Capítulo 21

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Estava parada a frente de um dos portões para o distrito mais nobre, meu coração acelerado. Eu segurava na mão esquerda o papel que Aleen havia me dado, e com a direita a mão de Hasim. O menino estava tão nervoso quanto eu, e visivelmente desconfortável nas roupas novas que eu o tinha comprado. A camisa algodão clara era sobreposta com um colete cinza de botoes feitos de madeira, a gola alta da blusa o fazia sempre a puxar para tentar aliviar o incomodo.

Meu coração estava acelerado, e eu tentava tomar coragem de passar para o outro lado. Meu jovem ajudante puxou minha mão, apontando para o outro lado da rua. Nean vinha em nosso encontro. A sua roupa dessa vez se assemelhava a um uniforme, a camisa escura com botões dourados e alinhados, um broche com duas espadas que se cruzavam dentro de um círculo de ondas. Os cabelos soltos e penteados impecavelmente. A bota negra alta ia quase aos seus joelhos e o cinto feito de um tecido vermelho e largo.

– Bendito o Universo, que me permitiu viver até esse dia para contemplar a beleza de sua figura.

Nean fez uma reverência exagerada a minha frente, com a mão direita estendida e a outra em suas costas. Coloquei a mão sobre a sua, ele levou aos lábios beijando suavemente.

– Se seu pai te visse assim, provavelmente iria me impedir de chegar perto.

Ele me olhou de cima a baixo, sorrindo. Eu tinha de admitir que as roupas de Belfim eram lindas. Eu estava usando uma blusa leve de mangas compridas branca, cuja gola era ajustada com uma fita de cetim vermelho, formando um laço delicado. A saia em um azul-escuro possuía algumas camadas de tule por baixo, a dando movimento, uma faixa de tecido da mesma cor era enrolada em minha cintura, fazendo a vez de um corpete. Nilah havia cacheado levemente meus cabelos, prendendo com um pente em formato de flor.

– Tem notícias dele?

O comandante balançou a cabeça negando. Baixei a cabeça um pouco desapontada.

– Ele só pediu que eu tomasse conta de você.

Se aproximando de mim, ainda com minha mão na sua, a apoiou em seu braço, me conduzindo pelos portões como se fosse a coisa mais natural do mundo, os dois guardas se curvaram a passagem de seu comandante. Hasim ia ao meu lado, sua mão tremia na minha. O segurei mais firme, dando um sorriso ao menino. Fiquei feliz de o trazer comigo, quem sabe, eu também conseguiria trazer Nilah. A possibilidade de dar uma nova vida aos dois irmãos que me acolheram tão gentilmente me animava.

– Eu deveria ter pena ou agradecer o beato que te deu esse papel?

O tom de Nean era tão divertido que não consegui não rir junto. Lembrar da face assustada de Aleen não ajudou também.

– Se visse o rosto dele...

As ruas depois dos portões eram largas o suficiente para que duas carruagens andassem lado a lado. Seus condutores com roupas extravagantes e coloridas, e seus animais tão enfeitados quanto os mesmos. As mulheres andavam pela rua de braços dados com seus pares, da mesma maneira que eu andava ao lado de Nean. Algumas delas davam um olhar mais demorado sobre ele. Nessas horas ele segurava minha mão mais forte.

– Ciumes princesa?

Virei o rosto em silêncio, deixando minha atenção se prender na paisagem. Os prédios, sempre brancos, abrigavam diferentes lojas de confeitarias refinadas, algumas até com mesas do lado de fora para que seus clientes pudessem aproveitar. Guardas passavam em duplas, patrulhando tanto as ruas quanto as senhoritas. Hasim estava tão maravilhado quanto eu, precisei o puxar antes que fosse atingido por uma carruagem. Andamos por uns quarenta minutos talvez, foi quando ouvi o som de águas correndo.

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