14.

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{POV Daniel}

Foi notável a tensão que se manifestou em Elídio após ele virar para quem o havia chamado e ver uma senhora de idade, pequenina, cabelo quase todo branco e óculos grandes demais pro seu rosto. Ela se aproximou devagar, as mãozinhas pequenas carregando uma cesta com alguns poucos produtos. Ela parou em frente à Elídio e o puxou para um abraço, seus braços magros o apertando com força.

"Quanto tempo, meu filho. Você está sumido lá do bairro." ela ralhou, o olhando severamente. "Sua mãe contou que você vai se casar com aquela moça bonita que conheci."

"Olá, dona Lúcia." ele cumprimentou, sorrindo sem graça. "Eu tenho trabalhado muito. Não tive muito tempo pra ir visitar todos."

"Mas o que é isso. Precisa arrumar tempo para ver os mais velhos." ela esticou o braço e apertou a bochecha de Elídio, que ficou logo vermelha. Eu dei uma risadinha discreta e ele me olhou feio. Apenas dei os ombros. "Mas me conte, quando será o casório? Eu vou adorar ir."

"Na verdade, não vai ter mais casório." ele contou, os olhos da idosa se arregalando sob os óculos. Ela colocou uma mão no peito e exclamou um 'oh não' bastante exagerado. Eu percebi Lico batendo o pé nervosamente contra o chão, claramente desconfortável com aquela conversa. "Pois é."

"Mas vocês eram tão bonitos juntos. Ela foi tão gentil com todos. Que pena, que pena." ela ficou resmungando baixinho, balançando a cabeça. Elídio voltou a me fitar, seus olhos mostrando a vontade desesperada de fugir daquela situação embaraçosa. "Mas o que aconteceu?"

"Não era pra ser, dona Lúcia. Nós não tinhamos nada em comum." ela estalou a língua e abanou o ar com a mão, crispando os lábios.

"Que bobagem, Elídio! Vocês não precisam ter coisas em comum pra dar certo. A gente aprende a conviver." não consegui evitar rolar meus olhos, voltando minha atenção a prateleira que olhava antes. "Eu vou rezar pra vocês se acertarem."

Elídio não respondeu aquilo, tentando mudar de assunto.

"Então tá bem, dona Lúc--"

"Quanta coisa você tá comprando. Você não mora sozinho?" virei o rosto e ela analisava com atenção os produtos dentro do carrinho que ainda estava ao lado de Elídio. Ela levantou a cabeça e me viu os encarando, então me apressei em voltar minha atenção a prateleira. "Hmm... É seu amigo?"

"Sim, ele é. Trabalhamos juntos." Elídio explicou. Eu não voltei a olhar, sentindo minhas bochechas quentes.

"Eu preciso ir. Vou dizer a sua mãe que te vi por aqui." ela falou, ignorando a resposta de Elídio. "Vou torcer por você e sua noiva. Eu tenho certeza que vocês vão voltar. Você é um bom menino."

Só voltei a me virar quando ouvi os passos dela se afastando. Elídio tinha se debruçado contra o carrinho, escondendo o rosto nas mãos que seguravam a barra de empurrar.

"Quem é ela?" perguntei, me aproximando dele e colocando minha mão na base de suas costas.

"É uma vizinha que sempre morou próximo da minha família." ele respondeu desanimado, endireitando o corpo e virando o rosto pra me olhar de volta. "Ela é a personificação de vizinha fofoqueira. Tenho certeza que ela vai espalhar que eu estava fazendo compras com meu namorado. Que desastre."

"Isso seria tão ruim assim?" questionei com cuidado, mordendo o lábio inferior, temendo um pouco a resposta que teria. Elídio pareceu pensar na minha pergunta e sorriu em seguida. Se curvou na minha direção e deixou um beijo em minha testa, balançando a cabeça negativamente.

"Eu só não gostaria que fosse a dona Lúcia a pessoa a me expor."

Eu ri, concordando com a cabeça.

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