APAVORADA

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Eu sabia que não seria uma conversa fácil, mas estava completamente decidida. Tentei lembrar das melhores palavras para usar, mas como conter aquela intensa raiva que havia se alojado em mim? Eu queria xinga-lo. Queria gritar com ele e dizer tudo o que estava entalado, mas para ser bem sincera, eu não o conhecia muito bem e seu comportamento, principalmente depois que ele veio morar aqui, me causava calafrios.

"Mas isso não importa!" Repetia constantemente na minha cabeça, para não permitir que o medo me impedisse de falar qualquer coisa que seja.

Ouvi barulho de chaves na porta. Sabia que era ele.  Minha mãe e meu padrasto sairam da cidade essa manhã, afim de resolver umas coisas do restaurante deles, voltariam em três dias e minha irmã estava em um congresso de faculdade, então só estávamos nós dois na casa.

Minha mãe só conseguiu ir, porque confiava nele para cuidar de mim e pensar nisso, me deu um frio na barriga. Eu sabia que existia uma possibilidade dela não apoiar minha decisão, por achar que eu não sei o que é melhor para mim, mesmo assim, eu ainda estava disposta.

_ Oi meu amor, como está? te liguei mais cedo. Porquê não atendeu? Fiquei preocupado.

Ele se aproximou de mim para um selinho e virou-se para sentar na cama e tirar os sapatos. Eu sabia que não podia perder o controle. Sempre que eu tinha crises de ansiedade, especialmente causadas por um nível elevado de estresse, meu corpo achava conveniente responder aos estímulos com sucessivos desmaios e uma dor dilacerante no peito que impedia até mesmo a minha respiração. Segundo meus psiquiatras, o nome dessa condição é "Transtorno de Somatização".

_ Eu quero que você vá embora
_ Como assim? Tá louca? acabei de chegar.
_ Quero que vá embora de vez. Quero terminar.
_ Para de brincadeira, pow. Cê tá me zoando né?
_ Eu não te amo. Até achei que poderia dar certo, mas não dá. Somos muito diferentes e você sabe bem disso. 
_ Porquê isso agora?  Eu larguei tudo pra vir para a porra dessa casa, pra você dizer isso do nada? Que foi? A dondoquinha não tá feliz?

Eu percebi seu tom se alterando, mas eu precisava manter o controle. Não por ele, por mim. Eu não queria retroceder, apesar da medicação estar me ajudando muito.

_ Eu vi as mensagens que você mandou para a Manu e sei que você foi na casa dela. Como você acha que tem o direito de decidir com quem eu falo ou não, de quem eu sou amiga ou não?

_ Então foi isso. Aquela sapatão veio fazer fofoquinha. Mas ela vai pagar bem caro por isso.
_ Você não vai fazer absolutamente nada!
_ Você pensa que pode me largar assim? Essa garota está mentindo. Está fazendo sua cabeça contra mim só pra ficar com você pra ela.

De repente ele levantou e foi em direção a porta. Eu sabia que ele estava com muita raiva.

_ Para onde você vai? Ainda estamos conversando. Ela não fez nada. Eu já queria terminar faz tempo. Só não fiz antes, porquê achei que você entenderia o recado, depois que eu me matasse.
_ Quer morrer? deixa que eu te ajudo. 

Ele virou para mim e me empurrou até a parede. Suas mãos seguiram em direção ao meu pescoço, quando ele começou a apertar com força.

_ Presta atenção aqui: sua mãe vai me entregar a administração do restaurante. Eles estão cansados. ainda mais porque a filhinha querida deles só sabe dar trabalho. Eles querem alguém de confiança para assumir lá. Finalmente vou sair daquele emprego de merda e ter um salário melhor. Mas você quer estragar tudo por causa da porra de um sapatão?

Eu estava me debatendo, o ar estava fugindo de mim. Estava em pânico e parece que aquilo era realmente o fim. Ele soltou o meu pescoço e me jogou na cama.

_PORRA, TU VAI FICAR COMIGO QUERENDO OU NÃO, ENTENDEU? AGORA QUE AS COISAS TÃO MELHORANDO CÊ VEM COM ESSA PALHAÇADA? 

_ VOCÊ ME MACHUCOU, SEU ESTÚPIDO! VOU CONTAR TUDO PRA MINHA MÃE, DUVIDO QUE ELA AINDA QUEIRA OLHAR NA SUA CARA.VOU DIRETO PRA DELEGACIA!!!

Eu já estava gritando e ele também. Aquilo parecia tão surreal para mim. Meu peito começava a dar sinais de vida. Ele veio para cima de mim, me deixando imobilizada.

_ experimenta contar alguma coisa pra alguém, qualquer coisinha que seja, pra ver como eu volto e mato aquela sapatão que você tanto ama. Quer acabar com a minha vida? Devolvo em dobro.

_ Você não teria coragem. Porquê tudo isso? Nem somos ricos para você querer o nosso dinheiro. Me deixa em paz, por favor. Vai embora numa boa...

_ Eu vim do interior, baby. Tô me virando como posso, de um empreguinho de merda atrás de outro, mas a proposta da sua mãe é bem considerável. Mas deixa eu ver se você entendeu direitinho: EU NÃO VOU PRA CARALHO NENHUM, TU NÃO VAI FALAR NADA PRA NINGUÉM E EU NÃO QUERO NEM SONHAR QUE VOCÊ AINDA ANDA FALANDO COM AQUELA MULHERZINHA!!! Faz tudo direitinho que eu prometo ser o seu marido dos sonhos. Eu te amo de verdade, não vou te deixar escapar fácil assim.

Meu peito gritava de dor. Senti tudo escurecendo e sabia o que aquilo significava. Ele conseguiu reagir bem pior do que eu imaginava e agora, medo era tudo o que eu sentia. Com aquele comportamento, era difícil não acreditar que ele teria coragem de cumprir suas ameaças...

Apaguei. 







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PUTZ! Me Apaixonei Por Uma GarotaOnde histórias criam vida. Descubra agora