Capítulo 33

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  No alto daquela colina, eu podia ver todo nosso acampamento. As mais de noventa barracas feitas de pano grosso e impermeável, feias e sem cores, se misturavam bem ao verde sem vida do Outono que juntamente do dia cinzento, não ajudavam a melhorar meu humor. Meu pai havia me levado até ali pra mais uma das suas lições, ele queria que eu visse todo seu exército, sua força e poder perante aqueles homens lá embaixo. Eu pouco prestava atenção ao que ele dizia, tudo o que via era que ele estava quase pisando no túmulo de minha mãe. Era a sua provocação, ver o quanto eu reagiria.

Ele esmagou uma das delicadas flores do campo que plantei a volta da sepultura, se deliciando ao ver o meu rosto. Tomado de raiva, o ataquei com a minha espada, desferindo um golpe direto ao seu coração. Quando meu pai facilmente defendeu, retornei a lâmina em diagonal usando o peso do meu corpo para lhe dar mais balanço. Mas eu não era forte e nem hábil, sabia disso e ficou demonstrado melhor quando com um simples movimento fui desarmado. Vi o soco que vinha em direção a minha face, não sendo rápido o suficiente pra desviar, a dor e a força empregada fizeram meus olhos escurecerem. O ardente fio da espada de meu pai fez seu caminho na minha pele quando lhe dei as costas. Grunhi, segurando o máximo para não gritar. Antes que eu pudesse me virar, ele chutou meu joelho, me fazendo cair de rosto no chão. O cheiro do meu sangue na ponta da lâmina atingiu meus sentidos quando foi posta rente ao meu pescoço. Com a outra mão meu pai segurava firme minha cabeça contra o chão.

– Acredita mesmo que vai ganhar algo assim? – Ele ria de mim. – Quem exatamente é você Kyel?

Ele me liberou, levantei devagar ainda sentindo dor.

– Me responda! Quem é você?

– Sou seu filho....

– Reposta errada.

De punição recebi mais um corte no peito. Sangue e suor se misturavam fazendo a ferida arder.

– Vamos! Responda! – Meu pai segurou meus cabelos, puxando meu rosto para o alto. - Porque eu ainda te deixo viver?

– Porque eu sou seu filho! – Gritei.

Um novo soco e fui jogado para longe, mais uma resposta errada. Por sorte caí onde minha espada estava. A peguei correndo ao ataque, antes que pudesse chegar ao alcance, meu pai atacou por cima da minha cabeça. Se não tivesse defendido, teria sido a minha morte. Pulei para sua lateral, tentando chegar até às costas dele e pegá-lo sem defesas, um movimento que ele previu, se virou e me chutou com força no peito. Caí em cima do túmulo.

Meu pai era um homem alto, os braços musculosos, a face marcada com uma cicatriz no maxilar. Seus olhos castanhos claros quase pareciam vermelhos. Não importava qual expressão ele fizesse, era sempre marcada com crueldade. Ali, em pé em cima de mim com a espada em minha garganta, não era diferente.

– Você continua sendo um merda, e ainda se diz meu filho? Se duvidar você vale menos ainda que a sua mãe.

Tentei me mover mas a espada permaneceu me segurando no lugar. Ele riu.

– Quem é você? Se não for capaz de responder isso, jamais vou te chamar de filho.

Meu pai guardou a espada e se afastou, cuidando para pisar em cada flor em seu caminho. A raiva em mim era tão grande que não conseguia suportar o quão patético eu ainda era, as lágrimas escorriam quentes pelo meu rosto. Minha mão segurava firme a terra debaixo do meu corpo. Precisava de força, de poder.

– Quem é você Kyel?

Ele gritou ao ver meu estado. Me sentei, puxando toda a minha raiva para responder.

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