Prólogo

934 50 4
                                    

Prólogo

_Rosalind, chame meu pai.  Agora!-gritou William, andando de um lado para o outro no corredor, os cabelos desgrenhados e a expressão contorcida com uma preocupação aterradora.

Através da porta, ele conseguia ouvir os médicos tentando desesperadamente combater mais uma das crises de sua mãe.

_Eu já o chamei, mestre William-Rosalind falou, parecendo nervosa com a explosão do patrão. 

No fundo de sua mente, ele se sentiu mão por estar esbravejando com ela, mas William não iria se desculpar agora, não quando sentia o seu mundo desabando. Não, ela teria que aguentar isso.

_Então por que ele não está aqui?-O garoto vociferou, fazendo a criada se encolher.

_E-ele disse que tinha assuntos mais urgentes- gaguejou ela, olhando para os lados.

_Mais urgentes?-William repetiu perigosamente baixo, parando de andar e encarando Rosalind-Minha mãe está morrendo e ele tem assuntos mais urgentes?

_E-eu lamento muito mestre William, foi só o que e-ele me falou.

_Saia da minha frente.

_O que?

_Saia da minha frente, agora!-Ele gritou. 

Rosalind praticamente correu para longe dele e uma pontada de culpa o atingiu, mas Will não conseguia se importar com isso agora, não conseguia se importar com nada além do fato de sua mãe naquele quarto, engasgando com o próprio sangue.

William voltou a caminhar, conseguia ouvir os médicos gritando uns com os outros. Ele queria muito entrar no quarto e ficar ao lado de sua mãe, mas já havia sido expulso duas vezes antes de finalmente trancarem a porta para impedi-lo de entrar. 

O jovem finalmente parou de andar e escorou na parede do corredor, depois de duas horas já parecia tolo permanecer de pé. Sentado em frente à porta ele abraçou os joelhos e se concentrou em todo o ódio que sentia pelo pai naquele momento.

O Conde e seu filho jamais haviam sido muito próximos, o garoto era próximo demais da mãe e o conde Davies não suportava ficar ao lado dela por mais que alguns minutos. A mulher era fraca e doente, o conde arrependeu-se de não ter percebido isso antes do casamento, assim poderia ter o evitado. Demorou mais de dez anos para que ela conseguisse engravidar, e em uma de suas crises ela perdera o bebê, mais dois longos anos até finalmente William nascer, o Conde recebeu com alívio o nascimento do herdeiro e desde então a mulher só se tornou uma bomba relógio para o mesmo, não havia mais utilidade para ela aos olhos dele.  William odiava o pai por isso, por ele nem ao menos se importar se sua esposa estava prestes a morrer.

A condessa Odélia nunca havia amado seu marido, nem ao menos nutriam qualquer tipo de amizade, mas ela queria um filho, não para dar um herdeiro para o odioso esposo, mas porque ela queria alguém para amar, alguém que se lembrasse com amor dela quando a mesma partisse. William foi mais do que ela poderia sequer sonhar, o menino era doce e amável, e enquanto o pai nem se importava com a presença do garoto, a condessa o mimava com todo o carinho possível.

_Vossa senhoria -Um dos médicos disse ao finalmente abrir a porta. William se levantou e olhou ansioso para ele- Fizemos tudo o que podíamos, mas não conseguimos salvá-la.

_Não.- William adentrou o quarto, quase derrubando o médico e olhou para a cama, os lençóis estavam manchados de sangue, sua mãe estava deitada, o corpo imóvel- Não -Ele repetiu indo até a mãe e pegando a mão dela, a pele ainda estava morna de febre, os olhos estavam abertos, embora estivessem vazios e encarassem muito além de Will -Vocês só tinham que mantê-la viva!- O garoto gritou apertando a mão de sua mãe, um dos médicos perto dele tentou afastá-lo do corpo, mas Will o empurrou para longe. Seu rosto estava molhado, mas ele não se lembrava de ter começado a chorar- Nós pagamos vocês para isso, era o único trabalho de vocês!

_A bronquite de sua mãe piorou e junto com um enfisema pulmonar os pulmões dela já estavam fracos demais. Assim quando ela contraiu uma pneumonia nas últimas semanas...Nós não pudemos fazer nada. Lamentamos muito.

_Eu não entendo. Minha mãe jamais foi fumante, não faz sentido- William olhou para sua mãe, o rosto dela estava contorcido em uma expressão de dor. O jovem não entendia as pessoas que falavam que as pessoas pareciam dormir tranquilamente quando morriam, não havia nada de tranquilo naquilo.

_Ela era uma fumante passiva, o conde Davies fumava charutos, assim como o seu avô, nós alertamos o seu pai a respeito disso, que a saúde da condessa seria posta em risco se ela continuasse a inalar a fumaça, pedimos que ele parasse de fumar, mas ele se recusou- O médico mais velho explicou.

_Ele se recusou- repetiu Will sentindo cada vez mais seu mundo ruir, ele sentia todo seu corpo tremer de ódio, como o pai dele pôde?

_Vossa Graça...

_Mamãe- O jovem sussurrou enterrando o rosto nos cabelos de sua mãe, a mão dela ainda estava tão quente, parecia tanto que ela iria acordar a qualquer instante- Mamãe, por favor.

_Vossa graça, ela se foi, não pode escutá-lo -Um dos médicos falou, mas William o ignorou. O cheiro familiar dela ainda estava ali. Por que justo ela? Ela nem ao menos conseguiu ter um casamento feliz, Will era tudo o que ela tinha e ela era tudo o que ele tinha.

_Mamãe, por favor, por favor  fique.

_Vossa graça, ela já se foi, não pode...

_Saia!-Will rosnou-Saiam todos daqui!

Com uns últimos olhares de pena os médicos se retiraram do quarto. William continuou segurando a mão de sua mãe e a chamando até que algumas criadas tentaram separá-lo dela, o jovem as expulsou aos berros, por fim elas apenas deixaram uma bandeja com o jantar na escrivaninha e não o incomodaram mais.

Em nenhum momento durante a noite o pai do garoto apareceu, as criadas avisaram sobre a morte da condessa a ele, mas o conde saiu para se encontrar com um amigo as dispensando com um gesto, apenas um ligeiro tremor em suas mãos denunciava qualquer abalo. Várias horas depois, Will finalmente largou a mão de sua mãe, enxugou as lágrimas e foi cambaleante para o seu quarto.

Naquele momento ele só teve uma certeza: faria todo o possível para tornar a vida de seu pai um inferno, o desapontaria e o irritaria de todas as formas existentes. O conde a partir daquele momento teria de tudo menos um filho que o amasse e o obedecesse.

O Diário de Sir WilliamOnde histórias criam vida. Descubra agora