CAPÍTULO 5 - Passados (Parte 1)

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"Amor não se conjuga no passado; ou se ama para sempre, ou nunca se amou verdadeiramente." (M. Paglia)

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Dias após a minha primeira noite no grupo secreto do celeiro (que eu esperava não ser a última, claro) eu ainda procurava rostos conhecidos pelos longos corredores e pátios da The Cotswold School. Era estranho passar pelas pessoas que compartilhei um momento naquele dia sem nem ao menos receber um cumprimento.

O segredo do grupo era real.

Quando contornava o segundo corredor claríssimo em direção a minha longa aula de Matemática II esbarrei com Noah e Riley, que riam sobre algo com mais dois meninos igualmente baixinhos. Olhei com o canto do olho para Noah, já esperando algum comentário, mas nada recebi. Marchei direto a sala já encontrando algum lugar para passar aquelas próximas horas intermináveis.

Era oficial. Eu precisava de colegas pela escola antes que ficasse maluca.

Quando o sinal tocou andei apressadamente para o pátio com as lanchonetes. Meu estômago reclamava alto sem vergonha alguma. Assim que cheguei na parte dos grandes bancos, pela primeira vez vi o menino do mercado no canto esquerdo, possivelmente pegando algo para comer e depois sumir. Daniel encontrou o meu olhar e sustentou, acompanhando meus passos. Eu entendi como um teste e desviei, olhando para o outro lado.

Mas ao adentrar a tortura de Literatura Inglesa (ironicamente) meu dia melhorou. Mila estava sentada em sua provável cadeira cativa e alguns de seus materiais rosa demais se estendiam na mesa ao lado. Eu entendi de primeira.

— Estava me esperando?

Mila assentiu com um sorriso — Claro, Amanda. Até guardei sua cadeira.

Não pude evitar sorrir — Obrigada. – e também não pude evitar uma careta — Mas precisava ser tão na frente?

Ela tentou imitar minha expressão — Você gosta de dormir em Literatura?

Dei de ombros, colocando meus livros na carteira — Sempre gosto de ter essa opção.

Daniel entrou na sala e cumprimentou metade da turma. Deu um sorriso para Mila e para mim (eu acho), e logo se sentou duas cadeiras à minha direita, já abrindo seu grande caderno e livro.

Olhei para Mila — Isso é muito estranho. Como vocês conseguem?

— Você vai se acostumar. Não é tão difícil assim.

Kyle sentou ao meu lado, me fazendo cerrar os olhos. Com toda a confusão do celeiro eu tinha me esquecido completamente do menino.

— E aí, Amanda?

Sua jaqueta de couro era de uma cor diferente — Oi, Kyle.

O menino cumprimentou Mila. Olhei com canto de olho para Daniel que ainda se mantinha focado nas anotações, mesmo sem aula nenhuma acontecendo.


As aulas passaram rápido e quando vi já estava andando/correndo em direção a nossa casa. Quando botei os pés dentro do recinto senti aquele cheiro maravilhoso que só minha mãe conseguia fazer.

Bolo de baunilha com chocolate, sua especialidade em doces.

Aquele aroma fez meu corpo quase levitar em sua direção. Mamãe estava em frente a grande ilha da nossa exagerada cozinha.

— Amanda, chegou bem na hora!

Por ter ficado em tempo integral na escola, devido a atividade extracurricular de Línguas, acabei perdendo o almoço em casa.

— Esse cheiro é o que estou pensando?

Minha mãe concordou de prontidão — Sim, seu preferido.

Reasons Why: A Garota da Cidade GrandeOnde histórias criam vida. Descubra agora