriam ser insignificantes, tudo deveria estar perfeito para a maldita noite mais esperada de sua vida.

Para o Sr.Jauregui todo o brilho daquele ouro era pouco e as estrelas que brilhavam no céu escuro não eram o suficiente. Ele precisava de mais, muito mais. Examinou com cautela a sala que aguardava pacientemente os convidados, o banquete estava quase pronto na cozinha e aquele cheiro era um pecado. O assado que a sua governanta fizera parecia magnífico e ele quase arriscou arrancar um pedaço quando seu estômago reclamou em agônia.

"Não, tudo deve estar perfeito." Disse a si mesmo se servindo apenas de uma taça de vinho tinto antes de sua poção habitual.

Os gritos da senhora Jauregui podiam ser ouvidos até do lado de fora da casa de pedra tenebrosa, isso satisfazia os ouvidos do Senhor da família que abriu um grande sorriso mostrando seus dentes amarelados pelo excesso de fumo e ingestão de veneno.

Depois de finalmente terminar seu trabalho, Michael se sentou na ponta da mesa e soltou um grande suspiro se sentindo mais relaxado após beber um gole da sua bebida amarga, uma mistura de alcachofra com cicuta e um pouco do seu próprio sangue, entercalou com mais um gole de vinho e suspirou profundo.

Sentiu-se ansioso ao retirar o relógio do bolso do colete e constatar que já se passavam das dez horas e nenhum convidado havia chegado.

"Por que a demora?" Perguntou balançando as pernas e olhou mais uma vez para os jogos de prato em cima da mesa, ele depositara a melhor porcelana da casa para esse dia e ninguém aparecera…

Mais uma vez Michael suspirou, agora se sentindo derrotado, as coisas não estavam funcionando conforme ele havia planejado. Percebeu que seu relógio marcava agora vinte minutos de atraso, isso fez seu corpo esquentar. Perguntou a si mesmo como era possível todos os seus convidados não aparecerem.

"Insolentes" murmurou em desaprovação.

Estava pronto para se levantar e começar a esbravejar com as paredes quando finalmente ouviu passos apressados vindos da escada. Sentou-se novamente comportado e ajeitou o lenço no seu pescoço para apresentar uma boa imagem.

Não demorou para a governanta de respiração ofegante e rosto suado aparecer, Michael bufou e revirou os olhos, pensava que era alguém importante que havia acabado de chegar, não só mais um de seus empregados para o atormentar.

— O que é?— perguntou com desprezo enquanto ela continuava parada ao lado da porta, parecia tentar recuperar o fôlego, mas mesmo assim encurvou-se um pouco para frente em sinal de respeito e disse a frase de uma vez:

— Senhor, o bebê nasceu com hematomas.

A frase demorou um pouco para fazer sentido e enquanto a governanta de pernas finas e vestido sujo esperava uma resposta, Michael bebeu da sua taça de ouro e limpou os lábios com um guardanapo de pano, quando satisfeito passou os olhos pela empregada mais uma vez com o cenho franzido.

— Como é? Um bebê? Não esperávamos por gêmeos?— ele olhou para o relógio em cima da mesa que estava virado para baixo, descontente por ver o tamanho do possível atraso de seus convidados. O senhor esperava que ao menos isso se tratasse do trânsito perto da cidade ou da dificuldade deles de encontrarem o lugar, afinal, moravam em um local tão remoto…

A empregada deu um passo para trás, de repente notou-se um certo receio vindo dela e Michael começou a se sentir irritado, como sempre acontecia já que manifestava o sombrio de um ser humano.

MICHELLE Onde histórias criam vida. Descubra agora