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Agnes 🦋

Tínhamos chegado na casa do xamã a poucos minutos, e como de costume pegamos o vinho e duas taças, levamos pra varanda e ali ficamos, conversando e bebendo.

— Lembra do dia que você caiu no chafariz? — diz dando mais um gole no vinho.

— Não, me deu amnésia.— digo fingindo estar pensando.

— Foi muito engraçado, eu fui te ajudar e acabei te derrubando.— diz me olhando.

— Foi péssimo! Eu tive que andar pelo rio de Janeiro todo molhada !— digo seria e ele começa a rir.

— Fazia tempo que não fazíamos isso, obrigada por vim.— diz sesando o riso e me olhando.

— Eu tava com saudades.— digo envergonhada.

O mesmo sorri e me puxa da cadeira ,me abraça e passa a mão no meu cabelo, uma mania chata que ele tinha.

Retribuo o abraço e me afasto dele, olho pro ele e por alguns segundos nossos olhos se cruzam, e isso me deixou um pouco ansiosa,não sei bem o motivo. Desvio o olhar e pego minha taça de vinho, dou um gole e solto um sorriso pro xamã que faz o mesmo.

— Vamos cantar ? Saudade de ver você toca o piano.— diz se levantando e esticando a mão pra mim.

Olho pro ele e seguro sua mão, me levanto e confirmo com a cabeça. Por algum motivo que desconheço o xamã tem um piano em casa, e ele não sabe tocar nada ! Já tentei ensinar algumas vezes, mas ele é muito rígido com as mãos o que implica no aprendizado.

Me sento e me posiciono, xamã se senta ao meu lado e aperta minha cintura como de costume, só para me ver sentindo agonia.

— Para.— digo rindo.— Quer cantar o que ?— pergunto fazendo o mesmo me dar atenção.

— Sei lá, toca aquela lá pela luz dos olhos.— diz fazendo pouca questão.

Isso foi suspeito, talvez uma conhecidencia, mas a poucos segundos, acabamos de ter uma troca de olhares. Tudo nem Agnes, chega de paranoia.

Confirmo com a cabeça e me preparo, sempre gravamos quando fazemos isso, dessa vez não foi diferente. Coloquei o celular pra gravar e comecei a cantar e tocar, enquanto o xamã me acompanhava fazendo a segunda voz.

...

Terminando a música soltamos uma risada singela juntos.

— Foi? — pergunta se jogando pra trás.

— Foi.— digo e logo desligo o celular.

O xamã se ajeita e me olha, sorri bobo e me abraça, o que era comum, sempre ficávamos próximos e fazendo carinho um ao outro.

— Essa música me lembra tantas coisas!— Diz me olhando.

— Sim, me lembra muitas coisas.— digo desviando o olhar enquanto passo a mão no cabelo.

— O que te faz lembrar? — pergunta pegando no meu rosto e me virando novamente pra ele.

— Você vai achar estranho se eu falar.— digo com a voz falhada e baixa. Não queria confessar que eu tinha sentimentos além de amizade por ele, e não foi algo repentino, sempre tive, mas nossa amizade sempre prevalecia.

— Eu acho que sei, então não é estranho!— diz e engole seco.

— Será que sabe mesmo?— pergunto com a voz baixa .

Ele me olha e sorri, inclina seu rosto e beija minha bochecha. Fico supresa já que eu esperava outra coisa ,se tem uma coisa que eu aprendi é valorizar as amizades, e eu valorizo muito a minha com o xamã. Mas se  eu não tentar fazer algo pra saber o
que realmente sinto vou enlouquecer.

Surpreendo o xamã grudando nossas bocas em um selinho. O mesmo me separa e me olho nos olhos, sinto um gelo na barriga, até ele descer seus olhos pra minha boca e retribui o beijo.

Eu não sabia o que estávamos fazendo, o xamã é bem mais velho, e eu acabei de completar 18 anos. O pior era nossa amizade, como seria daqui pra frente  ? Esqueço de tudo e foco no beijo, o sabor de vinho era maravilhoso, e o beijo melhor do que sempre achei que era.

Sinto meus lábios se afastarem dos do xamã, ele me olha e eu fico sem reação. O mesmo passa a mão nos cabelos,um gesto de quando ele se sente confuso.

— Não podemos.— diz aflito.— Desculpa Agnes.— diz.

—Eu sei, minha idade e nossa amizade...— falo levanto os braços em questionamento.

— Não, você não entende ?— diz se levantando.—Eu não ligo pra sua idade,e a amizade e algo que não vai acabar.— passa a mão no rosto e se afasta ainda mais.— Olha pra mim!.

— Tô olhando xamã!

—Eu faço show, pego várias meninas por dia, eu amo a vida que levo.— sorri irônico.— eu não sou bom o suficiente, não era pra você ter se envolvido.— diz e se vira de costas.

Eu me senti uma otaria, e eu sabia que essa seria a resposta des do começo. A vida do xamã é essa! E eu não posso mudar.

Eu não queria sair por baixo, não depois de tudo aquilo que ele falou pra mim.

— Olha, só foi um beijo, não precisa se emocionar !— digo pegando minha bolsa e saindo dali.

— Agnes...— diz me seguindo.

— Não enche Jason! Tô indo pra casa.— digo saindo pelo portão.

Parabéns Agnes! Tentou salvar sua amizade e conseguiu estragar tudo em segundos...





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Te Vejo Amanhã - Xamã 🍁 ( pausada )Onde histórias criam vida. Descubra agora