Albatroz 8.1

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PRESENTE

A água do chuveiro cai quente sobre a pele de Jimin, embaçando o vidro. Ele estremece quando o líquido toca seus ferimentos, a pele rompida fisgando dolorosamente, mais ainda quando tenta usar o sabonete amarelo áspero do hotel para lavá-la. Pelo menos está ajudando a limpar o sangue. O líquido circula o ralo, rosado pela diluição, e ele assiste, meio hipnotizado.

Ainda não tem todas as respostas. Acha que nenhum deles tem. Taehyung ainda está sendo cauteloso e reservado. Yoongi está inconsciente, e talvez quando ele acordar será o momento em que as coisas começarão a fazer sentido. Os outros - Namjoon e Seokjin, Hoseok e Kwon - estão no esconderijo que não é mais seguro ou secreto, mas Taehyung diz que eles foram avisados. Park não tem certeza de como.

Ele pensa no mal visto através dos olhos de Jungkook, no ventríloquo escondendo-se atrás do véu do rosto de um amigo, e deseja socar a parede.

A porta do banheiro se abre. Jimin congela por um momento, e então diz:

-Entre.

Quando Taehyung entra no cubículo do chuveiro, há hesitação escrita em suas feições. Ele ainda está ensanguentado, um grande crisântemo de vermelho florescendo em sua camisa, e também um vestígio em seu rosto de por onde ele sangrou, provavelmente durante o ataque do manipulador de sangue.

-Aqui, vem cá. - o policial diz e pega a mão dele - Vem cá.

Dentro do cubículo, tudo parece pequeno. O mundo inteiro se reduziu a apenas esse pequeno quadrado, seus corpos movendo-se desajeitadamente pelo local, tendo que se entrelaçarem juntos para manterem-se de pé de forma que a água caia sobre os dois.

-Eu posso...-Kim diz, engolindo em seco, os dedos envoltos na mão de Jimin, apertando com força - Eu posso...Posso tocar você?

Park suspira.

-Sim.

Taehyung desliza um dedo pela bochecha de Jimin, descansando a mão quente em seu ombro. Ele treme mesmo sob os jatos quentes, as mãos incertas na forma como deslizam nas costas do mais velho, repousando em sua espinha, as palmas grandes e sólidas e tão gentilmente quentes. Há algo assustado e desesperado nele, algo suave e oscilante, e Park quer tanto fazer isso sumir.

Quer tanto apenas tocá-lo.

Então ele o faz.

Os dedos de Jimin são escorregadios, trabalhando nos botões da camisa de Taehyung. Ela escorrega pelos ombros e ele estremece, os olhos fechando-se, suas próprias mãos rígidas ao seu lado. O calor da pele dele parece familiar sobre as mãos de Park, macia e firme com as curvas suaves da musculatura. O cabelo de Kim gruda no pescoço com a água, o vapor tornando sua pele rosada, e ele estremece ao se beijarem, como se fosse algum tipo de benevolência boa demais para ser delegada a ele. Jimin os mantém tão juntos que poderiam ser um só, uma entidade unida. A ponta de seus dedos traçam a grossa cicatriz começando na barriga de Taehyung e indo até o coração, e então permanece lá - a pulsação, o inebriante pulsar do sangue (vivo e completo e real) tamborilando abaixo de sua pele num estranho tipo de conforto.

Tremores perpassam Taehyung a cada vez que Jimin toca a cicatriz. Mas ele não a toca porque é feia, porque é horrível e assustadora e um resquício de um passado que quase foi, mas porque é o responsável por ela.

-Não é culpa sua - Kim sussurra, lendo a mente do outro facilmente - Muito pelo contrário, fui eu, é minha-

-Não - Jimin o cala - Não. Você fez tudo exatamente como nós planejamos.

-O plano.

-Você sabe o que temos que fazer. - Park diz, apenas alto o suficiente para sobrepujar o barulho da água corrente.

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