Capítulo XI

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_Eu o acho intrigante, o modo como ele parece guardar um passado triste e cheio de dores dentro dele é tão...-Charlotte deixou a frase suspensa no ar e Margaret revirou os olhos, queria ter a capacidade de enxergar o mundo pelos mesmos olhos sonhadores e teatrais que Lottie.

_Enfadonho-completou Margaret travessamente e Lottie franziu a testa.

_Não seria exatamente a palavra que eu usaria.

_Com certeza não-Maggie disse-Seria algo como majestoso, glorioso, fantasioso, esplendoroso...

_Não esqueça de pecaminoso-sugeriu Lila entre risadas e Charlotte bufou.

_Por que raios eu usaria a palavra "pecaminoso"?

_Porque é melodramática- Maggie respondeu trocando um olhar de cumplicidade com Lila -Você já deve ter imaginado uma história cheia de romances e dramas dentro dessa sua cabecinha, tenho certeza.

_Aposto que poderia fazer um poema para nós sobre isso agora mesmo.- Lila falou e Margaret olhou esperançosa para Lottie. 

Um dos poemas dela com certeza traria bom humor pro resto do dia inteirinho. Em geral poderia se dizer que Charlotte possuía tanta habilidade em compor poemas quanto Harriet em tocar piano.

_Não vou fazer isso-disse Charlotte, cruzando os braços.

_Ah por favor Lottie-pediu Maggie.

_Eu gostaria de ouvir um-Lila falou no mesmo tom e Charlotte emitiu um suspiro exasperado.

_Certo-Ela fechou os olhos e ficou em silêncio por alguns instantes, as outras duas meninas esperaram ansiosas- O conde misterioso a fitava com cortesia enquanto uma paixão bem forte o consumia...

_Acho que "bem forte" é um exagero-Maggie divagou tentando segurar o riso.

_E tão logo um dos dois se angustiaria...

Lila tentou esconder seu sorriso por trás da luva que estava vestindo.

_...A menina suspiraria e então se apaixonaria...

_Por que ela não se apaixonou primeiro e suspirou depois?-Margaret interrompeu e Charlotte a fitou irritada.

_Porque o poema é meu.

_Continue, continue- Lila incentivou ao mesmo tempo que Maggie murmurava um "grossa".

_Mas o conde um segredo escondia, que ninguém jamais saberia...-Charlotte declamou com uma expressão quase cômica- Um segredo que ninguém jamais pensaria e que um dia o arruinaria, isso por certo o revelaria. Um belo dia em que a garota desejava companhia, ela foi até ele transbordando de euforia. Encontrou a casa vazia e esperou em demasia. E quando já escurecia, a menina foi embora tomada pela melancolia. Onde seu amado estaria? Mal ela sabia, que naquele mesmo dia, ele estava mergulhado em tamanha heresia, a qual seu segredo estragaria. Encontrou-o na inconsciência, deitado na rua sem um pingo de decência. E então ela tão logo descobria, bem ali na tão lamacenta via, seu amado a quem ela tratava com tanta cortesia, tinha na verdade...

Maggie e Lila a fitaram ansiosas, mas Lottie piscou em silêncio por um instante e depois deu um sorriso sereno.

_Anemia? Cefalgia? Asfixia?-Lila perguntou, aflita.

_Ele tinha o que? Qual era o segredo?-perguntou Margaret incapaz de se conter.

_Se eu contasse deixaria de ser segredo, tem que ter algum mistério. -Charlotte respondeu travessamente e Maggie bufou, Lila se limitou a apenas balançar a cabeça desapontada.

_Acabou bem na melhor parte.

_O que não significa muita coisa, considerando o poema.- Margaret brincou e Charlotte empurrou o ombro da irmã.

O Diário de Sir WilliamOnde histórias criam vida. Descubra agora