ACASO OU DESTINO?

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Depois de três dias, era bem estranho acordar sóbria e consciente. Sei lá, o mundo parecia diferente, até eu descobrir que ele realmente estava. O meu quarto já não era mais o mesmo, haviam malas empilhadas e mais coisas que não me pertenciam.

Tentei me situar e então descobri que ele havia se mudado para a minha casa.
Ele estava parado à minha frente, com um largo sorriso ao me ver acordar.

Era estranho vê-lo tão a vontade. Estava com uma calça jeans bem atual e uma camiseta regata branca. Seus olhos me fitavam, buscando um sorriso de volta.

_ BOM DIA, MEU AMOR! Que bom que acordou, estava tão preocupado...
_ bom dia... O que faz aqui?
_ Sua mãe me fez o convite. Achamos que seria melhor se eu estivesse aqui para cuidar de você. Todos estamos preocupados. Então ficarei aqui por uns tempos. Tudo bem?
_Uau! ... tudo bem. Café?...

Naquele momento, Lucas conseguiu fazer eu me sentir bem culpada por tudo. Logo eu, que já não me importava tanto com os sentimentos alheios.

Tenho 25 anos e ainda moro com meus pais. Entrei em uma depressão profunda que me fez desistir de muitas coisas, inclusive de mim mesma. Já havia tentado suicídio algumas outras vezes, mas pelo visto, sou péssima nisso também!

Lucas e eu namoramos a quase dois meses, mas não consigo dizer que estou perdidamente apaixonada por ele. Pelo contrário, pretendia terminar tudo, três dias atrás. Mas a ideia de magoá-lo com palavras, parecia bem mais cruel do que por minha futuras atitudes, então só deixei uma carta e tentei.

Pelo meu singelo fracasso, olhe onde estou: com ele morando aqui...

Em um breve resumo, posso dizer que minhas experiências de vida não foram lá essas coisas. Estuprada aos 9 anos e aos 18, uma baita frustração com meu emprego, meu pai faleceu e ainda tem a minha incrível probabilidade de só namorar pessoas que ferrassem com meu psicológico. Eu juro, nada disso foi proposital.

Lucas sentou ao meu lado e perguntou se eu estava feliz com a chegada dele. Mas eu só conseguia pensar no quão desesperada minha mãe estava, para tê-lo convidado a morar conosco.

Ela nunca sequer permitiu que algum namorado meu dormisse aqui e agora isto? Eu sorri para ele em sinal de concordância. Aquele peso na consciência me obrigava a tentar valorizar o esforço que todos estavam fazendo, mas eu não estava feliz, na verdade, bem longe disso...

Eu não havia tido contato com muitos de meus amigos nos meses anteriores e quando os boatos se espalharam, alguns vieram me visitar. Era bom me sentir querida, mas pra ser sincera, eu sabia que no fundo, eles só estavam ali para atualizarem suas fofocas e saber o que se passava.

Até que ela veio. Seus cabelos lisos estavam um pouco acima dos ombros, seu rosto era fino, com covinhas tímidas nos cantos da boca. Suas sobrancelhas eram grossas e sua pele morena.
Ela estava vestida com um short jeans e uma blusa listrada. Seus olhos castanhos me fitavam. Seu sorriso era sincero e me senti acolhida bem ali. Ela nunca foi de falar muito, mas eu sempre me senti bem perto dela. Era uma conexão inebriante. Ela veio até mim e me deu um abraço.

_ como pode eu morar tão perto e estar tão longe de você? Me sinto culpada por não estar contigo nos momentos ruins, mas eu tô aqui agora, tá?
_ vou ficar bem. Não se preocupe. Mas obrigada. Muito legal te ver, sabia?

E eu não estava mentindo. Conheço-a desde menina, pois ela frequenta a mesma igreja que eu frequentava. Quando eu saí, acabei me afastando de todos e ela era uma das. Parece que o tempo fez questão de mostrar o quanto ela podia ficar mais bonita.

Pra uma jovem de 18 anos, ela tinha uma beleza fora dos padrões. Chamava atenção, principalmente por ter uma beleza simples, sem muitos detalhes, mesmo assim, completamente perfeita. Foi estranho pensar nisso, mas era verdade.

Conversamos por horas, nas quais eu disparava a falar e ela somente me ouvia, prestando atenção em tudo. Manu morava do outro lado da minha rua e era inacreditável nossa falta de contato, mas ali, foi como se nunca tivéssemos deixado de nos falar.

Depois de algum tempo, Lucas chegou do serviço com uma aparência um tanto diferente. Sem boa noite, ele apenas disse que já estava tarde. Era uma indireta bem clara para ela ir e infelizmente, ela entendeu o recado. Me deu mais um abraço e foi embora.

Como era legal conversar com uma amiga. Eu não fazia isso há tempos. Me senti bem mais leve, mas meu momento de leveza foi logo substituído por uma súbita raiva que crescia dentro de mim. Lucas havia bebido e estava bem grosseiro. Fiquei chateada por ele ter sido tão mal educado.

_ Não quero você de conversa com aquela menina. Você não ouviu os boatos? Dizem que ela é lésbica. Se trazer esse tipo de gente para cá, vão achar que você é também...

Eu senti muita vontade de rebater aquele cara estúpido na minha frente, mas segurei as palavras e quis acreditar que aquele comportamento era provocado apenas pela bebida. Voltei para o meu quarto e peguei o celular. Havia uma mensagem SMS dela:

"ei, fica bem, que agora eu nunca mais desgrudo de você".

Soltei um sorriso e respondi:

"Xá cumigo, carrapatinho, boa noite"

Deitei e fiquei pensando em tudo. Será que no fim das contas, meu estado serviu para eu me reaproximar de amigos, como ela, por exemplo? Será que foi coisa do acaso ou é simplesmente os nossos destinos se cruzando?












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PUTZ! Me Apaixonei Por Uma GarotaOnde histórias criam vida. Descubra agora