"O comportamento é um espelho em que cada um vê a sua própria imagem." (Johann Goethe)
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Eu odiava primeiros dias.
Principalmente primeiros dias em lugares que, aparentemente, todos se conheciam há anos.
O caminho da nossa nova casa caipira até a escola não foi um dos piores. Por ser perto, pelo menos não precisava pegar o ônibus cafona e cinza (o subúrbio parecia ter problemas com cores) com pessoas que eu não fazia questão de socializar tão cedo. Eu não tinha nenhum plano para sobreviver àquela escola ou a todos os dias em Bourton-on-the-Water, a única coisa que me vinha à cabeça era reclamar. Com um pouco de insistência talvez a população de quatro mil caipiras resolvesse ouvir alguém sábio da cidade grande e fazer as coisas do jeito certo.
Seria um ótimo começo que tudo isso fosse demolido e apagado do mapa.
Problema resolvido.
Meus pais insistiam em fazer com que eu amasse o interior. Falavam besteiras sobre ar puro, falta de buzinas às sete horas da manhã de um dia útil e como aquilo iria rejuvenesce-los. Minha vontade era ter um pote com poluição urbana só para jogar em alguém que me enchesse o saco naquele primeiro dia de aula.
Além de toda aquela confusão de nova mudança e novas pessoas eu ainda tinha que lidar com um fato que provavelmente iria acontecer: por não fazer parte daquele ambiente, eu seria excluída. Não podia deixar que uma cidade pequena como aquela me fizesse sentir excluída. Como eu poderia ser excluída de algo assim?
Por ter chegado à cidade há apenas um dia, meus uniformes não estavam exatamente do melhor tamanho para o meu corpo, o que me fazia sentir mais deslocada ainda. Enquanto as meninas gostosas usavam a saia da menor maneira possível, eu estava me enquadrando nas saias das nerds, esquisitas e renegadas. Em nenhuma escola dos diversos países em que já tinha morado tive de usar uniformes tão clássicos e antiquados quanto aquele. Eu me sentia indo para alguma aula de poção junto com o lerdo do Longbottom (já que, de acordo com meu sábio pai, algumas gravações de Harry Potter foram feitas por toda região de Cotswolds).
O diretor da renomada The Cotswold School me olhava com atenção.
— Você já passou por muitas escolas. – e sorriu amarelo. A minha cara feia não se alterou — Mas muito boas, por sinal. Tenho ótimas recomendações.
Recomendações? Meu pai havia aprontado mais uma vez. Que tipo de pessoa que troca de escola dez vezes tem alguma boa recomendação? Não fiz nem questão de responder ao senhor grisalho sentado à minha frente.
— A senhorita tem algum interesse nas matérias extracurriculares de nossa instituição?
— Sinceramente? – ele acenou em afirmação, ainda mantendo seu sorriso moldado no rosto velho — Não. – que depois de minha pronúncia, murchou.
— Bom, nós temos muitas atividades interessantes. Teatro, Ciências, Esportes... – continuei olhando-o sem expressão alguma — Acho que a senhorita pode analisar melhor nossas opções, pois todos os alunos devem fazer atividades extras para concluir sua formação.
— Até mesmo os que provavelmente não estarão por aqui até o fim do ano letivo?
Eu não me encaixava no tipo de garota problema. Nem um pouco. E nem gostaria de ser a rebelde da cidade cinza e sem sal. Mas aquela escola e todo o ambiente rústico e imbecil de Cotswold me tiravam do sério. Toda aquela gentileza, fofura e falta de sujeiras nas ruas, tudo, completamente tudo, me irritava. E isso afetava diretamente meu humor e simpatia.
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Reasons Why: A Garota da Cidade Grande
Novela Juvenil"Eu estava a caminho da minha décima terceira casa nova. No interior. Como uma garota criada na cidade grande, aquilo parecia a morte. Mas foi lá que descobri como viver de verdade. Com vontade, com diferença, com amigos. Fazendo coisas por querer...