Falcão Peregrino 11.2

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    Ao redor de Taehyung, o Espaço Profundo muda de forma rapidamente. Uma montanha se projeta repentinamente do chão, seus pés tropeçando na neve que surge. Muito, muito abaixo, ele avista um lago, de alguma forma cor de sangue. O céu acima fica de um azul vibrante, tão dolorosamente brilhante que incomoda em seus dentes.

E ainda assim a armadilha paira exatamente onde estava, uma mancha na paisagem.

Raiva - incandescente - pulsa pelo Escaravelho.

-Por que isso não se move?

-Porque eu não quero - o outro diz - E você não é nada além de uma coisa na minha cabeça.

Ele vê a própria boca se retrair num rosnado profano. Vê a própria mão se erguer em punho.

Uma chuva de flechas cai do céu. A maior parte atinge a Armadilha, sem danificá-la, mas uma atinge o ombro de Kim. Não há dor. O sangue flutua em torno de seu rosto em grandes gotas, como algo em gravidade zero. O Escaravelho ruge e puxa o chão sob seus pés.

Então, ele despenca.

É assustador - aterrorizante - ele tem medo de altura e não consegue respirar, e pensa: é claro, é claro que o Escaravelho sabe disso, porque eles são quase iguais, não são? Se conhecem. São construídos a partir da mesma mente. Então, ele cai e fica com medo e sua concentração se rompe - e por um único horripilante segundo a armadilha oscila.

Ela oscila.

Este lugar não é real, Taehyung pensa, fechando os olhos com força contra o vento, o frio e a força da gravidade - tudo que tenta mentir para que ele acredite que está realmente caindo, que realmente vai morrer. Este lugar não é real, nem este monstro.

A água do lago o leva. Como no mundo real, a água entra em seu nariz, na boca, fecha-lhe olhos. Ele engasga. O corpo fica entorpecido e ele tenta olhar para cima, para ver se a armadilha está de volta onde estava, mas não consegue se livrar desse pesadelo.

Este - o afogamento, o gelo, o corpo afundando no fundo do lago -

Foi assim que tudo começou.

Um lago gelado.

Um acidente.

Cada mísero terrível que aconteceu, tudo começou a partir daqui. De onde quase se afogou, e então foi revivido, com uma habilidade extraordinária que condenou sua família.

Alguém está gritando. Alguém está gritando, e parece a mãe dele, e ela está gritando seus nomes, os de ambos os filhos, mas o gelo -

Tudo deveria ter terminado lá, o Escaravelho sussurra em seu ouvido, e agora soa como sua mãe. Tudo isso. Imagine quão pacificamente, quão silenciosamente tudo poderia ter parado. Ninguém teria morrido. A Junção não seria um rio de sangue. Você teria morrido como uma criança brilhante, precoce e amada - não um assassino.

Não parece uma mentira completa. É maravilhoso aqui, fresco e branco. Se apenas se permitir relaxar, pode afundar no fundo do lago, desistir do controle, parar de lutar. Ficaria quieto. Tão quieto--

Alguém o agarra com força. Ele sente o corpo sendo puxado da água, mas de repente não há água, apenas pedra fria, e está num lugar diferente. Um pátio. Ajoelhado no chão enquanto uma casa ampla e moderna se espalha com cortinas de aço e cromo ao seu redor.

Ele ainda não consegue respirar. Mãos o seguram e o puxam para cima. Mal consegue levantar a cabeça. E então começa a entrar em pânico e algo segura seus braços. Se debate e algo agarra-lhe o rosto pelas mãos.

MurmurationOnde histórias criam vida. Descubra agora