CAPÍTULO 20 - Lembranças (Parte 2)

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"O tempo não comprou passagem de volta. Tenho lembranças e não saudades." (Mário Lago)

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* Amanda Cavalcanti: Cadê você??


Mandei a terceira mensagem igual e voltei a encarar o teto, com o celular agarrado ao peito. Três dias inteiros sem ter retorno. Ou no privado, ou no grupo.

Mason dizia que estava tudo bem com o seu melhor amigo, mas Daniel não respondia a ninguém e isso era estranho demais.

Eu não sabia porque, mas sentia uma angústia sem igual pelo sumiço dele. Era horrível ouvir todos os boatos da vila, e mais horrível ainda era saber que provavelmente todos eram verdade. Meu coração pesava também por não ter ideia de onde ele estava, então não tinha nem como tentar ajudar com o que quer que fosse.

Eu estava prestes a tocar a campainha daquela casa.

Olhei novamente a minha última mensagem enviada. Um estalo percorreu meu corpo, o que me fez dar um pulo da cama. Procurei a primeira roupa que estava em minha frente, vestindo tudo com pressa. Catei os tênis que estavam jogados no tapete, calçando-os rapidamente. O ritmo do meu coração era tão forte que eu me sentia um pouco tonta.

Desci as escadas correndo, dando qualquer desculpa para mamãe, que estava de pé na ilha da cozinha, provavelmente preparando o jantar. Meu irmão apenas franziu o cenho, mas fez um gesto como se dissesse "eu me viro aqui, depois falamos". Saí de casa determinada, indo em direção ao outro lado da vila — e então à entrada para a estrada de terra do celeiro.

A minha mensagem tinha sido enviada, mas não entregue.

Daniel poderia estar no celeiro.

Estava tão eufórica e esperançosa que não precisava cometer novamente a loucura de "roubar" uma bicicleta em algum jardim alheio. Eu iria andando.

Sabia que era uma tentativa frustrada (porque o celular dele poderia simplesmente estar sem bateria ou desligado), mas resolvi que seria melhor me agarrar naquela ponta de esperança, mesmo que muito pequena e remota. Era melhor do que ter mais uma noite com zero retorno de Daniel.

Juntei em minha cabeça todas as peças possíveis para que eu não fosse fraca e voltasse atrás da loucura que estava fazendo. Daniel não gostava de ficar em casa e poderia acontecer igual ao dia em que o encontrei tocando violão sozinho no celeiro, em plena madrugada. Ele também não tinha recebido as minhas mensagens.

Cortei todas as mini ruas da vila, andando a passos tão rápidos que a rua principal virou quase um borrão em meus olhos. Poucos minutos depois eu já estava entrando na estrada de terra e mal iluminada do celeiro, quase colocando os pulmões para fora.

Tanto faz, nada me pararia.

Alguma coisa me dizia que eu estava indo para o lugar certo, mesmo sem ter ideia de onde seria isso. Meus passos rápidos viraram uma corrida descompassada. Meu coração batia mais forte do que nunca, meus cabelos bagunçados já grudavam em minha nuca, mas um pressentimento estranho me mantinha seguindo em frente. Eu só parei quando percebi que estava na metade do caminho e tudo ia ficando mais escuro. Respirei fundo, colocando as mãos nos joelhos. Passei uma das mãos na testa e no pescoço, em uma falha tentativa de me recuperar um pouco da corrida desengonçada.

Suspirei alto, uma vontade de gritar entalada na garganta. Mas, quando olhei para a frente, muitos metros à frente, uma sombra tomou forma.

Uma bicicleta velha e verde estava jogada no chão de terra.

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⏰ Última atualização: Aug 07, 2023 ⏰

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