Posso Te Fazer Feliz?

1.

Daniel estava encostado em um canto do camarim, afastado de todos, uma taça cheia de espumante na mão. Seus olhos castanhos estavam presos no grupo barulhento de amigos logo adiante. Eles riam, brincavam e bebiam sem parar de suas próprias taças. Mas Daniel não tinha o que comemorar. Ele suspirou pesadamente e colocou o copo sobre uma mesinha ali próxima, antes de agarrar a alça de sua mochila e caminhar rapidamente para fora do local. Cumprimentou algumas pessoas da produção enquanto fazia seu caminho para fora do teatro e para a calçada, onde foi abraçado pela fina garoa que caía dos céus de São Paulo. Ele se encolheu dentro de sua jaqueta e apressou o passo para longe do estabelecimento. Não queria encontrar nenhum dos seus amigos naquele momento.

Sua cabeça estava em chamas e seu peito estava apertado. Quando chegou para o espetáculo daquele dia, ele jurava que seria uma noite absolutamente normal. Mas quando Elídio entrou no camarim segurando Camila pela mão e um par de garrafas de champanhe no outro braço, Daniel soube que algo ali estava errado.

{ANTES}

Elídio estava parado do lado de fora do camarim, olhando para Camila e com um grande sorriso nos lábios.

"Você está pronta?" ele perguntou para a mulher, antes de abrir a porta do camarim e entrar, entrelaçando os seus dedos com os da outra.

O show da noite já havia acabado e eles já tinham encontrado os fãs para as fotos, então todos só estavam relaxando e se preparando para sair. Quando Elídio entrou, todos os olhos se desviaram para o casal. A porta foi fechada e eles se aproximaram dos amigos, achando divertido as expressões de curiosidade nos rostos de cada um. Ele deu uma das garrafas para Camila segurar, acenou com a cabeça para ela e disse de uma vez só.

"NÓS ESTAMOS NOIVOS!"

As feições dos presentes mudaram de curiosidade para choque, e então gritos de alegria foram ouvidos. Elídio e Camila foram puxados para vários abraços apertados, onde receberam felicitações pelo noivado.

Daniel acompanhava tudo da poltrona em que estava sentado, apertando o celular com uma força desnecessária e com os olhos arregalados de susto. Sentiu um nó se formar em sua garganta e seus olhos se encheram de lágrimas, que ele se forçou a segurar. Levantou-se rápido e virou de costas para o grupo, secando os olhos discretamente.

"Ei Dani..." ele virou para ver quem o chamava e encontrou Elídio, com uma taça de espumante em sua mão que Daniel logo pegou. Elídio olhou para o rosto do amigo e seu sorriso se desfez. "Você tá bem?"

"Sim, claro. Estou ótimo." Daniel forçou um sorriso e se inclinou para abraçar rapidamente o amigo. "Parabéns pelo noivado. Você deve estar mesmo muito feliz."

"E estou." o outro respondeu, se separando do abraço. "Camila é uma moça ótima."

Antes que Daniel pudesse dizer qualquer coisa, Elídio foi puxado para longe. Daniel respirou fundo e se afastou da aglomeração, se isolando em um canto afastado.

{AGORA}

Daniel notou as lágrimas rolarem sem parar por seu rosto, causadas pelas lembranças de mais cedo. Secou rapidamente com as mãos e se recostou na parede de uma loja, tentando acalmar o coração. Pare de chorar, pensou desanimado -- você não tinha chance de qualquer jeito.

Seu celular começou a tocar em seu bolso e ele o pegou rapidamente, vendo o nome de Anderson piscando na tela. Rejeitou a ligação e fez menção de guardar o telefone, mas o amigo retornou a ligação antes que ele pudesse completar a ação. Rejeitou novamente, mas Anderson tornou a ligar quase que imediatamente. Daniel resmungou. Sabia que o amigo não iria desistir.