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Quando Camila estacionou a caminhonete velha, olhou mais uma vez para o banco do passageiro onde Lauren entrelaçava os dedos de dez maneiras diferentes tentando de alguma forma se concentrar em algo que não fosse a tristeza de deixar tudo o que sua mulher construiu para trás. Ela segurou as lágrimas com um pouco de força demais, trancando bem a mandíbula e mordendo a língua no percurso.

Lauren queria poder pedir desculpas, mas era incapaz de dizer uma palavra sequer para Camila. Esperou a outra sair do carro para finalmente olhar para frente.

Era uma casa pequena, ela notou de cara sem olhar por muito tempo, feita de madeira e alguns detalhes foram pintados com uma tinta branca para parecer um pouco mais nova. Um pequeno deck se encontrava na frente com uma cerca velha, a porta de entrada era antiquada, com uma portinhola de metal enferrujado, as janelas eram grandes e era possível notar as densas cortinas que tapavam a visão do que estava do lado de dentro. Tudo parecia discreto, simples, comum, nada grande a se esperar.

Delicadamente ela se deixou olhar ao redor virando a cabeça de um lado para o outro. Viu diversas cercas e duas cabanas, animais pastavam pelo infinito gramado, entre eles a maioria eram vacas e porcos. Ao longe podia ver árvores carregadas de frutas e outras casas iguais a essa.

Ouviu um som vindo de trás e percebeu que Camila já estava entretida em retirar todas as caixas. Lauren não se permitiria sair do carro até que ela a levasse para dentro da casa, era como se agora ela fosse disciplinada a seguir ordens, não era de todo ruim, só queria de alguma forma recompensar a esposa por tudo o que fez. Essa foi a única maneira que encontrou, não atrapalhando em nada.

Posso dizer que com o tempo esse silêncio se tornava entediante para ela e que de vez em quando até pensava em deixar seus pensamentos dominarem, mesmo que isso pudesse acarretar na vinda do seu lado sombrio. Duas batidas a desviaram de tais ideias e surpresa ela olhou pela janela.

Era uma garotinha de bochechas coradas e olhos castanhos, tinha o cabelo amarelo separado por duas tranças que eram amarradas com um laço azul, ela sorriu tímida ao ver Lauren dentro do carro que quase teve um colapso nervoso arregalando bem os olhos com a respiração já afetada.

A menina esperava alguma resposta do lado de dentro, mas a mulher não conseguia mover um músculo, nem ao menos sorrir de volta.

— Courtney!— Lauren não conseguiu reconhecer a voz que fez a pequena olhar para o outro lado imediatamente, mesmo que essa voz fosse a única que ouvisse todos os dias. A pequena abriu um sorriso largo quando se deparou com Camila, a mesma mulher que ela conhecera na semana anterior e a deu alguns doces de presente.

— Mila!— a garota já a chamava pelo apelido e serviu-se de um forte abraço da morena que sorriu bastante mesmo estando com o corpo cansado e com um humor nada bom naquela manhã.— Quem é ela? — a voz da garota saiu abafada pelas vestes de Camila, mas ela ainda pôde ouvir.

— Venha, vou te apresentar.— Camila segurou na mão da menina e as duas caminharam até a porta, onde do lado de dentro Lauren permanecia paralisada e só pode dar uma boa olhada na pequena quando a porta foi aberta.— Lauren, essa é Courtney, a filha da senhora Reynolds e Courtney, essa é Lauren, minha esposa.

Lauren se espantou no exato momento em que Camila disse a palavra "esposa", ela nunca a apresentou para ninguém, muito menos dessa maneira. Se alguém por acaso soubesse da existência de Lauren, normalmente a desculpa da latina era que a mulher não passava de uma prima distante, mas usar essa palavra era tão...tão...diferente. Soou como um estouro no peito da de olhos verdes que logo sentiu seu rosto se aquecer e uma admiração repentina surgir por aquela pequena menina que sorria sem dois dentes da frente.

MICHELLE Onde histórias criam vida. Descubra agora