Falcão 5.3

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   Todos eles sentam com Jimin no centro do cômodo, num círculo grande pra caralho, como se estivessem a ponto de performar um ritual para invocar os mortos ou algo assim.

De certa forma, Park pensa que é o que estão fazendo. Se tiverem êxito, então é uma ressurreição para quem quer que ele costumasse ser antes de apagarem suas memórias. É um novo homem que vai existir no lugar dele, sustentado ao mesmo tempo pelo passado e pelo presente, finalmente inteiro.

Shownu senta mais próximo dele, franzindo o cenho ao que encara Jimin diretamente. É desconcertante. O policial tenta não desviar o olhar, mas se sente vagamente histérico, como se uma gargalhada ganhasse vida dentro de si, cheio de uma energia nervosa.

-Sim, é um mecanismo de proteção. Usado provavelmente para manter o que está na sua cabeça fora do alcance de alguém.

-O controlador de mentes.

-É possível. Eles continuaram ativando o mecanismo, e é provavelmente por isso que você continua tendo esse sonho mesmo sem nenhum gatilho. Talvez estivessem esperando que com repetições suficientes você preferiria enfrentar o monstro, e consequentemente suas memórias, do que matar quem você ama de novo e de novo. Mas a sua resposta é condicionada também. Alguém te ensinou a sempre matar o garoto. Ou é isso, ou suas memórias são terríveis e seu subconsciente sabe como evitá-las ativamente.

Jimin dá de ombros.

-Você consegue fazer isso? Ensinar alguém a escolher uma coisa terrível ao invés da outra?

-É um programa. Você é a máquina em que ele está rodando. É possível, ok. Como eu disse, porém, é um trabalho delicado.

-Isso pode...Isso pode me afetar tanto quanto o hyung acha que pode? Se eu passar por esse bloqueio?

-Eu não sei. Algumas das suas memórias já estão vazando. Como elas são?

-A maioria delas é ok. Só, você sabe...Relâmpagos deles dois. Mas não é o suficiente para dizer.

Shownu suspira.

-Você sabe como fazê-las serem o suficiente, porém.

-Sim.

-Eu consigo levar o sonho até você de novo. Posso te ajudar a matar o monstro. Se você quiser tentar. Eu estou curioso.

Park suspira. Não é como se ele não entendesse a oposição de Yoongi a isso. Quem sabe o que exatamente está escondido por trás da parede? E se tiverem coisas terríveis, além do que Jimin suspeita? Mas Yoongi não entende. O que ele perdeu, as lembranças de Taehyung, as lembranças de Jimin, são vestígios do passado os quais ele consegue viver sem. O que quer que ele tenha tido com Taehyung foi ganhado novamente, substituindo o velho pelo novo. O que quer que tenha tido com Jimin, foi substituído por uma relação de trabalho com a qual ele pode ficar satisfeito. Não é o mesmo para Park. Dois anos e um possível assassinato é um vão muito grande para ser encoberto. É um nada muito grande para com o qual se viver. Ele sente como se existisse um buraco escancarado entre quem ele costumava ser e quem é agora. Seu corpo parece muito grande para ele, e há espaços em branco sobre si mesmo que precisa preencher.

-Eu quero tentar, também. - Jimin diz e lambe os lábios nervosamente - Eu não acho que esperar ajude. Ele só vai...Ele só vai enlouquecer mais se tiver que ficar parado observando.

O Extraordinário assente.

-Eu acho que você devia se deitar.

Os outros ficam lá também. Park normalmente ficaria autoconsciente demais com os olhares inquisidores, com o fato de estar sendo tratado como uma curiosidade, da mesma forma que aconteceu nos dias iniciais no Hospital Nacional de Seul depois de ter sido liberto da Junção. Mas há algo nessas pessoas que faz com que isso não pareça invasivo. Talvez seja a existência estranha deles, em sua maioria virtual, nesse pequeno porão embaixo de uma boate psicodélica. Talvez seja o fato de saber que eles são temporários. Ele acha que, assim como Jungkook, eles vão desaparecer depois disso. Dois policiais solitários procurando coisas que estão muito além de seus contracheques é algo considerado má sorte na Junção. Eles farão bem em nunca falar disso ou em não admitir que aconteceu. Jimin provavelmente nunca vai vê-los de novo depois disso.

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