Quando ela finalmente chegou, achei que teria oportunidade para um diálogo, mas naquele estado, percebi que seria impossível conversar. Ela me empurrou para longe do portão e foi entrando na casa bruscamente, procurando por qualquer pessoa que não fosse eu. Minha irmã ouviu ela chamando e apareceu na sala, comigo logo atrás dela.
_ Cadê seus pais, menina?
_ Trabalhando. Aconteceu alguma coisa?
_peguei essazinha aqui se agarrando com minha filha no sofá. ESSA POUCA VERGONHA TAVA ACONTECENDO EM BAIXO DO MEU TETO.
_ Não é nada do que a senhora está pensando, me deixa explicar...
_CALA A BOCA, SUA COISA RUIM. EU NÃO VIM FALAR COM VOCÊ! _ Virou para a minha irmã e continuou _ Avise a sua mãe para dar um jeito nessa menina e que eu não quero nem a sombra dela na minha porta.
_ Meu Deus... Nat o que tá acontecendo? _ Leticia me olhava buscando respostas
Mas dona Adriana continuou: _ não sei o que você fez com a minha filha, mas com certeza manipulou ela. Manu nunca mais voltará a ti ver, sua aberração.
_ A senhora não tem esse direito... _ tentei dizer
_ Não tenho? NÃO TENHO?
_ Amo a sua filha...
Isso foi o suficiente para ela me dar um tapa.
_NUNCA MAIS REPITA ISSO!!!
_ Chega!!! A senhora não pode entrar aqui e agredir a minha irmã... sai daqui agora!!! _ Let a empurrava para fora
Só consegui baixar a cabeça e chorar. As lágrimas foram minha única reação. Letícia conseguiu fazê-la sair. Ainda ouvi ela gritar mais algumas coisas, o que com certeza deve ter chamado a atenção dos vizinhos. Um escândalo! Ela conseguiu fazer um escandalo capaz de alimentar as fofocas do bairro por um bom tempo.
Sentei no sofá, arrasada, chorando descontroladamente. Letícia sentou ao meu lado e me abraçou.
_Nat, o que aconteceu?
_ Ela me pegou beijando Manu... _ eu confessei, soluçando.
_ Então é verdade. Meu Deus, como assim? Você é lesbica? Caramba, Nat! Sabe como a mãe é...
_ Eu não escolhi isso, okay?! Me apaixonei por ela...
_ Puta que pariu, Natália! Vem cá...
Ela me deitou em seu colo e eu chorei tudo o que podia. Não estava mal só pelas coisas que dona Adriana me disse, mas também por projetar tudo aquilo que ela poderia ter feito com Manu. Aquela mulher tinha métodos educativos muito severos e conservadores. E já estava mais do que claro que ela nunca nos aceitaria.
_ Nat, a mãe vai ter que ficar sabendo, cê sabe... melhor a gente contar primeiro antes que ela saiba por fofoca...
_Já até imagino o que ela vai dizer... Let, eu amo muito Manu. Juro, não queria que fosse assim, mas eu a amo de um jeito que nunca amei ninguém...
_ Desculpa, mas eu não consigo entender esse sentimento aí não. Isso é super estranho pra mim, mas vou te respeitar. A mãe vai querer te matar, mas a gente conta juntas, tá?
_ tá...
_ E cê sabe que isso acabou né? Tem nem chance de vocês duas ficarem juntas...
Eu já estava com os olhos inchados e vermelhos. Não queria responder. Pensar naquilo era como se mil facas atravessassem o meu coração. Eu sentia uma forte pressão no peito, contudo, o remédio ajudara a conter uma possível crise.
Quando meus pais chegaram, eu ainda estava no sofá, com Let acariciando meus cabelos. Aquela era sem dúvidas uma cena muito incomum, já que minha irmã e eu não éramos de ter muito contato físico, o que fez minha mãe se preocupar de imediato e correr para sentar ao meu lado também.
Mãe: _ O que aconteceu?
Letícia: _ Mãe, precisamos conversar. Aconteceu uma coisa bem chata, mas a senhora precisa ter um pouco de paciência com Nat agora, que ela tá bem mal. _ E assim ela fez um breve resumo do que tinha acontecido, enquanto minha mãe ouvia calada. E eu sei que ela até tentou se manter assim, mas não teve jeito e logo ela já estava gritando comigo também...
_ Eu sabia! Eu avisei! NÃO ADIANTA BANCAR A VÍTIMA AQUI QUE VOCÊ SÓ TÁ COLHENDO AS CONSEQUÊNCIAS!!! Tanto que eu conversei, tanto que eu avisei... Tudo o que eu queria era evitar os escândalos, mas parece que tu gosta de chamar atenção NÃO É NATÁLIA? Pouca vergonha dessa. VAI DIRETO PARA O INFERNO SABIA?
E ela não queria parar por aí. Eu apenas ouvia tudo, sentada no sofá, enquanto Let e meu padrasto só olhavam para mim. Depois de uns minutos, já estava saturada de tudo o que ouvia e saí dali, me trancando no quarto. Ela e dona Adriana tinham algo em comum: ambas não se poupavam nas ofensas!
Entrei no banho e fiquei lá o máximo que pude, mas eu não podia ficar com as portas trancadas por muito tempo, então logo minha mãe já estava brigando por isso também. Cedendo ao cansaço, destranquei e fui me vestir. Escondida, busquei uma cartela de um dos meus remédios entre as minhas coisas. Queria simplesmente dormir o máximo que podia, então tomei cinco comprimidos de uma vez só, sem que minhas vigias percebessem.
Graças a Deus, o dopping me salvou aquele dia, mas como será que Manu estava e como ela estava lidando com aquilo? Eu precisava descobrir, mas como, já que estamos até de comunicação cortada?
Teria que dar um jeito.
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PUTZ! Me Apaixonei Por Uma Garota
Teen FictionNatália é uma garota de 25 anos que sofre de ansiedade e depressão, decorrente de inúmeras desilusões e frustrações na vida. Após uma tentativa de suicídio, sua vida tem uma brusca reviravolta, principalmente quando se vê envolvida em um relacioname...