CAPÍTULO 4 - Amizades (Parte 1)

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"A amizade é, acima de tudo, certeza – é isso que distingue do amor." (Marguerite Yourcenar)

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Novamente aquele pátio lotado me intimidava.

Não esperava coisa diferente depois de toda a loucura que vivi nas últimas semanas dentro da vila de Bourton-on-the-Water e da própria perfeição surreal da The Cotswold School. Eu tinha ido de rebelde da cidade grande à excluída social por, supostamente, roubar coisas, criar mentiras e, pelo que tinha chegado aos meus ouvidos naquela manhã: vender coisas ilícitas por aí. Eu precisava entrar para o livro de recordes mundiais pelo volume de má reputação adquirida em tão pouco tempo, em um só lugar e com quatro mil habitantes.

Depois de tudo o que tinha descoberto, ser indiferente ficava cada dia mais difícil. Buscando a minha sala para a próxima aula eu via pessoas passando pelos corredores ridiculamente limpos demais, ainda sem prestar atenção na garota nova. Bom, a garota nova e cleptomaníaca, claro. Abri meu armário brilhoso, limpo e lustrado demais, e encontrei um dos mil livros que precisaria para acompanhar aquela semana. Em um cantinho tinha deixado um adesivo motivacional cafona que meu pai sempre me entregava nos inícios de mudanças. Para Cotswold ele usou "O segredo da vida não é ter tudo o que você quer, mas amar tudo que você tem". Respirei fundo olhando aquilo. Ainda conseguia ver com clareza a sua expressão quando minha mãe sentou nós dois na sala de estar e contou sobre a minha cena em prantos para que fossemos embora para Londres. Mesmo com o semblante abatido, ele tinha prometido.


Londres?

Qualquer lugar bem longe de Cotswold, pai.

Vou fazer o possível para agilizar isso.


Aquela ponta de esperança era o que me fazia estar de pé dentro daquela escola esquisita. Eu teria que aguentar tudo e todos por pouco tempo, já que meu pai nunca deixava uma promessa passar. Era uma das suas melhores qualidades.

Voltando a olhar para aquela multidão de cabelos arrumados demais às oito da manhã, eu não podia deixar de imaginar como poderia ser a minha nova vida em Londres. De volta para a cidade grande. Imaginava se as escolas seriam mais a minha cara e se as pessoas seriam mais simpáticas e menos perversas com quem acaba de chegar. Seriam as pessoas de Londres tão loucas quanto Nova Iorque? Ou tão fashionistas quanto Paris? Os pensamentos de estar novamente na cidade grande me deixavam nas nuvens. E esse sentimento de lembrança e saudade sempre me traziam boas recordações.


FLASHBACK

Já havia perdido a conta de quantos minutos estava ali, deitada em uma toalha felpuda na grama, apenas olhando as nuvens que passavam no céu. Até que um furacão em forma de pessoa senta ao meu lado, derrubando o lanche que eu tinha deixado semi acabado por ali.

Nem precisava olhar para saber quem era.

— Eu amo essa cidade!

Bree se jogou ao meu lado, me cutucando com o cotovelo esquerdo. Olhei em sua direção e seu sorriso estava mais largo do que sempre. Algo realmente bom devia ter acontecido.

George finalmente reparou em você?

Ela me cutucou novamente, ainda sorrindo — Isso seria incrível, mas não. – e revirou os olhos junto comigo — Ele ainda vai se arrepender por isso.

Fiz apoio com meus cotovelos, olhando agora a grande movimentação do parque.

O que de tão incrível aconteceu então?

Minha amiga me olhou de lado — A escola é incrível, tenho amigos incríveis, minha bolsa nova da Saint Laurent chegou...

Tive de revirar os olhos novamente — Você conseguiu, não é?

Reasons Why: A Garota da Cidade GrandeOnde histórias criam vida. Descubra agora