"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar." (William Shakespeare)
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Na cadeira que estava sentada no fundo da sala, eu tinha uma visão completa de quantas e quais pessoas estavam sofrendo ali junto comigo. Nunca tinha feito algo passível a detenção na escola e aquela era uma das muitas experiências doidas que o interior iria me proporcionar.
Vasculhei o cômodo com os olhos. Adolescentes de todas as idades pareciam entediados em suas cadeiras, prontos para correr quando o sinal tocasse. Uma pena que ainda faltavam quase duas horas para que sentissem o doce gosto da liberdade novamente.
Eu estava tranquila, mesmo que me sentisse completamente envergonhada de fazer parte daquele grupo. Precisava controlar meus sentimentos, que aparentemente estavam enlouquecidos desde que cheguei em Bourton-on-the-Water. Não podia ser esse tipo de garota que nunca fui... Não era um problema e não queria ser. Esse seria o meu novo mantra, além do "tudo bem".
A direita do quadro branco estava Zara Ward, chefe da comissão estudantil de direitos humanos e, bem, minha orientadora na escola e na detenção. Ao lado dela, minha amiga, Mila, que também fazia parte da comissão. Tomando a frente estava a psicóloga da The Cotswold School, Silver Williams.
Naquele dia a punição era para um grupo bem especial da escola, sobre agressão. Física, verbal ou psicológica. Ouvimos uma longa palestra de Silver que eu, particularmente, julguei como interessante depois de alguns minutos. Pelo menos no meio de todo aquele bullying ainda existia alguém correndo contra a maré.
Após quarenta e cinco minutos, Silver perguntava um a um o motivo de estar ali, qual agressão havia feito e como se sentia após o acontecimento. Achava completamente constrangedor, mas os alunos pareciam estar acostumados com esse tipo de abordagem da mulher.
Antes que eu pudesse ouvir a explicação de uma menina ruiva do segundo ano, um bilhetinho foi colocado em minha mesa. No mesmo momento em que vi aquele minúsculo papel colorido meu corpo congelou. Seria ironia demais receber mais um daqueles no meio de uma palestra sobre agressão verbal e psicológica?
Peguei o papel, já respirando fundo ao abrir. Para a minha surpresa, o que estava escrito me fez ficar confusa. "Eu sou Time Amanda. Conta comigo". Olhei para o lado esquerdo e encontrei os olhos escuros de uma menina que, acredito eu, fazia algumas matérias comigo. Ela piscou, como se se culpasse pelo bilhete. Sentada à sua frente, uma menina de cabelo curtinho sorriu ao gesticular um "Eu também" sem som.
Mal tive tempo para reagir ao ouvir Silver chamar pelo meu nome.
— Amanda?
Ainda estava atônita pelo bilhete. O que aquilo significava?
Escondi o papel com as mãos, como se aquilo pudesse me dar forças. Silver ainda me olhava esquisito, não muito diferente da expressão que Zara tinha no rosto.
— Estou aqui porque dei um soco em um aluno.
A sala foi tomada por um silêncio excessivo. Silver deu alguns passos a minha direção, ficando no meio dos alunos.
Meus olhos focaram em um dos meninos mais novos, nas cadeiras da frente da sala, que tinham se virado para ouvir os meus motivos de estar ali. Seus cabelos escuros estavam marcados e grudados na cabeça, como se tivesse usado um boné por muitas horas. O que Noah estava fazendo ali? A julgar por seus olhos, entendi que ele sabia muito bem porque eu estava ali, mas também sabia que eu faria muitas perguntas no próximo celeiro.
— E como você se sente sobre isso?
Eu ia falar a verdade — Envergonhada.
A expressão de Zara tornou-se confusa por alguns segundos e aquilo me deixou ainda mais nervosa. Silver acenou com a cabeça, seu semblante extremamente calmo.
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Reasons Why: A Garota da Cidade Grande
Teen Fiction"Eu estava a caminho da minha décima terceira casa nova. No interior. Como uma garota criada na cidade grande, aquilo parecia a morte. Mas foi lá que descobri como viver de verdade. Com vontade, com diferença, com amigos. Fazendo coisas por querer...