12.

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{POV Daniel}

Mesmo estando de férias do espetáculo, só pude ver Elídio umas duas vezes, em duas semanas. Eu havia ficado tão atarefado, que não tive tempo para convidar ele para alguma coisa. Tentava saciar a minha saudade com mensagens e ligações, mas era difícil se dar por satisfeito com aquilo quando eu finalmente tinha permissão para tocar e beijar. Sentia que estava perdendo tempo.

Havia acabado de desembarcar de um voo Rio de Janeiro — São Paulo e estava me sentindo exausto. Havia passado três dias na cidade carioca e havia trabalhado tanto que ainda sentia minha cabeça doer. Eu arrastava preguiçosamente a minha mala por entre as pessoas, tentando encontrar Elídio, que havia prometido me buscar no aeroporto.

O encontrei sentado em um dos bancos, cotovelos apoiados nas pernas, mexendo no celular. Um sorriso tomou meus lábios imediatamente após o ver e me aproximei, conseguindo atrair sua atenção. Ele sorriu como resposta e se levantou, escorregou o celular para dentro do bolso da calça e me acolheu em um abraço apertado. O envolvi com meus braços e escondi meu rosto na curva de seu pescoço, aspirando seu perfume.

"Como foi de viagem?" ele perguntou quando nos separamos e começamos a caminhar em direção a saída, ele fazendo a gentileza de levar a minha mala.

"Foi cansativa. Tive muita coisa pra fazer." eu andava bem próximo dele, tocando nossos braços propositalmente. Tentei pegar sua mão, mas ele a tirou do caminho e a enfiou no bolso do casaco. "Você pode parar em algum lugar para comer? Estou com um pouco de fome."

"Claro. Conheço um lugar ótimo perto da sua casa."

Logo chegamos ao seu carro e embarcamos, ele dirigindo para longe do aeroporto. Tagarelei o tempo todo sobre o projeto que estava trabalhando e sobre como parecia que iria ser o um dos meus melhores até então. Lico ouvia tudo atentamente, adicionando um comentário e sugestão aqui e ali (que eu prontamente anotava no meu celular para não esquecer).

Chegamos na dita lanchonete e Elídio estacionou o carro na rua lateral, então tivemos que caminhar um pouco até a entrada. Como era sábado, o lugar já estava cheio, mas conseguimos arrumar um lugar próximo a janela, de frente um para o outro. Fizemos nossos pedidos e continuamos conversando, ele dizendo que não tinha feito nada naquelas semanas além de dormir e sair para beber com os nossos amigos. Eu ri, 'que inveja', comentei descontraído.

Percebi o braço de Lico sobre a mesa enquanto ele contava uma história e não me contive na vontade de pegar sua mão. Levantei a minha própria e tentei alcançar a sua com meus dedos, mas ele se afastou rapidamente e colocou a mão sobre o colo.

Franzi minhas sobrancelhas, desconcertado, envergonhado e até um pouco ofendido. Levantei meus olhos em sua direção e percebi suas bochechas coradas. Ele não me olhava, parecendo subitamente interessado no punhado de sachês de condimentos sobre a mesa.

"Desculpa." falei a ele, mas não estando realmente arrependido. "Não vou fazer de novo."

"Perdão, Dani. É que... A gente tá em público." ele quase sussurrou a última parte. "Eu ainda estou me acostumando com a gente." crispei os lábios, mas balancei a cabeça, pegando o meu celular repousado sobre a mesa para não ter que encarar Elídio. Eu não sabia se estava exagerando por ter ficado chateado, mas aquilo não havia sido exatamente algo bacana. Eu não queria fazer nada demais, além de tentar encostar nele.

Nossos pedidos chegaram e nós comemos quase em silêncio, se não fosse pelas tentativas de Elídio de restabelecer uma conversa - as quais eu era monossilábico na resposta. Pagamos a conta e nos encaminhamos para a saída, e depois para o carro. Eu andava de cabeça baixa, chutando uma pedrinha pela calçada. Lico andava um pouco atrás. Sentia que ele queria falar alguma coisa, mas não sabia o quê. Nosso desconforto era quase palpável. 

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