10

493 47 13
                                    

Alguns meses atrás…

— Pai, Lauren não tem uma doença.— Era natal e como sempre, eles haviam repartido a ceia juntos. Alejandro, Camila e Lauren, a terceira foi dormir cedo, antes mesmo da meia-noite, já os outros dois lavavam as louças e organizavam tudo.— Eu estudei esse transtorno na faculdade e não é assim que funciona, com Lauren é diferente.

— Mi hija, nós a levamos aos médicos quando ela era pequena, eles deram medicamentos para ela…

— Nenhum medicamento faz Michelle se manter distante pai, quando ela era pequena era diferente, mas você viu, durante todos esses anos, isso não é um transtorno, Michelle não é um alter. As pessoas que vivem com esse transtorno não são que nem ela, não são que nem minha esposa.

Alejandro passou a mão pelos cabelos grisalhos, pensava em como sua filha parecia exausta, elas moram juntas sozinhas desde que Camila terminou a faculdade, já se passaram seis anos, é muito tempo para lidar com isso todo dia sozinha.

— Eu devia ter feito diferente quando ela era pequena, não devíamos ter excluído ela do mundo.

— O que mais poderíamos fazer pai?— Camila guardou o pano depois de secar e guardar o último prato, olhou para o mais velho que parecia cansado e se apoiava no balcão de mármore gelado.— Não havia outro jeito e ainda não há.

— Você acredita que um dia…?

Ele não era capaz de completar a pergunta, mas Camila sabia o que ele queria dizer.

— Eu não sei pai, eu não sei.


De volta ao presente…

Lauren choramingava encolhida no chão, ela não lembrava do que acontecera, mas ao sentir as dores e ao ver que estava presa nesse quarto e que Camila não estava em casa, constatou que havia feito algo horrível e se condenava cruelmente por isso.

Quando Alejandro abriu a porta do quarto, ele mesmo temia o que encontraria ali dentro, já havia visto o estado da cozinha e constatara que aquilo era uma armadilha para Camila, algo para desestabiliza-la. Além de que ainda teria que cuidar do quarto do fundo…não deixaria a filha voltar com tudo aquilo para fazer. Era muita coisa para uma pessoa só lidar.

Segurava nas mãos uma injeção pronta com um sedativo, se não adiantasse ele sabia que teria que usar a força. Machucaria mais nele do que em Lauren com toda a certeza.

Ao entrar viu a mulher sentada ao chão, abraçava os próprios joelhos e chorava, os nervos de Alejandro se acalmaram e ele escondeu a injeção. Assim que a de olhos verdes percebeu a presença do homem ali, levantou o olhar e imediatamente perguntou, com a voz fraca e rouca:

— Onde ela está?

Alejandro observou Lauren por um instante, era óbvio que não era Michelle, mas ele ainda tinha receio. Depois de todos esses anos e tudo que viu, no fundo ele sente muito medo de estar perto dela.

Muitas coisas que aconteceram nem Camila tem conhecimento sobre. Quando ela estava na faculdade, ele cuidava de Lauren sozinho e tinha que lidar com as surpresas quando chegava em casa. Assim como acontece hoje em dia com Camila.

O homem mais velho suspirou e fechou a porta atrás de si.

— Você não lembra o que aconteceu.— não era uma pergunta, ele sabia que Lauren nunca se lembrava o que vivia com Michelle.— Como você está agora?

Lauren encolheu os ombros, sentia a sua cabeça queimar e tudo que queria agora era ver sua esposa e pedir desculpas, por mais que não fosse sua culpa.

MICHELLE Onde histórias criam vida. Descubra agora