Capítulo 37

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  Fazia tempo que eu não tinha este sonho. Permaneci sentado na cama, lembrando. Reina estava encolhida, sentada nas raízes daquela grande árvore no mundo branco, a cabeça apoiada nos joelhos. Não se movia, não chorava. Apenas respirava, como se fosse a única coisa que poderia fazer. Eu a observava de longe, sem coragem de me aproximar.

Não tinha mais esse direito. Ela não era minha, nunca foi. Mereci o que ela fez, afinal fui o primeiro a omitir e querer machucar aqueles que ela amava. Talvez fosse punição do Universo ter que vê-la com outro, ou estar perto e não mais poder tocá-la. Ser capaz de perceber toda aquela raiva que ela demonstrava ao me olhar. Eu a amava, mas tinha que aceitar.

Rain rosnou.

"O que foi?"

"Patético."

"Também te amo seu lagarto ranzinza."

Ele apenas bufou.

Me levantei e me preparei para sair. Não havia tarefas para mim no dia. Cali disse que Norton diminuiu as viagens e trabalhos para que todos participassem de sua "festividade". Já eu acredito que tenha sido para se manter concentrado em Reina. Lyem havia me dito que duas vezes por dia ele descia até a masmorra, acompanhado por sua guarda pessoal e nunca permitia que outros descessem lá sem ele.

Se bem conhecia Reina, ela jamais se dobraria, ainda mais agora com seus amigos aqui. Lembrei do jeito que Eidan a tocou...

Respirei fundo, tentando esquecer aquele sentimento sufocante e abri a porta para sair.

– Passou muito tempo encarando a porta.

Eidan estava a minha espera no corredor.

– O que faz aqui?

– Vim pagar uma visita.

Olhei desconfiado.

– Isso e enrolando Faran. Consegui o convencer que o melhor jeito de te pegar desprevenido é se fazer de seu amigo.

Agora eu acreditava. Faran jamais seria capaz de pensar em algo "elaborado" assim, o ego dele não permitia que usasse a cabeça. Precisava admitir que foi uma boa jogada. Concordei com meio sorriso.

– Eu disse que ele era um tolo. – Eidan levantou os ombros.

Caminhamos lado a lado. Era estranho pensar que o que tínhamos em comum era o sangue de dragão e o afeto pela mesma mulher.

– Olhei as celas, não será fácil como você pensa, não com o Fúria do mar aqui. Vamos precisar de mais tempo.

– O que sugere? – Perguntei.

– Já sugeri.

Parei de andar e me virei para ele sem entender.

– Disse ao nosso amiguinho que desse uma ideia ao Norton, e ao mesmo tempo te desafiasse, testando a sua lealdade. Aproveite disso para ganhar tempo para nós.

Ele bateu amigavelmente nas minhas costas e desceu os degraus de entrada da torre leste. Que tipo de ideia ele deu? Ter os olhos de Norton sobre mim agora seria quase como uma sentença de morte, o que será que Eidan quer fazer?

"Eliminar a concorrência, talvez."

"E com isso matar um deles? Se sou importante como ele alega, não faria sentido Rain."

Me virei e segui em direção ao celeiro. O dia estava chuvoso, fazendo com que poucos soldados andassem por entre as caixas com os equipamentos que Atalía fabricava e os montes de minério jogados pelo pátio. O barulho da forja estava mais alto também por causa da quietude. A fumaça que saia de seus fornos era carregada rapidamente pelo vento, desaparecendo.

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