Capítulo 44

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  Me perguntava porque somente eu estava preocupado com a questão dos barris de óleo. Tanto Kyel quanto Nean estavam mais interessados em seus próprios assuntos. Nean estava cego agora que tinha o Fúria sobre seu comando, isso se realmente conseguiria exercer a função de capitão antes de terminar esfaqueado pelas costas. Kyel, preferiu não investigar, em vez disso se recolheu. Obviamente eu não deixaria assim, precisava de respostas.

Os lugares onde as explosões ocorreram estavam destruídos, os círculos mágicos que havia gravado em cada barril, tinham funcionado magnificamente, mas não era hora de me alegrar com essa pequena conquista pessoal. Mesmo sendo magia, ainda precisaria de um gatilho, o qual eu mesmo havia desenvolvido. O fato de não ter sido acionado por mim, me deixava inquieto. Como mais alguém saberia o que fazer, e mesmo que sim, por que continuar com nosso plano?

Desci a cratera, quase tropeçando nos resquícios de pedras soltas. Dava para notar alguns pedaços da madeira carbonizada que sobrou. Somente olhos que sabiam o que buscar conseguiriam ver o que tinha nela. Peguei apenas um pedaço de carvão e fiquei analisando ali mesmo. A corrosão percorreu as marcas de forma que parecessem naturalmente criadas pelo fogo. Um trabalho digno de um mestre. A pessoa que a criou era astuta o suficiente para saber como disfarçar seu trabalho.

– O que está procurando?

Me assustei por um momento, procurando a fonte daquela voz. Havia um homem agachado na borda da cratera. A barba por fazer, as olheiras profundas de cansaço, um rosto abatido, mas contrastando com sua aparência, seu olhar sagaz fazia com que eu sentisse que era capaz de ver minha alma.

– Nada....

Soltei o carvão e limpei a mão no casaco. Tentei disfarçar, olhando para várias direções. Não só uma tentativa de tirar quaisquer suspeitas, mas também de fugir de seu olhar.

– Sabe, não é muito fácil achar alguém como você hoje em dia.

"O que ele quer dizer com isso?"

De certo era uma isca para fazer com que eu falasse. Me despedi em uma reverência e tentei sair de sua presença... sem sucesso. Ele me seguiu por alguns passos. Caminhei então em direção ao galpão onde Ashen estava. Poucos eram os homens que se aproximavam de mim quando estava com os dragões. Peguei um balde com água que havia perto do dragão, e comecei a limpar seu focinho. A água ajudava a amaciar as escamas sob o metal da focinheira, assim não incomodava tanto.

– Há quanto tempo está com eles?

O homem se recostou ao lado de Ashen, sem se importar com o tamanho do animal, começando a acariciá-lo.

– Eles?

– Eles. – e apontou com a cabeça para o dragão.

***

Nós não tínhamos mais tanto tempo. Assim que a morte do Faran chegasse aos ouvidos do Norton, provavelmente eu seria repreendido. O general não era de tolerar que intrigas pessoais atrapalhassem o bom funcionamento de seu exército, mas era ainda mais implacável quando essas intrigas culminavam em mortes. Eu precisava soltar Reina e tinha de ser agora.

Saí do meu alojamento ainda afivelando o cinto da espada, pronto para buscar Nean e Aleen. Um dos mensageiros pessoais de Norton se colocou no meu caminho e não parecia que sairia.

– O mestre deseja vê-lo no terraço. Agora.

Passei a mão pelo pescoço enquanto respirava fundo, procurei qualquer um dos outros pelo pátio, encontrei Lyem e acenei com a cabeça na direção do galpão. Ele sabia o que fazer. Segui o mensageiro até a mansão. Aquelas escadas pareciam intermináveis, meus pés pareciam pesados a cada degrau acima.

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