UMA CHANCE

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Amar Manu foi uma das coisas mais incríveis que me aconteceu. Eu realmente não pensei que isso poderia ser algo tão difícil e agora, longe dela, tudo o que eu sinto é que, uma parte de mim foi arrancada e sem anestesia.

Talvez a minha família pense que estou sendo exagerada. Talvez eu realmente esteja. Fazia uma semana desde o escândalo e eu não consigo sequer fingir que conseguia seguir em frente. Sem qualquer notícia dela,  sem ao menos um sinal de fumaça, minha vida se tornou uma terrível e angustiante espera. Mas sendo sincera, não sei exatamente o que eu esperava, já que o nosso namoro seria algo impossível de se sustentar.

Eu não comia e mal falava com os outros. O dopping era algo que me ajudava e na maioria das vezes, eu apelava para a super dosagem, para conseguir dormir. Não saía do quarto ou fazia questão de receber ninguém. Minha mãe via aquilo como drama, visto o motivo que causara meu estado, mas Let ainda tinha sensibilidade e tentava me animar. Em vão, é claro. 

Mas eu não esperava por qualquer reação delas. Não esperava por qualquer atitude ou sequer alguma palavra de conforto. Na verdade, o que eu queria mesmo era falar com Manu e saber como ela estava. Não ter notícias alimentava todas as minhas paranoias malucas de coisas que a mãe dela  poderia ter feito.

Mais dias se passaram e eu já não aguentava mais. Minha mãe até tentou algumas conversas, mas não passavam de quase monólogos, já que eu não tinha nem ânimo para argumentar. Eu sabia que no fundo, ela estava feliz e aliviada por nós duas estarmos separadas. Na cabeça dela, era questão de tempo até eu superar.

Afogada em meus sentimentos, meu quarto era o refúgio que me libertava do mundo lá fora. O tempo seguia seu rumo apressadamente, mas para mim, era como se os ponteiros do relógio estivessem esquecido seu trabalho e tirado férias. Qualquer espaço de tempo sem ela, era uma eternidade naquele quarto. Letícia sempre tentava alguma coisa. Até que um dia ela veio e deitou ao meu lado na cama.

_ Seus olhos estão inchados. Chorando de novo?
_ Tá tudo bem. O que você quer?
_ Não consigo mais te ver assim e eu sei que a mãe sente a mesma coisa. Ainda demorei a processar tudo, mas meu Deus, você é lésbica! Mas eu não vim aqui te julgar...
_ O que você quer então?
_ Eu dei um jeito de falar com Manu...

Levantei instantaneamente.

_ Como assim? Como? O que ela disse? Como ela está?
_ Fiquei espiando para ver quando os pais dela saíam e quando aconteceu, corri lá rapidinho. Acho que ela está tão mal quanto você. Tava bem abatida...

Meus olhos se encheram de lágrimas.

_ Ela te mandou um recado.
_ O quê?
_ Disse que te ama. E que sente muito a sua falta. Mas pediu pra você ficar bem e prometeu que isso tudo vai passar.
_ Cê tá me zoando? Isso é algum planinho? Cê não tá mentindo pra mim?
_ Super sério, conversei com ela. Nat, não quero o seu mal. Tentei conversar com a mãe também, mas ela é bem cabeça formada quanto a isso. Queria tentar te ajudar, sei la... Então meio que tive uma ideia.

Nessa altura da conversa, eu já estava sentada, de frente para ela, totalmente atenta a cada palavra. Seria uma fagulha de esperança?

_ Cê sabe daquele dinheiro que papai depositava na nossa conta, para termos um socorro em caso de emergência?
_ Sim, o quê que tem?
_ Estou disposta a te dar a minha metade. Assim cê tem o suficiente para passagens e ter como se manter por um tempinho...
_ O que cê tá querendo dizer? Quer pra eu ir embora?
_ Tipo isso. Você e Manu se amam. É tão injusto o que estão fazendo com vocês. Eu tenho uma amiga que mora em outro estado e ela tem uma casa desalugada lá. Conversei sobre a possibilidade de me alugar por um tempo e ela foi super solícita. O que você acha de ir com Manu pra lá?
_ CARA, NÃO BRINCA COMIGO. SÉRIO ISSO?
_ É uma ideia, sei lá. Eu também perguntei pra Manu se ela teria coragem de fugir e como a resposta foi sim, vim falar com você. Eu só quero te ver feliz, Nat.
_ MEU DEUS!!! É CLARO QUE EU TOPO!!! cê é a melhor pessoa que existe nesse mundo inteiro! E ela disse sim? meu Deus, tô sem acreditar...
_ É maninha, ela disse... Mas agora temos que planejar os detalhes... Devo te lembrar das consequências disso tudo? Sabe o que significa pra vocês duas?
_ Sei sim, mas não me importo. Só quero ter a chance de ser feliz. De verdade, muito obrigada, Let. Eu já estava desistindo.
_ Não se preocupa, eu vou cobrar tudo no futuro, hehehe. Agora vem, cê precisa comer. E temos uma fuga para planejar...

Realmente era difícil imaginar que tal ideia havia partido de Let. Não fazia o estilo dela se envolver muito, apesar de sempre estar ao meu lado. Ver sua atitude era confirmar ainda mais a certeza de que ela era uma das pessoas que mais se importavam comigo. Corri até ela e a enchi de beijos e abraços. Uma chama se acendeu em mim e agora, eu realmente tinha algo pra me motivar. Uma chance! Era só o que precisávamos. Sendo assim, que comecem os preparativos...

PUTZ! Me Apaixonei Por Uma GarotaOnde histórias criam vida. Descubra agora