"Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças". (Leon C. Megginson)
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Os fones de ouvido já machucavam minhas orelhas.
Eu passava as músicas aleatórias na mesma rapidez em que a paisagem avançava pela janela. Paisagem que, ironicamente, combinava com a música enjoada que eu decidira deixar tocando. Tinha uma animação desnecessária, que já me dava dor de cabeça.
Em um ato de total rebeldia, retirei os fones sem cuidado algum, como se aquilo fosse simplesmente fazer a raiva aliviar um pouco. Eu estava cansada. Cansada de sempre passar pela mesma coisa, cansada por estar a mais de duas horas sentada em um banco traseiro desconfortável de algum carro ridículo que meu pai julgava ser ideal para a viagem.
Era isso. Eu estava simplesmente cansada. Cansada até mesmo do meu próprio drama.
Por horas, tudo não passava de borrões nas janelas, devido à velocidade em que estávamos. Em um dia normal eu estaria elogiando minha mãe pelo ponteiro do velocímetro marcar 100 km/h, mas meu humor simplesmente não permitia.
— Por que não no centro? – minha mãe ergueu as finas sobrancelhas, me encarando pelo retrovisor central, como se aquela fosse uma pergunta muito ruim para o momento — Londres parece realmente bonita. – dei de ombros, tentando deixar de lado o assunto que eu mesma comecei. Pela décima vez. Ela pareceu relaxar na direção, mantendo seu olhar na estrada. Meu pai, como sempre, no banco do carona, jogava algo irritante em seu tablet. Desde que ele descobriu essa tecnologia – e Angry Birds, ficou mais difícil conquistar a sua atenção.
A única coisa que me restava era encarar a janela embaçada. Algumas casas pareciam realmente distantes uma das outras, dando espaço para um grande destaque de verde, junto com jardins e árvores que deviam ter mais de duzentos anos. Duzentos anos no mesmo lugar. Por que aquilo soava tão interessante para mim?
A cada distrito que passávamos apenas casas e mais casas. Alguns pequenos comércios na beira da estrada principal. Nada de prédios, o que já significava um mau sinal. Algumas pessoas sempre dizem que quando começamos a ver somente mato na estrada, estamos perdidos. Minha grande amiga de Nova Iorque, Bree, diz que se não vemos prédios, estamos em um lugar pior.
O interior.
Ah, sim. Era oficial. Eu estava no interior.
Nosso destino, enfim, e infelizmente, não era a cidade cosmopolita de Londres. Muito infelizmente. Indo na contramão de tudo o que já fizemos, e de todos os outros doze lugares em que já moramos, estávamos indo diretamente para o interior. Minha mãe dizia que era bem melhor do que o subúrbio, mas eu simplesmente não conseguia ver tanta diferença entre os dois. Para mim, dava no mesmo. Tecnologia atrasada, falta de internet, casas velhas de madeiras e gente caipira.
— Eu li em um blog que o distrito de Cotswolds é o mais antigo da Inglaterra. A arquitetura é muito século X e a apenas duas horas de Londres! – meu pai comentava feliz. Ele é o mestre dos comentários aleatórios, para tudo e sobre tudo. Semana passada ele tagarelou por horas com um amigo sobre as regras do rúgbi e como este é um esporte de classe. Às vezes eu me pego pensando em como ele tem tempo para saber de tantas coisas.
— Se é tão perto assim de Londres, por que não Londres?
— Minha querida, só estamos tentando algo novo. – pude vê-lo sorrir ao conseguir derrubar três alvos com um passarinho só — Tenho certeza que você vai gostar.
Minha mãe balançava a cabeça, em afirmação — A casa é linda. – e dirigiu seu olhar para mim, pelo espelho central — Você sempre quis morar em uma casa grande.
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Reasons Why: A Garota da Cidade Grande
Novela Juvenil"Eu estava a caminho da minha décima terceira casa nova. No interior. Como uma garota criada na cidade grande, aquilo parecia a morte. Mas foi lá que descobri como viver de verdade. Com vontade, com diferença, com amigos. Fazendo coisas por querer...