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{POV Elídio}

Nossa estréia havia sido um sucesso. Duas sessões lotadas logo no primeiro dia, público animado e participativo, e nossa sintonia no palco estava no ponto. Pela primeira vez, em muitas semanas, eu estava me sentindo mais como o meu "velho eu". Eu amava meu trabalho, amava estar no palco com meus amigos e toda a energia envolvida; então era fácil esquecer um pouco os problemas da vida real e só aproveitar o que eu fazia de melhor.

Mas foi só descer do palco para ser atingido pela já conhecida melancolia causada por um coração partido. Daniel estava mais aberto a ter um contato comigo, quase como éramos antes de toda a confusão. Nós brincamos e conversamos, mas ele mantinha uma distância confortável. Mas era melhor do que nada. Pelo menos eu tinha Daniel comigo.

Estávamos já a algum tempo atendendo aos fãs que esperavam para falar conosco após o fim do espetáculo. Não havia mais nenhuma fila, então podíamos ter a liberdade de ter uma interação um pouco maior com quem havia esperado tanto. Era uma de nossas partes favoritas. Eu estava conversando animado com um casal, os últimos da fila, quando algo chamou a minha atenção.

Daniel estava um pouco afastado do resto do grupo, conversando e dando sua total atenção a um cara com quem tínhamos falado há pouco tempo. Eles falavam bem próximos, rindo e se tocando demais para o meu gosto. Senti um monstrinho crescer dentro de mim, mas me forcei a ignorar e a desviar os meus olhos. Eu não tinha o direito de sentir ciúmes agora.

"Foi um prazer. Espero os ver de novo." me despedi do casal e me aproximei de Anderson, que conversava com uma pessoa da nossa produção. Daniel ainda estava entretido em um bate-papo com o mesmo cara de antes. "Ei Andy." ele encerrou sua conversa e me seguiu até um local mais afastado. "Você sabe quem é esse cara com o Dani?"

"Hmm. Não." ele respondeu, olhando com curiosidade para a dupla. "Eles estão falando já a algum tempo."

"Não acha que é melhor o chamar? Já está tarde." tentei soar tranquilo e desinteressado, mas o olhar que Andy me lançou não deixou dúvidas de que ele não havia acreditado na minha tentativa de agir despreocupado.

"Ciúmes, é?" ele riu, balançando a cabeça e batendo no meu ombro. "Você é um idiota." o encarei indignado pela ofensa gratuita, mas ele deu os ombros sem se importar. "Vá chama-lo. Eu não me meto mais."

Tentei protestar, mas ele se afastou rapidamente em direção as portas que levavam aos bastidores. Pensei em segui-lo e deixar Daniel pra lá, mas não resisti. Me aproximei devagar e cutuquei Daniel no ombro, que se virou para me olhar.

"Sim?" perguntou, seu sorriso estremecendo quando cruzamos nossos olhares. "Aconteceu algo?"

"Não, tá tudo bem. É que já está tarde. Andy já entrou. Você não vai?"

"Eu..." ele olhou para a sua companhia e tornou a olhar pra mim. "Não, eu vou daqui a pouco. Você não tem que se preocupar mais comigo, ok?"

E voltou a falar com o outro. Eu fiquei congelado no mesmo lugar, só por alguns segundos. Aquilo havia sido inesperado. Retrocedi e tomei o caminho para os bastidores, e depois para o camarim, onde encontrei Anderson pronto pra sair.

"Ué? Cadê o Dani?" ele perguntou, confuso ao me ver entrar sozinho na sala e fechar a porta.

"Ele está 'ocupado'." respondi, fazendo aspas no ar; meu tom de voz carregado de deboche. Coloquei meu moletom e joguei minha mochila nas costas. "Ele nos superou bem rápido."

"Elídio, nem começa." Andy ralhou, me olhando severamente. "Você escolheu isso sozinho."

Dei os ombros e sai, emburrado, batendo a porta ao passar. Sai pisando forte em direção a saída, me sentindo realmente zangado. Não com Daniel, mas comigo mesmo. Eu estava perdendo a cabeça.

Posso Te Fazer Feliz?Onde histórias criam vida. Descubra agora