Capítulo 34

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   A mansão de Norton não tinha nada demais a primeira vista, soube que antigamente costumava ter ali apenas uma prisão escavada na pedra, feita para os piores criminosos de Orynia. A construção foi feita as pressas pelos escravos. Levou dez anos para a concluir. Pelo lado de fora parecia apenas um monte de pedras organizadas. Mas por dentro... realmente parecia uma casa.

Eu não era estranho ao lugar, passei fácil pelos guardas. Muitos deles nem mesmo me olhavam, com medo. Reina foi trazida pra cá, com certeza estava nas antigas celas. O general gostava da ideia de ter seu próprio calabouço. Não poderia ir direto até ela, então antes passei na cozinha. Enchi um prato com um pouco de frango, tortas de abóbora e umas frutas secas. Comi enquanto observava ao redor. Ninguém falava nada.

"Está perdendo seu tempo."

"Talvez."

Me levantei devagar, andei pelos corredores, alguns guardas ainda passavam de um lado para o outro. Fui devagar, como quem não quisesse nada. Cheguei perto da escadaria que descia para as celas. Dois guardas. Apenas dois. Não passaria sem que me vissem e contassem pro Norton que estive aqui. Me virei tentando voltar para pensar em algum outro jeito.

– Kyel... sabia que viria aqui.

Faran caminhava em minha direção, seu sorriso petulante como sempre. Ele era mais baixo que eu. Com a pele queimada do sol, comum para os habitantes do Sul.

– Veio ver a nova aquisição do Norton não é?

– Como se você não tivesse pensado na mesma coisa. – Sorri. Talvez eu pudesse me usar dele pra entrar e ver a Rei.

– Vem comigo.

Ele passou pelos guardas e desceu as escadas, fui atrás dele. Reina não estava nas primeiras celas. Alguns escravos rebeldes estavam ali, quase já desfalecidos, provavelmente por não receberem alimentos. Ao final do corredor principal, numa cela separada das outras, estava ela. Seus pulsos permaneciam acorrentados, presos em uma corrente que a mantinha perto da parede. O chão era feito de uma pedra clara, só de estar perto eu sentia algo estranho. A sensação também vinha do teto da cela. Faran parou segurando as barras de ferro.

– Realmente uma beleza. - Ele disse lambendo os lábios.

Reina levantou os olhos em nossa direção. Seu olhar tão cheio de ódio.

– Ele teve sorte, mas duvido que consiga domar essa fera. – Arrisquei.

– Não mesmo Ladrãozinho. Essa mulher não é para isso. Vê as pedras em torno dos pulsos e do pescoço? São chamadas de Captadores. Norton comprou isso tudo só pra manter ela aqui.

– Como assim?

– Ela é uma bruxa. Uma bem poderosa.

Olhei para Reina novamente.

– É por isso que ele não quer ninguém perto dela. Eles podem cair em algum feitiço e ajudá-la.

– Então porque você está aqui?

– Porque será?

Faran gargalhou e saiu. Aquele idiota quer que eu seja enfeitiçado pra que possa me matar. Uma estratégia tão porca, mas não esperava menos dele. Reina me encarava com a mesma raiva no olhar. Quantas vezes eu tinha sonhado em vê-la de novo. De poder chegar perto dela mais uma vez. Só que não assim, não através de uma cela.

– Faz um tempo...

Eu não sabia bem o que dizer.

– Não precisa se dar ao trabalho de me perguntar se estou bem.

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