O Diário de Sir William

Capítulo XXI

Idiota orgulhoso, Will pensou com tristeza enquanto tomava mais um gole do conhaque em suas mãos.

Tinha sido horrível ficar longe dela. Na primeira semana depois que ele partiu a raiva o impeliu a ficar e participar de todas as festas e bailes do lugar, como se a traição de Margaret não o houvesse afetado nem um pouco, como se ele nem se importasse. Ficou claro na segunda semana que aquele fingimento não estava nem perto de funcionar, então ele se recolheu em sua casa e bebeu qualquer bebida alcoólica que visse pela frente. Na terceira, a dor de cabeça infernal que o abateu o impediu de pisar sequer um dedo fora da cama. O tempo que ele ficou recolhido em sua cama foi doloroso, ele não conseguia deixar de pensar na garota. No quão perto estivera de ter sua própria família, de ter uma esposa que ele amava.

Na segunda feira da quarta semana William sentiu uma tristeza enorme o abater. Talvez ele pudesse voltar, talvez ele pudesse deixar que ela se explicasse, talvez o diário não valesse uma vida de infelicidades. Sua vida estava cheia de talvez. Então Will se encheu de pensar demais e recomeçou o ciclo. Festas, beber e depois a semana dolorosa em que ele pensava em tudo que havia perdido.

William estava no segunda parte desse ciclo, já terminando sua primeira garrafa de conhaque, quando ouviu uma comoção no corredor de seu apartamento alugado. Não demorou muito até que alguém praticamente arrombou a porta de seu quarto aos solavancos. 

Will se viu fitando um par de olhos verdes familiares.

_Bonjour- cumprimentou Will, erguendo a garrafa e tomando mais um gole.

_Você está bebendo?-O garoto perguntou incrédulo, ainda imóvel perto da porta.

_Milorde, sinto muito, lorde Walsh insistiu em entrar, mesmo eu tendo o alertado de que o senhor não desejava ser incomodado -o mordomo de Will se explicou, entrando no quarto ofegante.

_Tudo bem Peter, tenho a impressão de que lorde Walsh iria entrar aqui de qualquer maneira. -Will deu um sorriso desleixado, tentando ignorar seu nervosismo, por que Edward estava ali?-Margaret está bem? Aconteceu alguma coisa com ela?

_Ah, agora você se importa. -Edward abriu um sorriso irônico e se sentou na cadeira ao lado de Will, sem esperar por cordialidades. -Eu quero um gole- o garoto falou, os olhos fixos na garrafa de conhaque.

_Você tem idade para beber?-William perguntou, erguendo uma sobrancelha.

_Desde quando existe idade para beber?

_Argumento válido-Will deu de ombros e passou a garrafa para o garoto, dispensando o mordomo ainda parado ali com um gesto-O que está fazendo aqui, Edward?

O garoto fez uma careta depois de provar a bebida e devolveu a garrafa para William antes de responder:

_Vim para te dizer que você é um idiota.

_Ah é? E poderia me dizer o porquê eu sou um idiota?

_Está jogando fora a sua felicidade e a da minha irmã apenas por ser orgulhoso demais para aceitar as desculpas dela-Edward falou, levantando as pernas e as apoiando relaxadamente na escrivaninha de Will.

_Então ela te contou tudo?

_O suficiente para eu deduzir o resto.

_Eu pensei em voltar-Will admitiu, colocando a garrafa na mesa e fitando o garoto. A semelhança dele com a irmã fazia um sentimento de saudades quase doloroso brotar no peito de Will- Mas depois desisti, talvez eu seja um idiota ou um orgulhoso como você disse, ou talvez os dois, tanto faz.

_Mês passado quando você me ajudou a fugir dos meus pais eu disse que estava em dívida com você e por incrível que pareça eu honro as minhas dívidas-Edward tateou o bolso de seu casaco até achar o que procurava-Minha irmã gosta muito de você, apesar deu não entender muito bem o que ela viu em um canalha tão...-Edward continuou baixinho, mas se interrompeu quando Will o encarou com uma expressão assassina. -Acontece que com essa sua fuga idiota você está colocando a felicidade de vocês dois em risco. Fala sério, ela errou e daí? Vai dizer que eu estou na frente de um santo? Óh grande vigário William que nunca errou uma vez na vida.