Capítulo 17

1.3K 143 19
                                    

  O mundo estava tão calmo, não havia o som de pássaros, o vento não soprava farfalhando as folhas das árvores, mesmo assim nada disso me era estranho. Abri meus olhos vagarosamente, a claridade do dia deixava tudo embaçado e branco, um mundo abstrato. Tentei me mover.

—Shh.

Sua mão forçou minha cabeça de volta ao seu peito, enquanto com a outra apertava mais meu corpo ao seu. Levantei o rosto, Kyel ainda estava de olhos fechados, mas não dormia. Estávamos abraçados à sombra de uma árvore com a folhagem de um verde quase etéreo. Respirei fundo e o abracei, não querendo me livrar do calor do seu corpo. A sensação de estar ao seu lado preenchia meu coração de felicidade.

– Se apertar mais não vou conseguir respirar.

Sua risada rouca me fez rir junto. Levantei o corpo olhando diretamente naqueles olhos azuis.

– Senti saudades. – Sua voz não passava de um sussurro.

Ele me puxou lentamente para um beijo, tímido no início, mas logo se tornando apaixonado. Me separei dele por um momento, apenas mantendo minha testa colada a sua.

– Isso é real?

– E isso importa?

Eu não respondi. Kyel se sentou apoiando o braço ao joelho direito.

– Você me enganou, me manipulou, mas eu sei bem que o mais errado ainda sou eu... e mesmo assim, estou aqui, sonhando com você...

"Sonhando?"

– Eu só não quero acordar Rei...

Ele acariciou meu rosto, fechei meus olhos e me deixei levar pela sensação do seu toque.

"Reina?"

Tentei fingir que não ouvi a voz de Ashen, mas quando abri meus olhos, a imagem de Kyel se desfazia como poeira, desaparecendo em um mundo que escurecia lentamente.

"Rei?"

Com dificuldade abri meus olhos me encontrando no mundo real. O dia estava frio demais, mesmo que eu estivesse deitada encostada a barriga de Ashen e Jasper dormisse em cima do meu colo. Puxei a coberta até meu nariz voltando a fechar meus olhos.

"Não devia mais sonhar com ele."

"São só sonhos Ashen, não há mal nenhum nisso."

– Bom dia Alteza.

Bufei irritada, sabendo que não havia mais como voltar a dormir. Meu pai já estava a frente do fogo, o chá que ele preparava adocicava o ar com seu cheiro. Jasper se espreguiçou cambaleando ao meu lado até perto da fogueira. Eu mantinha o cobertor sobre mim, incapaz de me expor ao frio ar matinal. Peguei a caneca que Art me oferecia, me alegrando quando o líquido quente fez sua passagem me aquecendo por dentro.

Peguei uma pera, uma variedade menor e bem mais suculenta do que a comercializada em Darath, a comendo sem pressa de terminar, tudo para adiar a rotina da manhã. Precisei sair do meu aconchego para me aliviar, quando retornei, Art já vestia suas precárias luvas, as mesmas que colocava todos os dias antes dos treinos. Me aproximei de onde nossos pertences estavam, pegando as espadas de madeira.

– Não Rei, hoje tenho algo especial para você.

Ele trouxe até mim o fardo que no dia anterior havia trazido consigo. Desenrolei os panos que o cobriam, revelando a linda bainha feita de couro e metal. O cabo da espada tinha o formato do pescoço de dois dragões enrolados, onde suas cabeças se uniam para formar o pomo e suas asas abertas formavam o guarda-mão. A retirei com cuidado, sentindo seu peso. Olhei maravilhada para o meu pai.

DragõesOnde histórias criam vida. Descubra agora