Capítulo 28

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Aquela porta devia guardar um grande segredo. Os entalhes feitos na pedra eram de uma linguagem que eu ainda não havia estudado. Os símbolos, assim como as linhas, tudo indicava um trabalho talvez mais antigo do que a própria Academia. Retirei um pequeno caderno que costumava carregar comigo sempre e comecei a anotar tudo o que via. Senhorita Reina andava de um lado a outro inspecionando a parede.

– Reconhece algo?

– Não. – Continuei as anotações. – O que acha que tem atrás da porta? Isso se for uma porta.

– Se for, o que quer que esteja lá dentro é maior que Ashen.

"Maior que um dragão adulto. Não parece animador"

Um arrepio percorreu a minha espinha, não havia criaturas maiores que dragões em nosso mundo. Por isso mesmo eram tão poucos, além que muitos morreram durante a Guerra da Ordem e do Caos, acontecidas a mais de quatrocentos e cinquenta anos atrás, que quase dizimou a metade da população desses animais e dois terços dos territórios do Norte e Oeste. Pouco se sabe sobre o que aconteceu nessa época. Uma ideia surgiu em minha mente.

– Reina, o seu dragão...quantos anos ele tem?

– Acho que perto de quatrocentos.

Era possível que ele soubesse algo sobre as batalhas e talvez até mesmo sobre essa porta.

– Pergunte se ele sabe de algo.

– Não posso...

Os dedos de Reina pararam sobre a parede, senti receio de ter falado algo que não devia.

– Todas as vezes que entro na Sae Hesry perco o contato com eles, além de sentir o coração apertado.

Isso não era algo comum. Eu não sentia nada de diferente e cresci dentro da Academia. Olhei para as minhas anotações, o motivo deveria ser esse. E se fosse algo mais antigo do que parecia, mais antigo que a própria magia? O conhecimento que detínhamos poderia não ser o suficiente para entender o que aquela caverna significava. Perceber isso me encheu de nervosismo e excitação. Um desafio, algo que deveria ser estudado a todo custo. Comecei a me ver descer regularmente até a sala e fazer diversos testes. Eu gostava de enigmas. Olhei para a porta, foi quando notei que embaixo de um dos ideogramas havia uma marca de palma escavada.

– Reina.

Apontei para o local. Era uma espécie de maçaneta, destravaria apenas para a pessoa certa. Reina parecia entender isso também, mas quando testou sua mão, nada aconteceu, além de que a palma era maior que a dela. A mão de um homem. A senhorita olhou-me com seus olhos esperançosos. Eu não criei expectativas, não deveria dar em nada. Eu não era ninguém, além de ser criado pelo meu tio, e ridicularizado por todos os outros alunos. Balancei a cabeça, por que deveria tentar?

"Mas...e se abrir?"

Era uma possibilidade. Se realmente abrisse, só o Universo saberia o que poderia acontecer. Era deveras tentador. Endireitei a coluna e coloquei a mão sobre a marca. A pedra era fria, lisa pelo lodo, eu senti um calafrio. Nada aconteceu, absolutamente nada. Era de se imaginar. Sorri sem querer realmente sorrir.

– Deve haver um encantamento, ou algo que a faça abrir. Só preciso copiar mais algumas coisas, talvez Sonnan saiba o que existe aqui. Devemos perguntar a ele quando voltarmos, trazê-lo aqui se for o caso.

Reina não acrescentava nada ao que eu comentava, seu silêncio me chamou atenção. Quando me virei para ela, sua boca estava tremendo, seus olhos imóveis, sobrancelhas unidas, nem mesmo parecia respirar. Me virei para a mesma direção... Meu erro.

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